Sunday, July 05, 2020

Uma voz que não era a minha



Ultimamente, o meu subconsciente tem andado muito assanhado. Deve ser para os dias em que não há nada para assinalar neste meu humilde espaço em termos oníricos. Haja animação!

Antes de narrar o sonho propriamente dito, vou falar do que lhe terá dado origem. Num dos nossos grupos do WatsApp há um amigo nosso que já gravou alguns discos de fado. Então outro nosso colega colocou no grupo um dos temas dele e houve gente que não conseguiu adivinhar quem estava a cantar. Por acaso eu acertei.

Este sonho é a forma como o meu subconsciente tratou esta informação.

Havia um evento qualquer. Eu era convidada para ir cantar, imaginem! Cantar não é de todo o meu forte. Canto muito mal, acreditem! Então imaginem cantar o fado! Amália certamente daria voltas na sua tumba no Panteão Nacional. Veria o fado arrastar-se penosamente pelas ruas da amargura.

Há uma coisa engraçada aqui: nos sonhos, sempre que atuo em público, uso sempre a mesma roupa. Visto calças e camisa de ganga mais clara. Desta vez, a fadista não usava vestido preto longo e xaile traçado. Era essa indumentária tão tradicional. A ganga, essa coisa tão portuguesa!

Dizem que eu fiz o maior sucesso mas não acreditei. Alguém tinha filmado a minha atuação e enviou-me o vídeo por mail. Quando o fui a ouvir com extrema curiosidade, fiquei estupefacta. Aquela não era a minha voz. Era bem mais grave. Normalmente, nas gravações, as vozes tendem em ficar mais agudas. Eu por acaso até nem gosto de ouvir a minha voz gravada. Conheço profissionais de rádio que já confessaram não gostarem de se ouvir. E gravam anúncios, fazem rádio, fazem da voz o seu objeto de trabalho. De certa forma eu também sou assim. Houve tempo em que passava horas e horas a gravar as minhas parvoíces em cassetes. Agora escrevo, para poupar os ouvidos ao timbre pouco agradável da minha voz em gravações. Uma vez alguém me disse que eu tinha uma voz bonita mas talvez tenha sido a forma como a coloquei. Imediatamente pensei que essa pessoa estava a gozar comigo.

A cantar, eu sou o degredo. Não herdei os genes da minha avó nessa matéria. Eu já aqui disse por mais do que uma vez que a minha avó cantava muito bem. E cantava o fado, por acaso.

Voltando a esta situação, lá estava eu a cantar um fado com uma voz completamente diferente da minha. Se eu não estivesse a ver a imagem, não acreditaria que aquela era eu. Mas o que fizeram???!!! Tinha uma teoria, como a minha voz é intragável, logo substituíram por outra através de um qualquer programa com vozes pré-gravadas. Assim já podiam apreciar a letra do fado.

E lá estava eu em palco…com o meu tradicional traje de fadista composto por calças e camisa de ganga já utilizada noutras andanças oníricas. Quase enterrava o microfone goela abaixo e a alma com que cantava o fado era a mesma de um seixo junto a um rio. Quanto a isso, a tecnologia pouco ou nada podia fazer.

Mais valia ter cantado uma música pimba mas nem para essa ocasião tinha pinta!

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