Saturday, July 18, 2020

“Filho Da Mãe” (impressões pessoais)



Continuo com escritores portugueses a fazerem-me companhia e a contarem-me o que lhes vai na alma. Este livro de que vos vou falar é mesmo um caso desses, de se escrever o que atormenta a alma. Afinal de contas, escrever pode ser uma excelente terapia.

Este livro esteve em destaque na secção de leitura para deficientes visuais da Biblioteca Municipal de Coimbra esta semana. Sendo uma ávida leitora, eu peço todos os livros em formato digital que vão sendo destacados. Já não faço isso com os livros áudio. Prefiro ler mesmo os digitais. Mal este livro chegou, logo o li de uma assentada. Também não era muito grande.

O autor não é muito conhecido. É o primeiro livro que leio dele. Chama-se Hugo Gonçalves e traz-nos uma obra de ficção autobiográfica. Conta a história de um menino que perdeu a mãe vítima de cancro apenas com oito anos de idade e conta como essa perda veio a influenciar a sua vida dali para a frente.

Já adulto, o personagem dá por si a refazer os passos da mãe, a imaginar como ela se sentiu quando recebeu o diagnóstico de cancro, a pensar nos sintomas físicos até que a doença lhe causou. O autor foi mesmo ao ponto de andar a vasculhar coisas velhas que estavam guardadas para encontrar vestígios da presença da mãe. Foi aos hospitais sem sucesso para pedir a ficha clínica dela.

Felizmente eu ainda tenho os meus pais vivos. Esta história da pandemia separou-nos fisicamente porque eu também não quero que nada lhes aconteça por eu vir de transportes públicos, ir almoçar lá a casa e trazer comigo o Corona vírus que para eles pode ser fatal, dada a sua idade e as doenças crónicas que já possuem.

Perder um dos pais em tenra idade deve ser terrível. Este testemunho aborda isso mesmo. Por exemplo, é difícil a essa criança ver os colegas com lanches que as mães deles lhes preparam com todo o carinho e ele apercebe-se que a sua mãe já não pode fazer o mesmo. Lembro-me que tive no ensino preparatório um colega de turma que não tinha mãe por ela também ter morrido de cancro. Numa altura, instintivamente, houve uma colega nossa que o mandou ir chatear a mãe dele. Ela não pensou quando disse isso. Quando ela viu a tristeza nos olhos dele, simplesmente murmurou:
- Desculpa, João!

Quando se é criança, sente-se ainda mais a perda de um ente querido, especialmente se for um pai ou uma mãe. Em muitas famílias, simplesmente não houve tempo de explicar aos mais novos o que é a morte e muito menos como lidar com ela. Talvez se preparem mais as crianças para perder os avós, mais avançados na idade. Pessoas com trinta anos, como tinha a mãe deste protagonista, não pensam muito na morte, embora ela esteja sempre à espreita. Basta estarmos vivos.

Chega de coisas tristes! Vamos ler outra coisa! Robin Cook, pode ser?

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