Tuesday, September 14, 2021

É uma desgraça…Aí Jazzus…COITADINHA!

 

Confesso que nunca apreciei muito estar longo tempo na paragem á espera de autocarro. Não tenho paciência. Infelizmente agora não tenho a autonomia necessária para percorrer a cidade inteira a pé como fazia antigamente.

 

Lá tenho de esperar o autocarro. Que remédio!

 

Para além da falta de paciência para esperar o autocarro, também me ferve o sangue com aquilo a que chamo as tertúlias da desgraça. São pessoas, normalmente acima dos setenta anos, quase sempre mulheres, que se sentam nos bancos da paragem a debulhar desgraças da sua vida e, mais frequentemente, da vida alheia. Por vezes, nem sei se esperam algum autocarro mas neste episódio específico, dei graças a Deus de não ter ido no 19. É que a conferência de infortúnios ameaçava estender-se lá dentro. Pobre motorista, o dos autocarros urbanos! Deve chegar a noite com a cabeça feita em água. Deve estar ainda mais deprimido ao ouvir tanta desgraça do que aqueles no Lorvão fortemente medicados.

 

Logo que me abeirei da paragem, uma das criaturas parou a conversa. Aliás, devo afirmar que a atividade do grupo cessou. Estavam dois autocarros parados e eu perguntei naturalmente qual era aquele autocarro. Logo uma entra a matar, logo com o que eu menos gosto de ouvir:

_não entendo o que ela está a dizer, COITADINHA!

Pudera, estava na conversa quando eu cheguei…

 

E continuaram a desfilar as suas novidades. Durante este tipo de interação social as palavras mais ouvidas foram: desgraça, tumor, hospital, acidente, cancro, Nossa Senhora…

 

Só pararam de atroar as suas desgraças para quem não tinha outro remédio, que não as ouvir quando uma delas afirmou: Vem lá o 19, vamos embora!

 

Boa viagem, e que não haja nenhum acidente que vão parar ao hospital, á morgue ou ao cemitério!

 

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