Sunday, December 31, 2006

Treinar para ir a Fátima a pé

Um dos responsáveis pelo ginásio alertou-nos para o facto de um utente se estar a manter nas instalações por demasiado tempo. Eram oito e meia da manhã e já o cartão do dedicado desportista se encontrava pendurado no cacifo. Era cerca de meio-dia quando o professor nos chamou a atenção. Já tinham passado quatro horas!!!

Decidiram procurá-lo. Esteve aquele tempo todo a treinar na passadeira! Eu comecei-me a rir. Perguntaram-me porque me estava a rir. Eu fui respondendo:
- “Se calhar está a treinar para ir a pé para Fátima. O 13 de Outubro está aí e temos um fim-de-semana prolongado para quem faz ponte.”
Toda a gente se riu e concordou. Um indivíduo que passa cinco horas a andar de passadeira rolante...

Foram ver à base de dados o registo do utente que adora a monotonia de andar devagar na passadeira. Mais um motivo para a minha tese ser aceite. Só muito esporadicamente é que aquele homem vem ao ginásio. Quando vem, faz sempre desses longos treinos em passadeira rolante. Eu diria mais: é quando se aproxima uma peregrinação a Fátima!

Suponhamos que era verdade ele fazer aquele longo treino para aguentar melhor as agruras até ao Santuário. Deve ser uma das poucas pessoas a fazê-lo. E já agora, como será um plano de treinos bem elaborado com o objectivo de chegar ao Santuário com disposição ainda para ouvir a missa e visitar posteriormente o Museu de Cera?

Certamente que desse plano constarão muitos exercícios de resistência cardiovascular, longas caminhadas, alguma corrida e...treino no ginásio. Se a moda pega...

Resta dizer que o utente saiu do ginásio já depois da uma e meia. Iria para casa preparar todo o material para ir cumprir a sua promessa em Fátima.

Fui acordada de forma abrupta pelo alto som de um carro que estacionou junto ao meu quarto às cinco da madrugada. A música que cortava o silêncio da noite era “I Like To Move It, Move It”. Nem sei como se chama, realmente, essa música. Ela é bem conhecida e muito ritmada.

Voltei a adormecer, mas não me levantei de bom humor. Não me lembro qual o motivo de tal estado de espírito.

Fui à minha vida, isto é, para a paragem do autocarro. A chuva marcava presença. Enquanto esperava o autocarro, passou por ali um carro funerário com um caixão dentro. Alguém para quem aquele dia não iria certamente ser de boas recordações. Isto se eu partir do princípio que os familiares da pessoa que parte aceitaram a sua morte de forma normal, com tristeza e dor. Afinal é alguém querido que parte. Digo eu.

Alguns alunos entoavam as músicas do Tony Carreira. Ele anda mesmo por todo o lado! É mesmo um ídolo nacional.

Há dias que eu- estupidamente- andava a pensar que os comandos do ar condicionado davam para medir a temperatura. Quando eu sentia o tempo a arrefecer, lá ia ver a esses aparelhinhos o que eles diziam de sua justiça. Só que a temperatura não era consensual entre eles e eu comecei a duvidar.

Também me lembrei naquela manhã que não sabia da minha caderneta. Trabalho para verificar quando chegasse a casa!

Não sei se foi por ser véspera de feriado. A verdade é que nunca vi tanta gente no ginásio senão nesse dia. Chegaram a estar pessoas à espera dos Polares.

Na escola decorria o “Julgamento dos Caloiros” e um leilão. A base de licitação para um caloiro era de cinco euros. Demasiado, no meu entender. Se fossem cinco cêntimos ou menos ainda...

A tarde continuou com o registo da manhã: um movimento anormal de utentes que iriam aproveitar o feriando para fazer qualquer coisa, menos treinar.

A aula de Holandês continuou a ser sobre os nossos dados pessoais (como nos chamamos, o que fazemos, de onde vimos...) Lemos um texto engraçado e um outro sobre Cultura. Estou realmente a aprender coisas novas e isso deixa-me contente. Veio, de facto, quebrar a rotina.

O que eu não aprendo é o caminho. A Faculdade de Letras é um autêntico labirinto!

Cheguei a casa já era noite cerrada. Iria aproveitar o feriado para descansar um pouco.

Situação do dia:
Um carrinho dos que servem para colocar os tabuleiros na cantina colidiu violentamente com a mesa onde eu estava a comer.

Bacorada do dia:
“Tem de vencer todos os seus vencedores.” (A tarefa não se afigura nada fácil, para não dizer que é impossível.)

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