Continuo com escritores portugueses a fazerem-me companhia e
a contarem-me o que lhes vai na alma. Este livro de que vos vou falar é mesmo
um caso desses, de se escrever o que atormenta a alma. Afinal de contas,
escrever pode ser uma excelente terapia.
Este livro esteve em destaque na secção de leitura para
deficientes visuais da Biblioteca Municipal de Coimbra esta semana. Sendo uma
ávida leitora, eu peço todos os livros em formato digital que vão sendo destacados.
Já não faço isso com os livros áudio. Prefiro ler mesmo os digitais. Mal este
livro chegou, logo o li de uma assentada. Também não era muito grande.
O autor não é muito conhecido. É o primeiro livro que leio
dele. Chama-se Hugo Gonçalves e traz-nos uma obra de ficção autobiográfica.
Conta a história de um menino que perdeu a mãe vítima de cancro apenas com oito
anos de idade e conta como essa perda veio a influenciar a sua vida dali para a
frente.
Já adulto, o personagem dá por si a refazer os passos da
mãe, a imaginar como ela se sentiu quando recebeu o diagnóstico de cancro, a
pensar nos sintomas físicos até que a doença lhe causou. O autor foi mesmo ao
ponto de andar a vasculhar coisas velhas que estavam guardadas para encontrar
vestígios da presença da mãe. Foi aos hospitais sem sucesso para pedir a ficha
clínica dela.
Felizmente eu ainda tenho os meus pais vivos. Esta história
da pandemia separou-nos fisicamente porque eu também não quero que nada lhes
aconteça por eu vir de transportes públicos, ir almoçar lá a casa e trazer
comigo o Corona vírus que para eles pode ser fatal, dada a sua idade e as
doenças crónicas que já possuem.
Perder um dos pais em tenra idade deve ser terrível. Este
testemunho aborda isso mesmo. Por exemplo, é difícil a essa criança ver os
colegas com lanches que as mães deles lhes preparam com todo o carinho e ele
apercebe-se que a sua mãe já não pode fazer o mesmo. Lembro-me que tive no
ensino preparatório um colega de turma que não tinha mãe por ela também ter
morrido de cancro. Numa altura, instintivamente, houve uma colega nossa que o
mandou ir chatear a mãe dele. Ela não pensou quando disse isso. Quando ela viu
a tristeza nos olhos dele, simplesmente murmurou:
- Desculpa, João!
Quando se é criança, sente-se ainda mais a perda de um ente
querido, especialmente se for um pai ou uma mãe. Em muitas famílias,
simplesmente não houve tempo de explicar aos mais novos o que é a morte e muito
menos como lidar com ela. Talvez se preparem mais as crianças para perder os avós,
mais avançados na idade. Pessoas com trinta anos, como tinha a mãe deste
protagonista, não pensam muito na morte, embora ela esteja sempre à espreita.
Basta estarmos vivos.
Chega de coisas tristes! Vamos ler outra coisa! Robin Cook,
pode ser?
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