Saturday, October 23, 2010

O dérbi dos tesos

Por noventa minutos se esqueceram os défices, as dívidas externas, as agências de rating, a concertação social, o apertar do cinto, as greves e tudo mais…ou então não.

Este é o verdadeiro jogo mesmo entre dois países que vivem momentos conturbados em termos sociais. É a crise! Resta saber se na Islândia também há submarinos que têm de ser pagos a todo o custo, nem que os cidadãos não comam, trabalhem cada vez mais e ganhem cada vez menos. Se ali não há submarinos, haverá outra coisa qualquer. Não interessa! Eles que se entendam.

Não admira que os islandeses começassem logo no início do jogo a vaiar aquele português a quem a crise não bate á porta- Cristiano Ronaldo. Ouviram dizer que ele acabava de esbanjar perto de duzentos e cinquenta mil euros numa bomba para a garagem e ficaram roídos de inveja. Eles que correm o risco de chegar um dia a suas casas e não poderem lá entrar mais porque elas foram penhoradas. Enquanto Cristiano Ronaldo presenteia a namorada com artigos de luxo, qualquer islandês terá de vender o que tem e não tem para poder comer e sustentar a família. Nunca pensei que em pleno Norte da Europa houvesse um país assim. Eu pensava que a crise era só para os povos da Europa Latina e afinal eles estão piores que nós. Deus nos livre de chegamos a esse ponto mas para lá caminhamos. Pelo menos as greves e as manifestações já se fazem anunciar.

Mas…isto não era para falar da Selecção? Ah pois era mas…onde é que eu ia mesmo? Cristiano Ronaldo era assobiado…assobiado não que, pelos vistos, eles nem assobiar sabem. Ou então assobiaram tanto ao longo de todo o dia nas manifestações e agora não tinham fôlego. De dia é um modo de dizer. Agora para aquelas paragens deve anoitecer por volta das quatro da tarde, digo eu.

Foi logo aos três minutos de jogo que Cristiano Ronaldo fez os islandeses calarem as matracas e marcou um belo golo de livre.

É impressão minha, ou eu nunca vi uma defesa tão parada? Parece que estão todos a dormir. Esperam que a bola lá chegue e mais nada. Que degredo!

Falemos agora de um pormenor curioso: parece que os bancos de suplentes não estão junto ao relvado. Ainda há a pista de Atletismo a separar. Nunca se viu! Só de megafone é que os treinadores ali se poderão ouvir. Ou então o público vai ao Futebol e comporta-se como se estivesse na ópera, sem fazer barulho nenhum. Outras gentes, outros costumes. Paulo Bento teve de berrar, portanto. Nada de tranquilidade no banco.

O melhor jogador da Islândia era o Número Onze que marcou mesmo o golo que na altura deu o empate aos islandeses que ficaram felizes da vida. Portugal é que tremeu um bocado.

Este jogador não me é estranho. Lembro-me dele a jogar contra alguma equipa portuguesa há uns tempos. Vou mais longe, lembro-me que esse jogador também estava a jogar muito bem nesse jogo e alguém o lesionou. Lembro-me de ele ter saído lesionado. Aqui no burgo, sempre que alguém está a incomodar muito, leva logo uma sarrafada, que é para andar na linha. Não é Faouzi? Por acaso não me lembro de ter sido contra o Porto que ele jogou. Com um bocado de esforço até sou capaz de afirmar que o jogo foi contra uma colectividade portuguesa que vestia de vermelho. A equipa dele alinhava toda de branco.

Mal eu acabava de pensar nestas coisas e já Pepe tentava a sua sorte em matéria de colocar o Jogador Número Onze da Islândia no estaleiro. Ele que afinal joga no Queens Park Rangers e antes jogou na Noruega. Mas em que fase da vida dele é que ele se cruzou com equipas portuguesas? Eu tenho a certeza absoluta de isso ter acontecido e de o terem lesionado por ele estar a dar imenso trabalho.

Na televisão já falavam do muito frio que está. Quando o resultado é negativo, nós somos peritos em arranjar desculpas. Daqui um bocado é a relva que não está ao gosto de Cristiano Ronaldo. Ah e os jogadores que não ouvem o treinador porque os bancos estão para lá da pista de Atletismo, já me esquecia.

Teve de ser o nosso Meireles de longe a marcar um golo que veio acabar com toda aquela choradeira. A Islândia já estava a incomodar imenso, principalmente o elemento que se sabe. Era ele e mais dez. Uma equipa em que estivesse ele e o Faouzi do Guimarães a jogar seria o terror para os adversários. Muitas vezes iriam acabar os jogos em inferioridade numérica devido aos cartões arrancados por faltas sobre estes jogadores. São mesmo chatinhos os dois. Por um lado não gostaria de ver mais estragos causados por ele mas por outro é mal empregado ele se lesionar. Além de ser bem giro, também é um excelente jogador, o que é raro para aqueles lados.

Os comentadores da RTP já comparavam este jogo com o que Portugal realizou em Guimarães com Chipre. Pelo menos o equipamento dos islandeses é igual ao dos cipriotas. Só que há um pequeno pormenor: quando Deus distribuiu a beleza pelos povos, os islandeses estavam nas filas da frente e os cipriotas na de trás. O Konstantinou então faltou à chamada. Esse perigoso avançado cipriota faz lembrar um pouco este avançado aqui, mas as semelhanças ficam apenas no facto de um e outro serem extremamente difíceis de marcar. As semelhanças ficam por aí.

O Jogador Número Vinte da Islândia comete uma violenta entrada sobre Cristiano Ronaldo e vê cartão amarelo. Ele que se deve roer de inveja pelo facto de o madeirense comprar um carro topo de gama e ele andar a contar os trocos para pôr gasolina no dele. Só inveja!

Por falar em crise, um apontamento curioso teve a ver com o facto de os manifestantes terem levado os cartazes com palavras de ordem para dentro do estádio. Faltava era pedirem uns trocos ao milionário Cristiano Ronaldo. Aqui jamais se deixariam entrar desse tipo de tarjas nos recintos desportivos. Enfim…a Polícia se calhar também vê a vida a andar para trás naquelas paragens.

Na Islândia ia entrar um avançado que, esse sim, já marcou dois golos ao Sporting e eliminou a equipa de Alvalade das competições europeias. Não estava a confundir com o outro. Essa eliminatória foi muito falada pelo facto de os suecos terem insinuado que os jogadores portugueses se dopavam. Isto aconteceu porque foi encontrada uma seringa no quarto de Beto e Anderson Polga. As coisas que eu me lembro! E eu que já nem sei o que fiz hoje de manhã….

Pára tudo! Apresento-vos o artista- mor deste jogo. Agora vou cascar noutro. Vai ficar com as orelhas a arder de tanto eu falar nele. É para combater o frio, até lhe faço um favor. Se aquele é o guarda-redes melhor que há na Islândia, como serão os outros? Ele tem uma coisa boa, é podre de giro. No outro dia sonhei com um jogo de Futebol em que olhava para um jogador (era jogador de campo) bastante lourinho, tal como este é. Quando olhei para ele logo me lembrei. Como um homem não pode ter só qualidades, este artista que ainda joga no campeonato da terrinha, num clube com um nome impronunciável mas que é conhecido por PH, é um guarda-redes dos mais fragueiros que já vi. Para começar, ele não suporta nem que lhe toquem. São os adversários a aproximar-se dele e ele a recuar. Nunca vi. Provavelmente algum dia apanhou um susto valente com qualquer lance em que chocou com alguém. Eu não sou psicanalista.

Postiga fez um remate fraquíssimo que até eu defendia mas ele começou a recuar. Para além de ter medo dos adversários e dos colegas de equipa dentro da área, também tem medo da própria bola. É incrível! Porque é que ele não se dedicou ao Atletismo, já que é um desporto sem contacto físico? Realmente com a exibição que fez, se eu fosse o treinador dele, punha-o no final do jogo a dar trinta e cinco voltas àquela famigerada pista.

E foi graças a este artista que Portugal marcou mais um golo. Foi ele que ofereceu o golo a Postiga que lhe tinha feito um passe muito devagarinho alguns segundos atrás.

Isto já vai longo, eu sei. Provavelmente esta será a crónica de Futebol mais longa do Mundo. Acabemos pois rapidamente com isto antes que adormeçam.

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