Tuesday, May 04, 2010

Oh senhor Oleg, olhe que os ovos estão caros!



Vi no outro dia por acaso na televisão que um bando de políticos lá no seu país se desentendeu em plena sessão no Parlamento, chegando mesmo a arremessar ovos e outros objectos uns aos outros. Segundo me vieram dizer, foi o senhor que lhes forneceu os ovos de graça porque já não os conseguia vender. É verdade?

Aí, tal como vai acontecendo também cá no nosso burgo, as pessoas não conseguem poupar. Ao mesmo tempo que há quem passe fome e tenha de vir por aí fora numa carrinha daquelas...como e que chamam àquilo?...há gente a desperdiçar ovos assim a arremessá-los uns aos outros. E as crianças que andam mal nutridas e a precisar de umas gemadas. Os pais não lhes compram os ovos porque o salário é baixo e os produtos de primeira necessidade, segundo ouvi dizer, são tão ou mais caros do que cá. Quanto custa por aí uma dúzia de ovos? Muito para o parco salário de um ucraniano de classe média, se é que isso existe.

Os Senhores Deputados, em vez de lhe terem comprado os ovos para servirem de arma de arremesso aos seus opositores, deviam-nos ter comprado para oferecer às famílias carenciadas com filhos pequenos e cujos seus elementos um dia destes atravessam fronteiras apinhados numa carrinha de nove lugares onde vão umas vinte pessoas. Chegam aqui a Portugal e, apesar das licenciaturas em áreas cujos portugueses desconhecem para que servem e acham uma falta de tempo estudar, os seus compatriotas limpam as retretes dos portugueses que têm menos habilitações académicas. Ou então são explorados em empresas manhosas de construção civil cujos donos já responderam por inúmeros processos de falsificação de documentos e crimes fiscais. Isto sem falar naqueles que são enganados por compatriotas que lhes exturquem o dinheiro que vão ganhando a trabalhar doze horas por dia ou mais nessas tais empresas desses patrões sem escrúpulos.

E alguns dos Senhores Deputados que naquele dia até tinham estreado fatinhos novos e sapatos lustrosos importados de algum costureiro em Paris? Ficaram com as suas roupas e os seus belos penteados adornados de gemas e claras de ovo. Se calhar foi mesmo para não danificar a sua toilette que um dos belos exemplares da espécie política se arriscou a abrir um guarda-chuva dentro da Assembleia. Arriscou é mesmo a palavra certa para qualificar o acto. Então aquele senhor não se lembrou que dá azar abrir um guarda-chuva dentro de casa? É que pode atrair morte, segundo os mais supersticiosos. Arriscou muito, o indivíduo só por causa de meia dúzia de ovos que “choveram” para o local onde ele estava.

Lá que andem ao soco e ao pontapé uns aos outros até nem se perde nada. Lá que arranjem uma bandeira gigante para envolver todos aqueles lugares como forma de protesto para uma eventual perda de identidade nacional até é de aplaudir, não fosse o caso de os têxteis também estarem pela hora da morte...ah espere...os têxteis têm vindo a ser deslocados para o Leste por a mão de obra ser mais barata. As fábricas de confecção de tecidos que por cá fecham vão para aí e então há tecido aí com fartura para se fazerem as bandeiras do tamanho que se quiser. Por acaso havia excesso de tecido amarelo e azul em armazém, porque não aproveitá-lo para protestar na próxima sessão parlamentar? Nem que leve com uns ovitos em cima não faz mal porque as gemas e as claras têm uma tonalidade amarela. A parte azul também é fácil de lavar. Se as nódoas não saírem, não há problema em queimar o tecido porque de onde veio este, há lá muito mais.

Avise aí esses políticos que o Carnaval por aqui, salvo erro, foi no dia 16 de Fevereiro. Agora não é tempo de aqueles artefactos deflagrarem. A menos que se aplique a regra dos tecidos: estavam a estragar-se e o próximo Carnaval ainda vinha longe. Além disso, os Senhores Deputados são um pouco grandinhos- na minha opinião- para se entreterem a arremessar bombinhas de fumo uns aos outros. Ovos, bombinhas...são umas perfeitas crianças, estes políticos. Se se passassem a reunir no jardim infantil não ficaria nada mal. Se calhar as criancinhas de quatro anos ainda teriam de os colocar na ordem. A julgar pelas imagens que vi, nem me admirava nada.

Por aqui os políticos só vão chamando uns nomes uns aos outros. Nada de levarem ovos ou bombinhas. Ainda não chegámos a esse ponto mas já tivemos um ministro que passou das medidas e fez um gesto pouco abonatório na direcção de um seu oponente. Ainda ninguém se agrediu fisicamente mas pouco faltou.

A classe política é tramada. Só faz passar vergonha por este Mundo fora, não é verdade? Mesmo que lhe ofereçam o dobro por aqueles ovos que não vendia por as famílias não terem dinheiro para os comprar. São todos iguais, só o comportamento é que muda de acordo com as circunstâncias. Depois quem paga são os pobres cidadãos que têm de sofrer com as decisões que este bando de estouvados toma naquele tipo de ambiente hostil por eles criado. São todos iguais mesmo. Nenhum se aproveita!

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