Friday, May 21, 2010

“A Tia Julia E O Escrevedor” (impressões pessoais)



Estava a contar que a leitura deste livro fosse monótona e enfadonha mas enganei-me redondamente. Mário Vargas Llosa soube estruturá-lo de forma a prender o leitor e até a diverti-lo com um considerável número de peripécias que roçam o anedótico.

Trata-se de uma obra de cariz autobiográfico em que o escritor peruano naturalizado espanhol alterna entre as peripécias do seu quotidiano e as histórias inventadas por Pedro Camacho- um guionista de radionovelas vindo da Bolívia e que é aquilo que em boa gíria portuguesa se pode chamar um cromo autêntico ou uma ave rara, segundo os gostos e sensibilidades de quem o queira caracterizar.

Naquilo que fazia, o escritor tinha uma obsessão doentia. Era capaz de estar mais de dez horas seguidas a deixar que a sua imaginação vagueasse e pudessem surgir novas histórias. Questionado pelo protagonista (Mário Vargas Llosa) sobre a sua incansável dedicação á escrita, o boliviano afirmava que o segredo consistia em escrever varrias histórias ao mesmo tempo. Assim era difícil se cansar. A ideia até era boa mas o resultado desta táctica viria a revelar-se desastroso. Foi a morte do artista, por assim dizer, que acabou a ser informador de uma revista de carácter duvidoso.

Pedro Camacho tinha um hábito curioso que lhe custou alguns dissabores: dizia mal dos argentinos em todas as suas histórias. Acusava-os de falta de higiene, de serem gulosos, de sacrificarem crianças, doentes ou idosos em tempo de crise e até de matarem crianças. Um dia levou uma tareia de dois argentinos na rua. A melhor que ele apontou aos argentinos foi que faziam as necessidades com a roupa vestida e que soltavam ventosidades em plena missa. Muito eu me ri!

E naquele tempo ainda não eram nascidos dois valentes exemplares daquela espécie. Curiosamente jogam ambos no mesmo clube. Estou a falar do Marianito e do senhor Ernesto Farias. Este último…eu nem conheço um homem mais feio do que ele. Então quando ele não corta aquela barba e anda também com aquele cabelo bem comprido é de fugir. Parece um homem das cavernas. Não sei se ele tem namorada ou esposa. Eu acho impossível uma mulher se apaixonar por aquele projecto inacabado de homem. Mesmo aquelas miúdas que dizem que haviam de casar com um futebolista por causa do dinheiro, não sei se pegariam naquele. É horrível demais. Aposto mesmo que será porventura o jogador mais feio que passou pelo Futebol Português.

Sobre o Marianito temos falado. Gosto de reinar também com ele porque o acho engraçado. Também não é um primor de beleza mas a forma como se movimenta tem graça.

Voltando a Pedro Camacho depois de eu própria ter divagado um pouco, afinal ele era casado com uma mulher…argentina.

O momento mais engraçado do livro foi aquele em que Mário Vargas Llosa ia acompanhar um casal de mexicanos de volta ao hotel depois de uma entrevista. De repente a senhora teve um ataque qualquer e ia a libertar todo o tipo de secreções corporais. Achei piada a esse pormenor.

Este livro ultrapassou todas as minhas expectativas, na medida em que à partida já o classificava como monótono. Um livro que ia falar sobre uma história de amor para mim já era algo sensaborão. Para mim um livro como deve ser tem de ser um thriller, um policial ou um livro sobre Desporto. É assim que eu ordeno os livros para ler (um mais interessante seguido de um á partida mais monótono). Não tenho o hábito de ler vários livros em simultâneo, embora conheça gente que faz isso. Ainda baralhava as histórias, tal como fez Pedro Camacho nesta obra.

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