Tuesday, October 05, 2010

Anúncio De Um Crime (impressões pessoais)



Que dizer de uma obra que apenas demorei três dias a ler e que num só dia não pude largar até o livro chegar ao fim, tal era a intensidade da história? Simplesmente que foi o livro mais emocionante que li.

Esta é uma história empolgante e deveras imprevisível. Para os que, tal como eu, gostam de adivinhar quem era o criminoso aqui dificilmente vão acertar. Fica-se mesmo de boca aberta com o desfecho deste aparentemente simples caso mas que se complicou e muito. Foi preciso a visão de lince de Miss Marple para desvendar esta história.

Tudo começou com a publicação num jornal local de um anúncio bizarro…de um crime com hora, data e local muito específicos. Tudo se preparou para algo que não sabiam muito bem o que era e os vizinhos (personagens extremamente tipificadas pela autora) apareceram todos. À hora prevista, as luzes apagaram-se e um desconhecido entrou pela porta da entrada ameaçando os presentes. Ouvem-se tiros e quando a luz volta o assaltante é encontrado morto com o revolver ao lado. A princípio tratou-se de um acidente. O assaltante disparara acidentalmente sobre si próprio depois de ter ferido de raspão a dona da casa.

O processo esteve para ser arquivado. Tratava-se de uma brincadeira, de um gesto desesperado de alguém que o cometeu por um qualquer motivo e que se terá suicidado ou disparado acidentalmente sobre si próprio. Mas as coisas complicaram-se. Vejam lá as voltas que isto deu!

Dora, uma amiga de Letitia, que vivia lá em casa insistia no facto de alguém querer matar a amiga. A Polícia não via motivos e Miss Marple foi chamada a entrar em cena.

A vida de Letitia foi virada do avesso e descobriu-se que ela era herdeira de uma considerável fortuna que o seu patrão lhe legou se acaso a mulher deste morresse primeiro do que ela. Refira-se que a mulher do patrão era uma senhora muito débil em termos de saúde. A irmã de Randall- o patrão- casara com um indivíduo que não era do agrado de Randall e por isso nada lhe deixou em testamento. Mais tarde Sónia teve gémeos e seriam agora esses gémeos que perseguiam Letitia.

Foi a partir daí que eu desconfiei de Philippa como presumível criminosa. O seu comportamento era estranho.

A Polícia começou a desconfiar que os sobrinhos de Letitia (Patrck e Julia) seriam os filhos de Sónia. Tinham a mesma idade e a tia não os tinha visto antes. Depois da Segunda Guerra Mundial houve gente que trocou de identidade e assumiu presumivelmente a identidade de quem já morreu. Adiante…nunca desconfiei de Júlia.

Algum dos vizinhos que estavam presentes poderia ser Sónia ou mesmo o seu marido. Aí eu desconfiei do coronel. Também ao lado. Das vizinhas alcoviteiras que formavam uma dupla divertida nunca desconfiei. Quando essas duas personagens apareciam em cena, lembrava-me das cenas quotidianas da mina aldeia. Estavam demais, essas mulheres rudes do campo.

Continuava um imbróglio enorme em redor deste caso e não era para menos. Era um dado adquirido que os inimigos de Letitia vinham matá-la por causa da herança. Enquanto o delegado da Polícia encarregue de investigar o caso se deslocava à Escócia para entrevistar a moribunda mulher de Randall que lhe pediu que protegesse Letitia, Dora apareceu morta no quarto depois da sua grandiosa festa de aniversário e de, alegadamente ter tomado uma aspirina que Letitia lhe emprestou. Acentuou-se ainda mais a ideia de que Letitia seria o alvo a abater. Sónia e os seus familiares eram os presumíveis perseguidores.

Após receber uma carta de…Júlia, Letitia descobre que a jovem que se diz irmã de Patrick não o é. Para se complicar as coisas e para nos despistar aquela que se fazia passar por Júlia era na verdade Emma- filha de Sónia. Pressionada, a jovem afirmava estar inocente e do irmão ou irmã nada sabia, pois tinham sido separados. Ela ficara com o pai e o outro irmão ficara com a mãe. Dele ou dela Emma nada lembrava.

Um episódio alegadamente sem importância acabaria por resolver a história. Letitia usava sempre um colar de pérolas falsas ao pescoço. Quando o colar se partiu, o delegado de polícia ficou bastante intrigado. Sendo as pérolas falsas, para quê tanta aflição? Foi Miss Marple quem desvendou o mistério.

Letitia e Charlotte eram duas irmãs muito parecidas fisicamente mas muito diferentes na maneira de ser. Dora andou com ambas na escola e conhecia-as bem. Charlotte adoeceu com bócio e desde então fechou-se em casa, só tendo notícias do mundo exterior através da irmã que lhe escrevia cartas pormenorizadas sobre o que se passava.

Havia uma esperança de Charlotte ficar curada e a solução estava numa clínica na Suiça. Charlotte foi operada e ficou bem. Letitia morreu de morte natural com uma pneumonia e Charlotte inconscientemente assumiu a identidade da irmã. O objectivo de Charlotte , agora com a identidade de Letitia era ser recompensada por todo o sofrimento recebendo a herança de Randall. Regressou a Inglaterra e ninguém desconfiava que as irmãs andavam trocadas. Para disfarçar a cicatriz da cirurgia, Charlotte usava aquele colar de pérolas que ao partir a deixou aterrada de aflição.

Ninguém desconfiava portanto que houve troca de identidades , até que o jovem suíço Rudi a reconheceu no hotel onde ele passou a trabalhar depois de ter sido um ajudante da clínica onde Charlotte foi tratada. Havia que fazer alguma coisa e daí veio um plano completamente malicioso para acabar com a vida do jovem. Charlote sugeriu-lhe que publicasse aquele anúncio, pois iria ser uma brincadeira. Agradado e sem ao menos sonhar o que se ia passar, Rudi alinhou e foi morto…por Charlotte. Uma das vizinhas alcoviteiras chegou a essa conclusão. Charlotte ouviu e estrangulou-a com um cachecol que esta estava a apanhar de um estendal para não se molhar com a chuva. Fingindo ser alvejada por Rudo, Charlotte fez um corte junto à orelha, numa zona que ela sabia que sangrava imenso.

Livrando-se de Rudi, Charlotte começou a aperceber-se que a inofensiva Dora também era um perigo para ela por inconscientemente ou talvez não lhe confundir o nome. Ao eliminá-la, reforçou também a ideia de alguém perseguir Letitia.

Depois do assassinato da vizinha, eis que se encontra toda a gente reunida na casa daquela que todos pensavam ser Letitia. A sua empregada- uma rapariga com medo de tudo e com a mania das perseguições fingiu desta vez estar com medo e retirou-se. Ninguém ligou mas a rapariga estava a ajudar os investigadores a desmascarar a dona da casa.

Quando os investigadores chegaram, a rapariga desceu e foi para a cozinha. A Polícia começou por fazer o seu espectáculo. Já que se desconfiava dos gémeos Pip e Emma, e que Emma era Júlia, a Polícia apontou um jovem vizinho- Edmundo- como sendo Pip. Philippa veio a terreiro surpreender tudo e todos ao afirmar que Pip (diminutivo de Philippa) era ela. Mesmo assim a Polícia apontava Edmundo como culpado por estes crimes. Ao estar apaixonado por Philippa, quereria casar com uma mulher rica e por isso cometia estes crimes para ficar com a herança.

A empregada de Letitia/Charlotte que era refugiada e tinha medo que a matassem começou a gritar da cozinha que tinha ouvido barulho. Era um polícia escondido lá atrás. A rapariga afirmou que a queriam matar e que tinha visto quem entrou pela porta. Charlotte tentou matar a sua empregada ao encher ainda mais o lava-loiça de água e tentando afogar a cabeça da rapariga lá dentro. Também escondida, e aproveitando o notável talento para imitar vozes, Miss Marple imitou a voz de Dora. Cheia de medo, Charlotte largou de imediato a rapariga e assim foi desmascarada.

Resumindo: este foi talvez o melhor livro que li até hoje.

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