Sunday, December 24, 2006

Trinta anos

28 de Setembro de 2006, data em que comemoro trinta anos de vida. Mudei de clube!

São trinta anos de uma existência sofrida, nem sempre compreendida da forma que merece. Trinta anos a tentar lutar contra as armadilhas que o Destino me traçou.

Neste dia em que comemoro o meu trigésimo aniversário há que fazer um balanço daquilo que vivi e deixei de viver, embora adorasse ter vivido.

Não tive a infância desejada por ter, aparentemente, de receber uma educação de acordo com as minhas necessidades especiais.

Alguns problemas de saúde sobressaltaram a minha adolescência, mas tudo correu bem. Felizmente que hoje tenho saúde e tudo isso foi ultrapassado.

Bati a muitas portas para tentar realizar o meu sonho. Todos me negaram esse desejo simplesmente porque não vejo bem.

Foi depois de ver o meu sonho cada vez mais longe de se realizar que optei por seguir para o Ensino Superior. Em Coimbra descobri um novo rumo para a minha vida. Foi nessa altura que me foi aberta a porta do Desporto. Ganhei um novo alento, uma alma nova.

Foram anos felizes em que conseguia realizar-me quase por inteiro. Conheci imensa gente ligada ao Desporto e comecei a participar em provas desportivas a nível nacional.

Depois de um estágio que não correu bem devido ao preconceito que ainda existe em relação a nós, a alegria foi-me devolvida alguns dias depois quando me foi dada a oportunidade de representar a Selecção Nacional nos Campeonatos Europeus de Atletismo para Deficientes Visuais que decorreram em Lisboa.

Talvez me tenha aí apaixonado pela primeira vez e isso fez com que me sentisse outra pessoa. A minha motivação subiu consideravelmente e fiz a melhor época desportiva da minha carreira. Nos Campeonatos nacionais de 2000 fiz a melhor exibição de sempre.

O ano de 2001 talvez tenha sido o melhor ano da minha vida. Participei na minha primeira (e até ver única) prova além fronteiras, conheci alguém por quem me apaixonei, concluí a minha Licenciatura em Comunicação Social e passei a ter o meu próprio computador.

Com o regresso a casa, voltaram os momentos difíceis. Passei a treinar sozinha, novamente longe de todos os meus sonhos e objectivos. Foi também nessa altura que a minha situação clínica deu sinais de piorar com o diagnóstico do glaucoma como consequência directa dos problemas com que nasci.

Apesar de treinar em condições adversas, quase consegui atingir mínimos para os Europeus de Atletismo que se iam realizar na Holanda em 2003. Ir à Holanda passou a ser um dos meus principais objectivos. Fiquei fortemente abatida por não ter realizado esse sonho.

No final desse ano, resolvi mostrar a todo o Mundo o que estava a fazer com as parcas condições que tinha. Esperava por apoios para continuar a minha carreira desportiva. Obtive resposta de uma instituição em Miranda do Corvo, para onde fui viver em finais de Janeiro de 2004.

Após um período de adaptação um pouco complicado, tudo me começou a correr bem. Comecei a progredir no Desporto e isso era fundamental para me sentir bem. Além disso, o sonho de fazer rádio por que tanto lutei ao longo de tantos anos estava a concretizar-se. As condições estavam criadas para ter a vida que sempre sonhei, porém o Destino não permitiu este estado de graça por muito tempo.

Em Março de 2004 começou o meu Inferno, se é que não começou mais cedo. A partir daí, a minha vida começou a tomar o rumo inverso. Fui sujeita a uma operação aos dois olhos que encarei com algum medo de perder a visão por completo.

Alguma acalmia regressou à minha vida com a participação como voluntária no Euro 2004. Foi um evento bastante importante para Portugal e foi com muito orgulho que fiz também parte dele. Nunca hei-de esquecer esses bons momentos!

O dia 6 de Julho de 2004 foi um dos dias mais negros da minha vida. Quando esperava retomar o Desporto normalmente, recebi a terrível notícia de que estava acabada para a prática desportiva. Nem pensar em fazer grandes esforços devido ao perigo de descolamento da retina. Fiquei destroçada e resolvi voltar para casa com medo do que pudesse aconteceu futuramente na minha vida. Esperavam-me mais inquietações. Sempre por causa dos olhos.

Voltei a ser operada em Janeiro de 2005. Como nada de benéfico adveio dessa operação, tive de fazer outra cirurgia na tentativa de salvar a visão do meu olho direito. A operação foi sendo adiada sucessivamente devido ao meu medo, mas não tive outra hipótese. Essa terceira cirurgia culminou com o dia mais negro da minha vida- 24 de Maio de 2005. Não tenho dúvidas quanto a isso!

Nesse dia dei entrada nas urgências hospitalares com a tensão ocular alta demais. Isso fez-me pensar no que foi a minha vida até alii e no que seria a minha vida no futuro. Traçava um cenário medonho para mim mesma. Seguiram-se momentos de angústia e de indecisão. Não poder praticar Desporto era a minha grande mágoa. Passei muitas noites sem dormir e, muitas vezes, acordava a chorar quando sonhava que corria novamente na pista do Estádio Cidade de Coimbra.

Em Agosto tudo se alterou um pouco com alguma estabilidade da minha situação clínica. Regressei a Coimbra em Setembro para fazer a minha reabilitação para o que desse e viesse.

Com este regresso voltei aos velhos tempos. Voltei a sorrir porque os sonhos que me punham a chorar quando acordava deixaram de ser sonhos. De forma limitada voltei a percorrer a pista do Estádio Cidade de Coimbra. A minha vida voltava a ter sentido.

Três meses depois regressei às provas. Não podendo fazer lançamentos, nem provas combinadas, voltei às minhas origens e passei a ser apenas velocista. Foi com essa nova alma que recomecei quase do ponto zero a minha carreira interrompida de forma tão abrupta.

O ano em que eu comemoro os meus trinta anos de vida está a ter alguns momentos interessantes. Realizei alguns sonhos, mas o principal ficou por se concretizar mais uma vez. Com muita mágoa.

Continuo em Coimbra e estou, neste momento, numa fase decisiva da minha vida. As grandes decisões estão para ser tomadas brevemente. Na altura em que me transferi para o clube dos trinta.

E depois de um breve resumo daquilo que foram os meus trinta anos de vida, encontro-me no dia de hoje em que deveria apagar três dezenas de velas do meu bolo, caso estivesse em casa.

Os sonhos não ajudaram neste meu dia de aniversário. Voltei a sonhar com bandidos violentos. Desta vez a cena passava-se numa novela que estava a ver. Na realidade, nunca costumo ver novelas.

Tratava-se de um ajuste de contas entre bandidos ou grupos rivais de gangsters. Esse ajuste de contas era feito através de uma estranha corrida que culminava com algumas explosões. Então só se viam homens mutilados pelos ares a arder. Ultimamente tenho tido sonhos horríveis!

Também tenho dormido mal. Não sei as causas desses comportamentos nocturnos. Talvez seja a mudança de rotina e o maior stress a que eu estou sujeita.

Logo de manhã, as coisas começam a correr mal num dia como o de hoje que deveria ser diferente. Isso era quando tinha menos idade! Agora chega-se aos trinta anos e está-se cada vez pior. Ainda não eram oito da manhã e já eu estava a disparatar. Destruí uma caneta.

Na paragem do autocarro havia uns moscos que teimavam em me ir para os olhos. Estava furiosa porque eles pegavam-se devido aos medicamentos. Se calhar até era isso que os atraía. E o autocarro que não vinha! Estava morta por sair dali.

E lá teve o autocarro de chegar atrasado. Tudo me estava a correr mal. E seria assim até que me deitasse. Ia ser demais!

Finalmente cheguei ao trabalho, mas as coisas também não me estavam a correr de feição. Pensei naquele dia algumas coisas que me deixaram um pouco triste, mas foi só impressão minha e nada mais. Não deixei de sentir alguma tristeza por esses factos

Confundi um cacifo e tirei alguns apontamentos para depois preencher as fichas. Como à tarde passaria pela ACAPO, não me poderia esquecer de tirar algumas dúvidas e de perguntar se iríamos para o local de experimentação no feriado.

Depois do almoço, meti-me ao caminho antes que chovesse. Iria matricular-me e tinha de andar largos minutos a pé. E lá fui eu Combatentes acima para ver se me despachava.

Junto à Faculdade de Letras já se praxavam os caloiros. Os “animais” tinham de entoar alto e bom som a cantiga da Pantera Cor-de- rosa. Que saudades dos meus tempos de estudante!

Poderia ter vindo mais rápido caso não me enganasse no caminho. Já é normal! Deixem estar que o cúmulo de me enganar no caminho ainda estará para ser relatado neste espaço. Desta vez não me enfiei na rua do costume. Também era melhor? Ai essa rua!

Depois de ter ido à ACAPO esclarecer algumas das dúvidas do momento e apanhar alguns documentos para a Assembleia de Sábado, meti-me novamente ao caminho para ainda chegar cedo. Nem no dia dos meus anos deixo de correr atrás dos autocarros. Corri que nem uma doida atrás de um autocarro. Por incrível que pareça, não era o que eu ia apanhar. Toupeira dum raio!

Não iria treinar. Regressei à ACAPO para tirar as coisas do computador. Era uma tarde de competições europeias e eu tinha também de ler os documentos para a Assembleia.

Das equipas portuguesas em acção, somente o Braga passou à fase de grupos da Taça UEFA. Setúbal e Nacional da Madeira foram eliminados.

Entretanto os meus amigos telefonavam a enviar mensagens de parabéns. Fazia-se tarde e eu tinha de comer. Fui ao frigorífico buscar um iogurte, mas...acabei por ter a mais chata prenda de anos que se pode desejar. Os iogurtes tinham desaparecido, mas eu consegui recuperá-los numa história que vai ser contada a seguir noutro texto.

E assim foi um stressante dia em que passei a contar mais um ano no lombo.

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Foi contra uma empregada na cantina que vinha com um tabuleiro de água suja, bem gordurosa. E se ela entornava toda aquela água? Iria ser lindo!

Bacorada do dia:
“...disse que ia formatizar o computador.” (o mundo da Informática ganha conceitos novos todos os dias)

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