Sunday, December 31, 2006

Imprevistos & boatos



Dizem os estudiosos que, aquando da planificação da agenda para o dia seguinte, devemos guardar cerca de 30% do nosso tempo para os imprevistos. Só que há dias em que esses 30% não chegariam, tal é a abundância de fenómenos inesperados que acontecem. O dia 7 de Outubro de 2006 enquadrou-se num desses dias.

Passo a relatar com rigor (já não prometo isenção) o que aconteceu naquele sábado em que o Céu se apresentava muito nublado, mas sem chuva.

Logo bem cedo se passou uma coisa de que eu não estava à espera. Meti-me num autocarro que só ia até à Portagem. O restante percurso teve de ser feito a pé, que até me consolei. Foi um pretexto para percorrer locais por onde já não passava há imenso tempo. Algumas coisas estavam já substancialmente modificadas. Chamou-me a atenção um letreiro com caracteres enormes. Fiquei curiosa por saber que estabelecimento era aquele. Estive a olhar aquele edifício por largos minutos antes de continuar a minha caminhada.

Mais adiante, as instalações de um novo jornal prenderam a minha atenção. A manhã estava fresca, mas estava agradável para se andar na rua. De repente lembrei-me que uma colega me tinha dito que aquele jornal já tinha fechado. Sem mais paragens, segui o meu rumo.

Ia já na camioneta um pouco combalida do encontro imediato com a placa da pista quando a minha irmã me ligou. Estava no dentista e ia passar o fim-de-semana a casa. Pressenti logo que os meus planos iriam por água abaixo. É sempre assim! Quando ela vem passar o fim-de-semana a casa é um corrupio de visitas. Não me enganaria.

Era para ter vindo a pé, mas o meu pai acabou por me vir buscar. Não estava à espera que a minha casa tivesse sofrido algumas obras. O bagaço secava na eira. O seu odor era desagradável.

Imediatamente percebi que todas as conversas giravam em torno da grave e fatal doença do meu primo que se encontrava no hospital à espera de ser transferido para o lar da Moita. Longe de imaginar a confusão que se viria a dar algumas horas depois. As pessoas sempre têm a língua muito comprida!

O aparecimento de visitas em casa é sempre um motivo para não se fazer o que há muito se planeou. Umas primas do Luso vieram visitar-nos. O tema principal voltou a ser o estado de saúde do meu primo. Assunto do dia!

Depois apareceu uma colega nossa que aproveitou o facto de a minha irmã se encontrar em casa para ir até lá pôr a conversa em dia e lanchar connosco. Mais umas horas perdidas!

Com tudo isto fui treinar a horas tardias e o treino teve de ser alterado devido a isso. Não tem importância. As outras coisas é que ficaram por fazer.

Para além dos imprevistos, outro fenómeno que merece da minha parte uma reflexão mais cuidada neste texto são os boatos. Um boato nasce e desenvolve-se a um ritmo alucinante. O “ouvi dizer” tem uma força e um efeito que impressiona. Mas que interesse terão as pessoas em lançar boatos para o ar a ver se pegam? Uma questão para a qual não será fácil obter uma resposta convincente.

O que é certo é que o boato corre mais veloz que o vento e coloca toda a gente em alvoroço. Ninguém escapa ao seu efeito tão devastador.

Vem isto a propósito do boato tão a propósito que caiu que nem uma bomba no seio da nossa família naquela noite tranquila de sábado.

Como tenho vindo a referir ao longo deste texto, a doença do meu primo foi o tema principal de todas as conversas em família. E que tal um boatozinho sobre a alegada morte do meu primo? Com a natureza da sua doença, a morte é um cenário mais do que previsível. Daí o boato ter produzido um efeito imediato e enérgicas reacções.

Estava eu tranquilamente a ver o jogo entre Portugal e o Azerbeijão- que estava quase no intervalo- quando o telefone tocou. A minha irmã foi atender. Era um dos nossos primos do Luso a dizer que uma enfermeira de Coimbra tinha dito à sua filha que o primo que lá estava internado tinha falecido.

Imediatamente a minha irmã chamou a minha mãe que já chorava compulsivamente. Para a acalmar, a minha irmã sempre foi dizendo que já era de esperar e que talvez tenha sido melhor assim porque o sofrimento causado pela doença tinha terminado.

A minha irmã ligou para a mercearia na esperança de o cunhado do meu primo estar por lá a ver o jogo. Ele veio ao telefone e confirmou que também ouvira dizer a mesma coisa em...Vila Nova. Vejam lá as proporções que este boato ganhou!

A minha irmã ligou então para Coimbra, para a secção onde ele estava internado, a perguntar o que se passava. Forneceu os dados daquele paciente e, do outro lado da linha, o boato foi desfeito com a enfermeira a afirmar que o meu primo repousava tranquilamente na sua cama.

Uma a uma, as pessoas da nossa família foram suspirando de alívio à medida que iam sendo avisadas de que tudo não passou de um triste e estúpido boato.

De referir que no dia em que escrevo este texto- e quase três meses passados sobre este infeliz episódio- o meu primo continua vivo e que muita gente já partiu deste mundo primeiro que ele. Inclusive pessoas da nossa família.

Se acaso o meu primo sonhasse que lançaram um boato sobre a sua morte, ele bateria o recorde de palavrões (que provavelmente já lhe pertence) e passaria todo aquele dia a discutir contra não sei quem que disse uma barbaridade dessas.

Portugal venceu a selecção do Azerbeijão por 3-0. Cristiano Ronaldo esteve em grande ao apontar dois golos. O outro tento luso foi da autoria do central Ricardo Carvalho.

Referência para o facto de na selecção azeri alinharem três jogadores brasileiros. Que praga! Até num país como o Azerbeijão eles vão jogar. Essa é demais! Também no Azerbeijão figurava um jogador com o sugestivo e curioso nome de...Muzika. Consta que é um péssimo executante e que lhe falta um pouco de fôlego para manusear com eficácia alguns instrumentos de sopro que tenta tocar, causando a risota geral.

Igualmente na selecção do Azerbeijão alinha um tal de Sultanov que parece ser o melhor jogador daquele país na actualidade. Aliás, parece que ele é mesmo o melhor desportista daquele pequeno território. Para além de ser internacional através do Futebol de Onze, o atleta é ainda o melhor internacional em Futsal. Dizem as más-línguas (aquelas peritas em lançar boatos) que nos próximos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 esse atleta irá igualmente representar as cores da sua Pátria nas modalidades de Natação, Ténis, Atletismo (em que irá fazer os 110 metros barreiras e a maratona), Ciclismo (Keirim em pista e a prova de estrada) e Tiro aos Pratos (Desporto em que o atleta é forte candidato a uma medalha de ouro). Consta igualmente que, daqui a alguns anos, Sultanov irá fazer esquecer a grande referência do Desporto azeri- Kasparov. O último desafio de Xadrez entre ambos foi renhidíssimo.

Para o texto seguinte irei desenvolver uma notícia que ouvi durante este jogo e que me diz muito. Aguardem!

Situação do dia:
Quando cheguei à Rodoviária estranhei o facto de se encontrar um veículo da Rede Expresso na pista onde, normalmente, costuma parar a nossa camioneta. Toupeira dum raio! Na ânsia de ler o que dizia o veículo, espetei uma monumental e estridente cacetada na placa da pista. (ver foto) A placa ficou a abanar e eu até vi estrelas. As pessoas que lá estavam vieram-me perguntar se me tinha magoado. Entrei no autocarro como se nada tivesse acontecido. Na verdade tinha um hematoma na testa e uma arranhadela no peito que só não foi mais profunda porque trazia duas camisolas.

Bacorada do dia:
“Parece que Luís Filipe Vieira tem um adversário para a Presidência da República.” (Como fervorosa benfiquista, resta-me agradecer o facto de o Benfica ter saído ainda mais glorificado nesta frase.)

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