Thursday, May 27, 2010

A fé




Portugal vive por estes dias grande agitação em virtude da visita de Sua Santidade, O Papa Bento XVI. O Sumo Pontífice passará por Lisboa, Fátima (onde decorrerá o ponto alto das cerimónias) e Porto.

Nem a nuvem de cinza provocada pelo vulcão da Islândia fez recuar a organização da visita papal que promete trazer a Portugal largos milhares de pessoas que, se já enchiam o Santuário de Fátima a cada dia 13 de Maio, este ano afluem em número mais generoso.

É esta prova de fé que leva centenas de milhares de pessoas a um só local de peregrinação que me impressiona. Muitas delas fazem quilómetros a pé, desafiando as intempéries e até os seus próprios limites. Ver o Papa ao vivo valerá esse sacrifício?

Sou católica mas confesso que não sou grande praticante e tenho a minha opinião sobre religião e outras matérias do sobrenatural bem fundamentada no muito que tenho lido e na minha própria maneira de ver as coisas. Sou muito céptica em relação ao que existe para além da nossa vida terrena. Talvez exista algo de transcendente. Se assim não fosse, não andariam milhões de pessoas a acreditar em algo. A menos que a fé seja uma das características do Ser Humano. A necessidade de crer, de se agarrar a algo, numa época mais remota em que tudo era desconhecido e carecia de explicação.

Na altura em que a Bíblia terá sido criada, tudo de bom e de mau que acontecesse era obra de Deus que premiava ou castigava as povoações. Era Ele quem mandava vir os longos dias sem chuva enquanto a população não Lhe obedecesse, criava a chuva abundante também para punir o comportamento humano. Hoje sabe-se por que está muito tempo sem chover ou por que chove em demasia. Há provas palpáveis para isso. Muitas das coisas que estão relatadas na Bíblia e que à data eram desconhecidas, hoje têm explicação e não se deve a uma força divina ou transcendente.

Com isto quero dizer que as diferentes religiões e seitas religiosas que hoje conhecemos foram fundadas pelo Homem. Sendo a Bíblia uma obra ambígua e muito complexa, foi a diferente interpretação que diferentes pessoas fizeram e ainda fazem dela que levou a divergências e proliferação dos diferentes credos religiosos.

Falando das religiões cristãs, mais propriamente da Doutrina Católica, foi o Homem que sentiu necessidade de hierarquizar a Igreja sem, na minha opinião, alguma interferência divina. A existir, Deus não precisará de intermediários para Lhe fazerem chegar o que cada um de nós tem para Lhe suplicar. Ou será que, justamente por haver muita gente a interferir entre Ele e nós, as nossas súplicas quase nunca são ouvidas?

Os dirigentes máximos da igreja Católica tal como os conhecemos hoje e ao longo dos tempos não deveriam assumir tanto protagonismo. Sendo Deus alguém tão forte e tão soberano, por que razão há a necessidade de se criar a Igreja? Para viver mergulhada em luxos? Para os seus representantes viverem uma vida obscura por detrás das vestes religiosas e alimentarem os seus requintados caprichos de luxúria à custa do abuso de inocentes? Para terem actividades ilegais ou uma riqueza inqualificável?

Os membros da Igreja são seres humanos e, como tal, têm defeitos e virtudes como qualquer um de nós. A diferença é que os tentam ocultar e, caso são descobertos, é um escândalo. Estes casos de pedofilia que têm posto a nu as fragilidades humanas de altos dirigentes católicos um pouco por todo o Mundo têm sido a prova que algo vai mal e que, tal como eu disse atrás, só deveria haver Deus e cada um de nós que cremos. Todos estes senhores com os seus cargos bem hierarquizados não farão sentido nenhum. Por mais que se cansem de repetir que foi Deus que os incumbiu da missão que desempenham, ao terem estes comportamentos deploráveis provavelmente estarão a defraudar toda a confiança que Deus depositou neles, digo eu que pouco percebo do assunto.

E já que é Deus que escolhe quem quer para dirigir a Igreja, será que ele é racista ou machista? Será que Ele quereria que se morresse de Sida em vez de se usar preservativo? Quem inventou todas as regras inquebráveis da Igreja Católica? Deus ou o Homem? Inclino-me mais para a segunda hipótese.

O Papa, este que agora vive o seu pontificado, não me diz grande coisa. João Paulo II foi um Papa inesquecível para toda a Humanidade. A sua influência e o seu carisma foram muito para além das fronteiras do Catolicismo e a sua aura divina ainda hoje se faz sentir através das pessoas a quem ele alegadamente concedeu alguns milagres.

Bento XVI se calhar tem a pouca sorte de vir a seguir a um Papa como João Paulo II e de ser uma pessoa completamente diferente. O facto de ser alemão também não ajuda nada ao culto da sua imagem. Estas controvérsias e escândalos envolvendo a Igreja Católica e mesmo algumas declarações polémicas de Sua Santidade ajudam também a que as pessoas não nutram grande simpatia por ele.

Com ou sem Bento XVI, espera-se que os peregrinos respondam à chamada e venham em massa ver o Sumo Pontífice. Nem o frio e a chuva irão afastar as pessoas que foram vistas a percorrer as estradas até chegar a Fátima de celebrar este momento de fé.

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