Friday, May 28, 2010

José António Linhares

Soube esta semana que o antigo dirigente do Salgueiros José António Linhares morreu vítima de doença prolongada. Nem sabia que o dirigente se encontrava doente sequer.

Confesso que tenho saudades do velhinho Salgueiros dos anos noventa. Aquele que era treinado pelo antigo jogador do Benfica Zoran Filipovic e que tinha muitos jogadores da Antiga Jugoslávia. Tinha o Milovac (que sempre admirei e que mais tarde vim a conhecer pessoalmente quando era treinador adjunto de Filipovic no Guimarães), o Draskovic (que jogou também no Beira-Mar), o Nikolic, o Djoincevic (esse barbudo) e o Lalic (numa ocasião apanhou seis jogos de suspensão- já não se usam castigos desses por cá…desde que o campeonato passou a ser organizado peol siste…pela Liga de Clubes). Que saudades e que boas recordações!

Agora o Salgueiros renasce das cinzas e arrasta-se pelos campeonatos distritais de menor dimensão. Não se sabe para quando o convívio com os grandes. Enquanto isso não chega, restam as recordações.

A primeira vez que ouvi falar de José Antonio Linhares foi já no longínquo ano de 1994 ou 95. Ele ainda não era presidente e já estava a marcar uma posição no Futebol Português. Achando piada a este episódio e a estas declarações de um dirigente, na altura, desconhecido para mim, apontei num cadermo todas as incidências de um jogo que opôs o Salgueiros à União de Leiria.

Na altura o treinador do Salgueiros era Mário Reis (que é feito dele?) que após o golo salgueirista apontado por Luís Manuel acusou a equipa de arbitragem de tudo ter feito para virar o jogo a favor das hostes leirienses. Consultando o meu velho caderno onde apontava todas as curiosidades futebolísticas desta época, passo a contar esta história em homenagem ao seu protagonista que nos deixou esta semana.

Foi um jogo carregado de polémica em que após o golo de Luís Manuel acima referido o árbirro Carlos Pinto resolveu inventar e fazer uma arbitragem memorável como é raro se ver. Agora a esta distância vendo o que se passou nesse jogo penso que realmente as coisas estão muito mudadas para melhor. Que agora os dirigentes protestam mas naquela altura é que aconteciam coisas do outro mundo. Lembro-me de ver o resumo deste jogo e realmente foi incrível o que o Senhor Árbitro fez. Tinha razão o chefe do Departamento de Futebol do Salgueiros em se insurgir, dias mais tarde, contra o árbirro.

De referir que enquanto o jogo esteve empatado o juiz se limitou a fazer o seu trabalho de forma isenta. Só quando o Salgueiros inaugurou o marcador, também se procedeu à inauguração dos disparates. O Salgueiros acabou essa partida apenas com sete elementos em campo. Isso já basta para estragar um jogo. A maioria dos cartões foram mostrados por protestos.

Carlos Pinto começou por não assinalar uma grande penalidade a favor do Salgueiros para logo depois assinalar uma na outra área a favor da União de Leiria que acabaria por ser convertida no empate.

Foi após a marcação do segundo golo do Leiria da autoria do marroquino Tahar em posição irregular que começou a reinar a confusão e Carlos Pinto varreu os jogadores salgueiristas a cartões. Foram quatro as expulsões para o lado do Salgueiros só na sequência desse golo (Luís Manuel, Chico Oliveira, Zoran Hajdic e Tulipa- este último de vermelho directo). O treinador Mário Reis não se conteve e invadiu o terreno de jogo tentando agredir o árbitro Carlos Pinto.

Os restantes elementos do banco do Salgueiros incluindo José António Linhares que era delegado ao jogo tentaram acalmar o treinador que estava completamente fora de si.

Alguns dias mais tarde e já a frio o então desconhecido dirigente salgueirista José António Linhares pronuncia-se sobre os acontecimentos de Leiria e o árbitro nos termos que eu consegui apanhar e eternizei até aos dias de hoje:

“O senhor que apitou em Leiria que é um senhor qualquer, que se ititula árbitro, é um ladrão e merece ir para a cadeia.”

“Quando um diz mata, o outro diz esfola. Isto quer dizer que se de um lado havia um fiscal de linha que invalidava todas as jogadas de ataque do Salgueiros, do outro lado havia outro fiscal de linha que validava todas as jogadas do Leiria.”

“Só faltava o senhor Carlos Pinto cabecear a bola para a baliza do Salgueiros para dar o golo ao Leiria.”

“O trio de arbirragem é um trio de ladrões. O árbitro é ladrão e os fiscais de linha são uns acólitos que andam aí.” (foi a primeira vez que ouvi essa palavra “acólitos”)

“O árbitro Carlos Pinto nem um jogo de infantis ou juvenis, nem distritais, muito menos um jogo da terra pode dirigir.”

“Sempre que o Salgueiros for arbitrado por Carlos Pinto, o Salgueiros não comparece.”

“Enquanto Carlos Pinto apitar os jogos, eu vou de luto para os estádios.” (esta foi a melhor dele! Achei imensa piada.)

“O árbitro é chantagista.”

E fica assim contada esta história que envolveu o recentemente falecido José António Linhares nos seus primeiros tempos de protagonismo, numa das primeiras vezes em que se deu a conhecer e logo a partir ao ataque. Estava coberto de razão. Aquela arbitragem foi mesmo incrível!

Já agora, que foi feito desse árbitro? Aos anos que isto já foi, certamente terá terminado a carreira.

Quanto a José António Linhares, que descanse em paz!

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