Friday, September 01, 2006

Viagem ao incrível mundo das consultas externas em Portugal

Levantei-me bastante cedo. A viagem era a um local com uma elevada carga negativa para mim: o Hospital dos Covões. Ninguém gosta de ir ao hospital. Quando se visita um local dessa natureza é porque algo não corre bem connosco ou com alguém que nos é querido.

Já estou habituada a hospitais, consultas, tratamentos, operações... É esse o meu fado desde que nasci. Nos últimos dois anos ganhei um crescente receio das consultas externas. O medo de más notícias é enorme. Tive uma altura em que saía das consultas sem saber o que fazer à minha vida. Chegava a ir para a Baixa só para apreciar o movimento das pessoas. Podia ser uma das últimas vezes em que eu via movimento e cor numa rua. Era de arrepiar!

Felizmente que tenho recebido boas notícias! Nos últimos tempos as visitas têm sido menos frequentes. A tensão ocular tem estabilizado e isso já é bom. Como seria desta vez?

Meti-me ao caminho naquela manhã algo fria e sem Sol. Tinha sempre de apanhar dois autocarros até chegar ao meu destino. Se me despachasse cedo, ainda chegaria às aulas da parte da manhã. Facilmente iria perceber que a multidão ali era mais que muita.

A fila para inscrições já ia na rua. Ninguém se entendia. Estava tudo tão desordenado! Nem mais uma pessoa cabia na sala. Quase nem se respirava e o barulho era infernal. Assim vai Portugal! Sim, nos outros locais do País será a mesma coisa ou pior ainda. Isto que eu vou relatar podia-se ter passado em outras salas de espera de consultas externas de qualquer unidade de saúde nacional.

Já é habitual as funcionárias apelarem aos doentes para fazerem menos barulho na sala para ouvirem a chamada. Com as conversas cruzadas, muitos doentes não ouvem chamar pelo seu nome e depois andam atrás das auxiliares a perguntar o que se passa para ainda não terem sido atendidos. Naquele dia estava demais o barulho! As chamadas eram feitas aos gritos e os apelos de silêncio eram ignorados. Das primeiras vezes, as pessoas ainda baixavam o tom de voz, mas ao fim de pouco tempo já voltava a mesma confusão de vozes.

Muita gente aguardava na rua pela sua vez. Na sala reinava a confusão e as pessoas já se colavam umas às outras para caberem num espaço que até nem é muito pequeno. As auxiliares tinham um trabalho árduo. Para além de tentarem manter a ordem, ainda se tinham de deslocar num espaço quase inexistente que havia entre as pessoas.

Tive de aguardar mais de uma hora de pé pela minha vez. Foi da maneira que não adormeci! Mantendo-me acordada e atenta ao que se passava ao meu redor, vi coisas inacreditáveis. Já frequento aquele local há tantos anos e nunca me lembro de uma enchente tão grande de pessoas.

Muita gente é, normalmente, sinónimo de confusão. Toda a gente se sentia incomodada por estar ali eternamente à espera. Os nervos já fervilhavam em algumas mentes mais inquietas. Um senhor não largava as auxiliares. Exigia o livro de reclamações e por nada se acalmava. A perseguição chegava mesmo a fazer inveja às investidas feitas por qualquer agente do FBI.

Foi inacreditável a confusão ali. Adiante neste texto irei contar um episódio surrealista para se ver até que ponto chegou a desordem.

Finalmente, fui para a porta da consulta onde aguardei encostada à parede ainda a rir do que acabava de presenciar. Já vão ver...

Depois de ter sido atendida e de receber a boa notícia de que tudo estava na mesma, fui directamente para a cantina. Já passava da hora de saída. As aulas prosseguiam da parte da tarde. Aulas essas em que eu meti os pés pelas mãos numa confusão de números.

Estava a decorrer a ACIC no Estádio Cidade de Coimbra. Era por isso que não havia lá treinos e eu tinha de arranjar alternativa para manter a forma. A bicicleta era uma solução viável.

Nesse fim de tarde juntou-se um grupo para visitar o certame. Depois do meu treino, acabei também por ir com eles. Arranjaram-nos um guia que, por acaso, tinha sido também voluntário da Ginástica Acrobática.

Ainda andámos algum tempo todos juntos. Depois deixei de ver os meus colegas e segui o meu caminho. Ali é um local que eu domino bem e fiquei até ser noite escura a contemplar as mais variadas coisas e a tirar algumas fotos que apresento na mensagem seguinte deste espaço. Obviamente só coloco as cinco melhores. Elas ainda são algumas.

Ali havia de tudo. Alguns stands estavam extremamente atractivos e originais. Veículos, empresas de prestação dos mais variados serviços, lojas de móveis, restaurantes e venda de produtos naturais eram algumas das actividades ali representadas.

Percorri a feira de uma ponta à outra. Nada ficou por visitar. Achei interessante o facto de haver um telescópio apontado para o Céu onde se podia observar a Lua.

A fome apertava e antes de ir para casa ainda comprei uma sandes de chouriço para comer.

Munida de alguns brindes, cheguei a casa. O dia tinha sido longo e havia que descansar.

Situação do dia:
Era o caos, a confusão, a barafunda, o barulho desmedido...Quem estava doente mesmo ficava pior só de contactar com este tipo de ambiente. Da casa de banho das senhoras saiu uma voz exaltadíssima. Alertada pelo barulho que havia naquele local, porque entretanto outras pessoas também discutiam, uma auxiliar foi ver o que se passava. A senhora discutia daquela maneira porque, simplesmente, não havia papel higiénico na casa de banho. Sem dúvida, uma situação embaraçosa capaz de tirar a calma a um santo. O melhor foi a curiosa e inacreditável explicação da empregada para justificar a falta de papel.
-“Vocês não merecem que se tenha nada nas casas de banho! Quando até as torneiras levam para casa...”
O quê?!!!! Como?!!!! Ouvi bem?!!!! Levam as torneiras?!!! Essa é demais! Mas quem é a criatura que se dá ao trabalho de tirar as torneiras das casas de banho das consultas externas de um hospital? Eu nem sei como classificar isto. Ainda estou para saber como é que alguém, muito discretamente, tira uma torneira e a leva para casa sem dar nas vistas. Imaginei as cenas mais incríveis e só me dava vontade de rir. Já tenho ouvido muita coisa. Roubar as torneiras das casas de banho do hospital é inacreditável.

Bacorada do dia:
“Mas passa de 4 para 5!!!” (de referir que a criatura disse isto como se fosse algo anormal que se estava a passar ali e que causava grande transtorno. Em suma: como se isto fosse o fim do Mundo.)

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