Tuesday, July 21, 2020

“Agora Ou Nunca Mais”- Henrique E ricardo (Música Com Memórias)




De regresso com estas minhas memórias provocadas por uma música, volto também ao tema anterior, musicas que não têm nada a ver associadas também a gente de que ninguém mais se lembra.

Parte da minha vida terá sido passada a divagar sobre pessoas que podiam ou não existir e imaginar histórias para elas.

Acontecia isto primeiramente com colegas ou amigos, depois evoluiu para locutores de rádio, os quais imaginávamos como eram através da voz e passou para desportistas, cantores e outras personalidades. Já aqui tenho contado muitas histórias dessas e uma a mais ou a menos não fará diferença. Se calhar todas juntas davam um livro. Vou pensar nisso!

Aos amantes do Futebol, vou avivar a memória, pois acredito que muitos não se vão lembrar do protagonista deste post que estranhamente associei a esta canção que não foi a única associada a ele. Pelo menos há uma outra música que também o invoca nessa minha imaginação e é uma música portuguesa. Ele não era português nem brasileiro. Sinceramente, perdi-lhe o rasto. É daquelas pessoas que não sei por onde anda.

Deixa de conversas, que a história até vai ser longa, pois tive a oportunidade de interagir com ele e a história também é digna de registo. Começo por perguntar: Alguém se lembra de Yves Van Der Straeten?

Van Der Straeten foi guarda-redes do Marítimo nos anos noventa. Penso que não jogou em nenhuma outra equipa portuguesa. Lembro-me dele jogar também no Antuérpia e ser suplente do pai do Svilar- atual guarda-redes do Benfica. Penso que até foi contra o Marítimo que ele jogou e o pai do guarda-redes do Glorioso SLB foi para o banco.

Mas o que tem ele a ver com esta música?

Aparentemente nada. Só uma imaginação rebuscada como a minha consegue fazer tão improvável associação. Passo a explicar: havia uma rádio que deixava CDs toda a noite a tocar. Havia aparelhos que davam para colocar seis CDs ao mesmo tempo. Carregava-se no botão para tocarem aleatoriamente e estava feito. Pior era se havia alguma música riscada. Depois vieram as playlists e isso acabou também.

Eu passava ali horas a divagar, aproveitando a música sem interrupções. Deixava simplesmente a minha imaginação solta como um passarinho.

Nessa noite em que passou esta música, o protagonista das minhas divagações era justamente o guarda-redes belga do Marítimo. Não sei dizer do que tratava a história mas imaginava-o com uma camisola cinzenta às riscas de um vermelho escuro. Era uma versão talvez de uma camisola que eu própria tinha. Era cinzenta mas tinha riscas de um verde escuro. Penso que ainda a tenho algures.

Eu julgava que conhecia todas as músicas deste CD que é de uma dupla pouco conhecida – Henrique E Ricardo. Passaram todas as músicas, menos essa. Foi preciso o CD estar a tocar aleatoriamente para a ouvir. Não é a melhor canção do disco mas o facto de não saber que ela ali existia tornou o momento mais especial.

Contada que foi a história do Van Der Straeten e esta música, passo agora para o que realmente aconteceu. Eu vim a conhecer este guarda-redes. Era uma pessoa simpática e acessível. Falava muito bem português. Aprendeu depressa. Encontrei-o aqui em Coimbra quando o Marítimo aqui veio jogar com a Académica. Cheguei-lhe a perguntar se ele já tinha aprendido português antes de vir para cá. Estava admirada de ele falar tão corretamente. Ele disse que não. Quando andava a estudar até nem era da área de letras, daí não ter contacto com línguas estrangeiras.

No ano seguinte voltei a encontra-lo. Nesse jogo ele fez uma bela exibição contra a Académica que precisava de ganhar para não descer de divisão. Acabámos por perder e a Briosa acabou mesmo por selar a descida nesse jogo. Estava muito aziada, como agora se diz. Mesmo assim fui ter com o responsável pelo meu estado de espírito- o guarda-redes do Marítimo que tirou bolas impossíveis quase de dentro da baliza.

Não escondendo a minha tristeza, tentando encarar tudo com desportivismo, disse-lhe que a Académica ia descer graças ao excelente jogo que tinha feito. Sorridente, tentando-me animar, sempre foi dizendo:
- Deixa lá, para o ano vocês são campeões da segunda liga!

Nesse dia uma empresa de vestuário desportivo distribuía folhetos pelos jogadores. Eu também fiquei com um. Ele brincava descontraidamente com esse panfleto. O dia estava-lhe a correr bem. Estava inspirado. Talvez fosse sempre assim. Só o encontrei por duas vezes.

Como disse, não sei o que é feito dele. A última vez que soube alguma coisa dele foi há cerca de vinte anos. Lembro-me que ele chegou a ser colega de equipa do atual treinador do Paços de Ferreira pepa.

Talvez ele saiba dele.

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