Sunday, December 31, 2006

Aprender Holandês para quê?



Era chegado o tão esperado dia de ter a minha primeira aula de Holandês. Muita gente me pergunta por que razão vou eu aprender Holandês e para que serve esse conhecimento.

Nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Saber mais uma língua poderá ser uma mais-valia para um currículo que se quer recheado, uma vez que tenho a limitação de não ver. Ao possuir outro tipo de conhecimentos, as pessoas irão ver que sou uma pessoa que não baixou os braços e que continua a lutar por uma oportunidade no mercado de trabalho que teima em me fechar as portas somente por ter uma deficiência.

Essa não foi, contudo, a principal razão que me levou a inscrever na aprendizagem de Língua e Cultura Neerlandesa. A principal razão é o sonho que alimento de um dia ir à Holanda, aliado ao facto de ser grande fã do Ciclismo Holandês e de as notícias estarem quase todas nessa língua que eu faço um esforço enorme por perceber a mensagem essencial.

Já há tempo que penso em aprender Neerlandês, mas os recentes acontecimentos e a necessidade de ter algo que me devolvesse a motivação perdida precipitaram tudo. Ao me inscrever nesse curso, ficaria mais em contacto com a língua e a cultura do país que tanto sonho pisar um dia. Um dia que já poderia ter sido, caso as pessoas tivessem mais um pouco de sensibilidade nos seus corações monstruosos. Há que seguir em frente e tentar apagar toda esta frustração que me está a destruir por dentro. Aprender Holandês talvez seja um passo para esquecer tudo isso e alimentar a esperança de realizar o meu sonho.

Tentar uma aventura no Estrangeiro povoa o meu pensamento. Este ano tentei ir para Espanha. Se um dia fosse continuar a estudar ou mesmo trabalhar para outro país e tivesse a oportunidade de escolher, optaria por ir para a Holanda por uma simples e única razão: melhores condições para poder fazer aquilo que é a minha paixão e que aqui se torna impossível de fazer: Ciclismo. É isso que me une ao Pais das Tulipas. O Ciclismo é, desde criança, a minha grande paixão.

Já passaram dez anos desde o dia em que experimentei o Ciclismo-Tandem. Nessa quarta-feira senti uma liberdade imensa, uma paz de espírito que nem sei explicar. Naquela altura era possível andarmos de bicicleta pela cidade. Ciente das dificuldades que havia em arranjar voluntários que servissem de guias, na altura de escolher entre o Ciclismo e o Atletismo, optei pela segunda hipótese por ainda ter autonomia para correr sozinha em pista. Apesar de gostar mais de Ciclismo que de Atletismo, hoje sei que não me enganei ao prever que o Ciclismo na ACAPO iria acabar.

Foi no dia 13 de Junho de 2003 na Lousã que andei de bicicleta pela última vez. Hoje, se sonho que ando de bicicleta, acordo triste. As bicicletas estão paradas a ganhar ferrugem. Acreditem que é com profunda tristeza e algumas lágrimas a quererem rolar que digo isto. Tudo o que eu queria neste momento era voltar a andar de bicicleta pela estrada e voltar a sentir novamente a liberdade perdida.

Se acaso eu tivesse a oportunidade de ir para a Holanda, não me faltariam condições para realizar esse sonho. Com o agravar do meu problema nos olhos, o Ciclismo seria o Desporto mais indicado para mim devido ao menor impacto no solo. No Estrangeiro olham para o Desporto praticado por nós de uma maneira diferente. Aqui em Portugal, certo tipo de tratamento leva -me a pensar muitas vezes que nem seres humanos nos consideram. Retiram o pouco que ainda nos faz feliz e ainda retiram algo que não temos e que merecíamos ter.

São todos estes motivos que me levam a buscar algo pela minha felicidade, pelo meu futuro, pela minha dignidade enquanto pessoa, por tudo em que acredito. Ter mais um objectivo, mais alguma coisa que me faça ocupar o espírito, acaba por ser benéfico para apagar da minha vida os fantasmas que se instalaram e que teimam em não desaparecer.

Foi com expectativa que fui para a primeira aula onde tive o primeiro contacto com a Língua e Cultura Neerlandesa. A sala estava cheia de outras pessoas que também queriam aprender. A maior parte tenciona ir para lá prosseguir uma vida sem oportunidade de progredir na Pátria Lusitana. Eu espero empenhar-me para o que me aparecer. O futuro encarregar-se-á de confirmar se tenho ou não razão em aceitar este desafio.

De entre os meus colegas presentes na sala de aula, destacava-se um por ser mais alto e por ser bonito. Era um alemão que aqui está a estudar. Mas não é tão bonito como outro rapaz que iria ver algumas horas depois. Lá chegarei.

A professora é holandesa e está cá em Portugal desde 1989. A minha amiga falava-me muito bem dela e fez questão de me apresentar nesse dia. Aliás, foi a minha amiga que me incentivou a vir aprender Neerlandês e me deu indicações bem positivas sobre a professora e sobre as aulas.

A primeira aula foi dedicada à pronúncia de cidades e nomes, a um pouco de cultura e aprendemos também a dizer como nos chamávamos. Estava radiante e a valente molha que apanhei no regresso a casa foi encarada de forma divertida. Sentia-me feliz novamente!

Encarei aquela manhã de segunda-feira de forma apreensiva. A música folclórica que passava na rádio animava-me mas, no meu pensamento, pairava o espectro de algo acontecer que me fizesse não chegar a horas. E se a camioneta se atrasa? E se acontece uma avaria e a camioneta não vem? Já aconteceu isso, pelo menos umas três vezes! Sentia um arrepio na espinha de cada vez que me vinham essas ideias ao espírito.

O meu vizinho prometeu levar-me até Anadia. Mas senti um nó na garganta ao vê-lo rebocar o seu carro que tinha sofrido um pequeno acidente. Bem dizia a minha mãe que tinha visto um carro ali e que o cão não parava de ladrar. E agora?

Afinal ele tinha uma carrinha da empresa onde trabalha e lá fomos até à paragem. Aquela manhã estava amena. O nascer do Sol em Anadia emprestava ao Céu tons invulgares. (ver foto)

Continuava a estar preocupada com o eventual atraso da camioneta. De qualquer das formas iria de táxi para o ginásio. Não me restava outra alternativa. Os acessos para ali são complicados.

Quando avistei a camioneta ao longe, senti um peso enorme a se desprender das minhas costas. Estava salva! Mas quando eu não tenho mais problemas, arranjo-os. E se não havia lá táxis disponíveis?

Cheguei a Coimbra e havia lá muitos táxis. Apanhei um e fui até ao meu destino. As horas de descanso ficavam para trás.

Havia um movimento anormal. Parece que toda a gente estava empenhada em queimar as caloriazinhas acumuladas durante um ocioso fim-de-semana.

De fim-de-semana parecia estar ainda o teclado numérico do computador que não queria colaborar naquela segunda-feira de manhã. Quando eles resolveram trabalhar, fui eu que em vez de carregar num nove carreguei num três. Ou será que foi ao contrário?

Nessa manhã recebi a visita da técnica de inserção que veio ver como estavam a correr as coisas. Apanhou-me numa altura em que estava num corrupio de entrega de chaves e cartões. Foi uma forma de ela constatar que me estava a adaptar bem face ao movimento que ali havia na altura.

Oh não! As aulas começaram na Escola Superior de Educação de Coimbra! Junto à porta principal estavam alinhados os caloiros que iam sendo praxados. Parece que foi ontem que, naquela mesma escola, me estavam a praxar a mim. Nem quero acreditar que já se passaram dez anos!

Na cantina, como eu já esperava, começou o inferno. Chegar atrasada vai passar a ser inevitável! E logo hoje que não posso ficar nem mais um minuto para compensar. Também para mim começam as aulas mais logo. Estou ansiosa por começar.

À saída estava um caloiro deitado no chão de barriga para baixo e de braços abertos. Os outros “animais” olhavam aquele acto de praxe com expectativa. Passaram dez anos sobre a minha entrada na ESEC, mas a tradição ainda é o que era. Os novos alunos continuam a andar identificados com umas orelhas de burro feitas com cartolina laranja e azul (essas duas cores perseguem-me) em que se encontra escrito o nome e o curso que vão frequentar. As minhas orelhas ainda estarão guardadas algures.

Nada de relevante que alterasse a rotina se passou naquela tarde. Tinha de ir para a Faculdade com a minha colega, que ela conhece melhor aquele espaço do que eu. A professora também é considerada por ela como uma amiga.

Passada a primeira aula, que eu acima neste texto descrevi, fui para casa. Chovia copiosamente e a molha foi inevitável. Fui a toda a pressa. Era noite de Futebol.

O Sporting jogava com a União de Leiria. Foi nesse jogo que descobri alguém que me transportou a um passado feliz da minha vida. Na cidade do Lis joga alguém que passei a admirar desde aquele instante. Alguém que me fez lembrar a minha feliz passagem pelo seu país de origem- a Polónia.

O jogador do Leiria fez-me lembrar os seus compatriotas com quem convivi durante o tempo que lá estive. Além disso é muito bonito. Eu pessoalmente considero assim.

O Sporting venceu os leirienses por 2-0. Foi também com dois golos contra um do Porto que o Braga venceu o seu jogo que se antevia difícil. Destaque para o primeiro golo arsenalista. Parece que o Benfica jogou em dois campos nesta jornada. Jogou contra o Desportivo das Aves e venceu e ainda jogou no Estádio Municipal de Braga através de Marcel que fez questão de ajudar o seu clube de origem ao apontar um golo precioso para a conquista de três pontos e para a subtracção do mesmo número de pontos ao adversário directo do Benfica. Sobre esse golo falarei ainda neste texto.

O Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim continua com o seu habitual discurso sempre muito inflamado e polémico. Parece que ele se referiu a uma peixaria, não sei a que propósito. Peixeiro é ele!

Situação do dia:
Exagerei nos festejos do primeiro golo do Braga apontado por Marcel. Aproveitando o meu bom humor, nada melhor do que a derrota parcial do Porto para me animar ainda mais. Quem me ouvisse a festejar exuberantemente aquele golo, pensaria que o Braga acabava de vencer a Liga dos Campeões. Foi um acto irreflectido.

Bacorada do dia:
“Valdomiro foi atingido pelo corpo inteiro e completo de Tonel.” (por outras palavras, o jogador do Sporting entrou ao adversário com tudo e mais com um par de botas.)

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