Ao ler este livro, fiquei na dúvida se isto aconteceu na vida real ou é uma história de ficção. Não é a primeira vez que tais incertezas me assaltam. Já aconteceu ler uma obra que parecia ficção e era real e hoje pensei que esta obra era baseada em factos reais, fui ver e é pura ficção.
Seja como for, da forma como está escrita, confunde bastante o leitor. Parece que as pessoas que contam a história a viveram na realidade e estão-nos a contar o que realmente aconteceu. É como chegarmos a uma pequena localidade como esta onde ocorreram os acontecimentos e perguntarmos o que se passou ali. Começa uma pessoa a contar, depois vem outra, outra acrescenta alguma coisa, vem ainda uma outra e diz que não foi bem assim…em suma, o que se passa numa qualquer aldeia.
Este livro aborda a problemática do suicídio na adolescência. Narra a história de cinco irmãs que puseram term o á vida. A mais nova suicidou-se primeiro e as irmãs seguiram-lhe o exemplo algum tempo depois.
O leitor pode verificar que estas jovens viviam no seio de uma família fortemente religiosa e, tal facto, impedia as jovens de viver em pleno a adolescência. Especialmente a mãe era muito rígida quanto ao comportamento das suas filhas. Elas tinham muitas vezes de esconder objetos e adereços básicos, indispensáveis a raparigas com a sua idade. Elas queriam simplesmente ser livres.
Como forma de impedir que elas se envolvessem em namoros próprios de adolescentes, os pais conservaram-nas em casa. Se elas já tinham predisposição para o suicídio, com a privação de liberdades e direitos, tornou-se uma inevitabilidade.
O que aqui choca um pouco é o facto de serem cinco irmãs e todas se terem suicidado, duas delas á segunda tentativa.
Trata-se de uma obra que nos leva a refletir sobre a felicidade e o que a vida nos reserva. Também me leva, mais uma vez a refletir no comportamento desta gente que vive a religião de uma forma pouco saudável. O fanatismo religioso existe em todas as religiões. Ainda ontem estava a ler outro livro que aqui deixei e estava a refletir exatamente sobre o mesmo tema. Mas esta gente não raciocina que o mesmo Deus em nome do qual se privam seres humanos das mais básicas liberdades é o mesmo Deus que tem em vista o bem-estar dos povos? Estas pessoas pensam que Deus aprecia o sofrimento, o martírio, as privações. Se é assim, para que é que as pessoas professam religiões que não passam de invenções do Homem para manter os outros controlados?
Isto das religiões dá muito que pensar. Eu sou da opinião de que nenhum Deus impingiu aos seres humanos a maneira como se devem comportar, o que e quando comer, quando rezar, onde rezar, o que vestir…
No caso deste livro, notava-se que esta senhora era castradora das suas filhas em nome da religião. Como ponto de fuga, as jovens adotaram comportamentos desajustados.
Falando outra vez da forma como o livro está escrito, devo dizer que está simplesmente espetacular. O facto de dar voz a mais do que uma pessoa é uma ideia excelente porque cada um dos narradores que não sabemos quem são vai completar o que se está a narrar. Os narradores são os próprios a dizerem algumas vezes que ouviram outras pessoas dizer que não era assim ou que fulano estava em frente á casa e viu sicrano sair. Há sempre alguém que vê alguma coisa. O conceito de comunidade está aqui bem patente neste livro.
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