Sunday, December 03, 2006

E se os guias se lesionam?

Acabaram os mundiais de Atletismo para Deficientes. Desta vez não vou falar da tristeza que sinto por não ter concretizado o meu desejo e a minha promessa na Holanda. Antes vou falar de uma situação concreta que devia estar contemplada em regras para este tipo de competições: e se um guia se lesiona e fica impossibilitado de prosseguir em prova como aconteceu com o guia do Nuno?

Os dirigentes andam mais preocupados em suprimir provas de calendários, em limitar a participação de alguns atletas, em colocar tabelas de mínimos que facilitam o recurso a manhas e falcatruas e por aí fora. Os verdadeiros problemas não se discutem.

Os guias que são essenciais para que os atletas desempenhem as suas provas são esquecidos e isso não devia acontecer. Em 1999, (vejam lá aos anos que acontecem episódios lamentáveis envolvendo guias!) quem estava a assistir aos Europeus de Atletismo ficou comovido por um guia ter abandonado um atleta à sua sorte no meio da pista numa prova de 200 metros. Já quando foi a prova de 100 metros o mesmo guia havia abandonado o mesmo atleta. O atleta galgou um painel publicitário e podia ter-se magoado seriamente.

Desta vez o Nuno foi impedido de concluir a sua prova devido a queda do seu guia. Penso que já é hora de os dirigentes que andam tão preocupados com coisas menos importantes fazerem algo para mudar este estado de coisas.

Deviam recorrer a voluntários que estivessem preparados para desempenharem a função de guias, para que os atletas pudessem terminar as suas provas. Já se sabe que o entendimento e a cumplicidade entre atleta e guia se vâo perder, mas o atleta pode prosseguir em prova e não ver todo o seu trabalho ser deitado por terra dessa maneira.

O ideal seria cada atleta ter dois guias, mas em Portugal isso é muito difícil devido à falta de apoios governamentais.

Enquanto não se olhar para o Desporto para Deficientes com outros olhos, muitas lacunas essenciais ficarão por preencher e muitos assuntos importantes ficam na gaveta. O problema é que os dirigentes continuam a dar um passo maior que a sua própria perna.

Agora em jeito de brincadeira, essa de o guia ser substituído por um atleta de lá, na Holanda era demais. Atendendo ao facto de haver ali cada atleta...Apesar de os holandeses serem excelentes fundistas, existem uns que eu conheço que se armam em Kipketeres e em Tergates. Vão fazer provas de estrada para as imediações das suas terrinhas e fazem a meia-maratona em mais de duas horas. O Tergat da Holanda, apesar do esforço e de às vezes até conseguir superar todas as expectativas nunca acompanharia o Nuno. Para o Nuno tinha de ser o Kamiel Maase ou outro craque assim. Os outros ficavam ali pregados ao chão com todas as veias da testa roxas e dilatadas do esforço.

Naquele dia eu acordei bastante triste. Como me deitei tardíssimo, não fui para casa. As saudades dos meus amigos e a não concretização daquilo por que tanto luto não permitem que me sinta plenamente feliz.

É uma vida de cão, a que eu levo. Sem ter quem amo perto de mim. Sem ao menos saber notícias de todas aquelas pessoas que eu deixei e que me proporcionaram a verdadeira felicidade. Todas estas coisas fazem com que a minha vida não tenha sabor. Falta-me algo. Eu identifiquei o que me falta, mas não posso ir buscar. É algo inacessível. Resta-me recordar com saudade os momentos em que tive todas essas coisas que me faziam sentir bem.

Levantei-me tarde. Não estava a dormir. Estava a pensar na minha vida. Não tinha roupa suficiente para vestir. Não estava a contar ficar. Optei por vestir uns calções e uma t-shirt.

Era mais de uma da tarde quando fui tomar o pequeno-almoço. Depois apareceram os meus amigos. Imaginem o que eles traziam? Leitão assado que um comprou. Apesar de ter tomado o pequeno-almoço há pouco tempo e após várias insistências, lá tive de comer leitão com eles. Digamos que foi um pequeno-almoço ou um almoço um pouco esquisito. Uma espécie de dois em um.

Éramos cinco e fomos para o quarto das minhas duas colegas conversar. Depois chegou a minha irmã e aquela tarde tornou-se agradável.

A conversa durou até eu ir ouvir o relato dos jogos marcados para aquela tarde. Ainda tive a ideia de ir ver o jogo entre a Académica e a Naval, mas acabei por ficar em casa a ouvir o relato enquanto assistia ao jogo entre o Porto e o Estrela da Amadora que dava à mesma hora.

Era véspera de 11 de Setembro e na televisão davam documentários alusivos a esse dia tão trágico. Um dos documentários fazia uma reconstituição muito fiel do que se passou num dos aviões que embateu numa das Torres Gémeas. Outro mostrava imagens captadas no interior do World Trade Center. Um grupo de homens procurava salvar o maior número de pessoas que pudesse. A destruição era impressionante. As pessoas tentavam fugir por entre o caos e com ameaças vindas de todo o lado. Tudo aquilo iria ser transformado num monte de escombros não ia tardar muito. Aqueles bravos homens não sobreviveram e eram agora recordados com saudade e algum orgulho pelos seus familiares.

E assim se passou mais um fim-de-semana que eu não contava passar em Coimbra. Uma nova semana de aulas e de decisões estava a chegar.

Situação do dia:
A minha senhoria tinha passado o dia fora e só de noite regressou a casa. Trazia um cesto com comida, mas havia qualquer coisa naquele cesto que não era comestível. Pelo menos para as pessoas normais. Ela começou a tirar as coisas do cesto para cima da mesa. Eu comecei a ouvir um barulho quando meti a mão em cima do pano que cobria o cesto. Até saltei! Afinal era um rádio! O rádio tinha-se ligado sem querer e não estava sintonizado em estação nenhuma. Apenas fazia ruído, daí eu ter apanhado um valente susto.

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