Tuesday, October 05, 2010

Traduzindo isto para cães



Ver texto “Na berma da estrada”

Ao fim de duas semanas, estava novamente no conforto do lar. Na véspera a minha irmã alertou-me para o facto de todas as novidades que por lá aconteceram serem relacionadas com a numerosa comunidade de cães que por ali anda.

Desde logo colocou-me ao corrente da doença da Kuka (a bela cadela raçada de Labrador que lá apareceu). Seria este o cenário que ia encontrar quando chegasse a casa.

Cheguei a casa e encontrei a minha mãe preocupada. Enquanto dava de comer à enorme ninhada de cãezinhos, não deixava de pensar com consternação no paradeiro da Kuka. Queria-a encontrar e cuidar dela.

“Tina Padeira” informou que a cadela se encontrava deitada na terra dela e que lhe estava a estragar as suas plantações. A minha mãe foi lá ter munida de uma seringa de leite para a obrigar a beber mas não a encontrou. Era um ambiente triste, o que se vivia ali. Isso fez-me recordar das sensações do pesadelo que acima menciono. As sensações eram as mesmas. Em vez do meu primo, a minha mãe procurava uma cadela.

Passavam as horas e a cadela sem aparecer. A minha mãe começava a ficar inquieta e a pensar no facto de a cadela estar a morrer algures incapaz de se arrastar para casa.

Já era quase noite quando a minha mãe a encontrou. Após tentativas frustradas por parte da minha mãe e da minha irmã para a alimentarem, a minha mãe levou-a para o pátio. Iria telefonar ao veterinário para a vir buscar. Desta vez tinha de ser, apesar de a vontade de todos lá de casa menos da minha mãe ser a de ficar com aquele belo exemplar da raça canina.

A cadela estava mesmo mal e em casa reinava a revolta só de se pensar na eventualidade de gente mal intencionada lá da terra ter dado veneno ao pobre animal. Sempre há gente muito estúpida por aquelas bandas! Quem comete atrocidades contra os cães merece morrer lentamente também e com bastante sofrimento que é para aprender.

Entretanto a ninhada dos cãezinhos ficou sem um elemento porque um casal da minha terra conseguiu apanhar um para dar a um amigo deles. O cãozinho não era propriamente um primor de beleza mas ficou o gesto. Menos um com que a minha mãe se tinha de incomodar. Eles ainda andaram a ver se o trocavam por outro mas não conseguiram apanhar mais nenhum. Horas mais tarde, o referido casal contou que deu banho ao cãozinho e que o colocou a dormir no sofá. Mordomias a que aquela horrível criatura com uns olhos maiores que dois buracos de tijolo não estava habituado.

Já era noite quando um carro passou na estrada acompanhado pelo latir de um dos cãezinhos. O veículo atropelou-o mas ele conseguiu ir até ao local onde estavam os outros. A minha mãe procurou-o mas não o encontrou. Já estava escuro. Voltei-me a lembrar daquele pesadelo e arrepiei-me. Estava a realizar-se mas com cães.

Escrevo isto sensivelmente uma semana depois de se terem dado estes tristes acontecimentos caninos. De referir que a cadela Kuka foi abatida pelo veterinário por padecer de problemas digestivos graves. Escusado será dizer que a minha mãe chorou baba e ranho junto ao corpo inanimado da cadela. Apesar de não termos grande confiança com ela, todos nós sentimos a sua perda. Era realmente um primor de animal.

Os cãezinhos continuam por lá. Aquele que foi atropelado só ficou ligeiramente ferido numa pata e havia duas pessoas interessadas em algum deles. O problema é apanhá-los. É isso que a minha mãe vai tentar ao acarinhá-los. A minha irmã comprou alimentação para eles. Se alguém estiver interessado em algum, dirija-se a Vale de Avim! Eles têm de ser todos despachados.

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