Ultimamente, o meu subconsciente tem andado muito assanhado.
Deve ser para os dias em que não há nada para assinalar neste meu humilde
espaço em termos oníricos. Haja animação!
Antes de narrar o sonho propriamente dito, vou falar do que
lhe terá dado origem. Num dos nossos grupos do WatsApp há um amigo nosso que já
gravou alguns discos de fado. Então outro nosso colega colocou no grupo um dos
temas dele e houve gente que não conseguiu adivinhar quem estava a cantar. Por
acaso eu acertei.
Este sonho é a forma como o meu subconsciente tratou esta
informação.
Havia um evento qualquer. Eu era convidada para ir cantar,
imaginem! Cantar não é de todo o meu forte. Canto muito mal, acreditem! Então
imaginem cantar o fado! Amália certamente daria voltas na sua tumba no Panteão
Nacional. Veria o fado arrastar-se penosamente pelas ruas da amargura.
Há uma coisa engraçada aqui: nos sonhos, sempre que atuo em
público, uso sempre a mesma roupa. Visto calças e camisa de ganga mais clara.
Desta vez, a fadista não usava vestido preto longo e xaile traçado. Era essa
indumentária tão tradicional. A ganga, essa coisa tão portuguesa!
Dizem que eu fiz o maior sucesso mas não acreditei. Alguém tinha
filmado a minha atuação e enviou-me o vídeo por mail. Quando o fui a ouvir com
extrema curiosidade, fiquei estupefacta. Aquela não era a minha voz. Era bem
mais grave. Normalmente, nas gravações, as vozes tendem em ficar mais agudas.
Eu por acaso até nem gosto de ouvir a minha voz gravada. Conheço profissionais
de rádio que já confessaram não gostarem de se ouvir. E gravam anúncios, fazem
rádio, fazem da voz o seu objeto de trabalho. De certa forma eu também sou assim.
Houve tempo em que passava horas e horas a gravar as minhas parvoíces em
cassetes. Agora escrevo, para poupar os ouvidos ao timbre pouco agradável da
minha voz em gravações. Uma vez alguém me disse que eu tinha uma voz bonita mas
talvez tenha sido a forma como a coloquei. Imediatamente pensei que essa pessoa
estava a gozar comigo.
A cantar, eu sou o degredo. Não herdei os genes da minha avó
nessa matéria. Eu já aqui disse por mais do que uma vez que a minha avó cantava
muito bem. E cantava o fado, por acaso.
Voltando a esta situação, lá estava eu a cantar um fado com
uma voz completamente diferente da minha. Se eu não estivesse a ver a imagem,
não acreditaria que aquela era eu. Mas o que fizeram???!!! Tinha uma teoria,
como a minha voz é intragável, logo substituíram por outra através de um
qualquer programa com vozes pré-gravadas. Assim já podiam apreciar a letra do
fado.
E lá estava eu em palco…com o meu tradicional traje de
fadista composto por calças e camisa de ganga já utilizada noutras andanças
oníricas. Quase enterrava o microfone goela abaixo e a alma com que cantava o
fado era a mesma de um seixo junto a um rio. Quanto a isso, a tecnologia pouco
ou nada podia fazer.
No comments:
Post a Comment