Saturday, April 17, 2021

“A Eternidade E O Desejo” (impressões pessoais)

 

Ainda com a temática da deficiência, de certa forma, escolho agora uma autora portuguesa- Inês pedrosa.

 

Em 2005, a autora percorreu os passos do padre António Vieira no Brasil e daí surgiu a ideia de escrever este romance. Não tenho indicação de onde surgiu a ideia de a personagem principal ser cega.

 

Clara regressa ao Brasil alguns anos depois de ali ter sido vítima de um ataque á mão armada que a fez perder a visão e tirou a vida ao seu professor por quem se tinha apaixonado e atrás de quem tinha vindo para o Brasil.

 

Na companhia do seu amigo Sebastião que tem uma paixão por ela, Clara regressa ao brasil para seguir os passos do padre António Vieira por terras de Vera Cruz. O Padre António Vieira é a grande paixão de Clara. Assim como temos ídolos na música, no Desporto ou no cinema, ela admira o padre António Vieira.

 

Sebastião tem aquele instinto protetor que quase toda a gente tem em relação às pessoas cegas. Clara conhece outras pessoas no Brasil, torna-se íntima de algumas e prescinde da companhia do amigo. Sebastião fica bastante magoado. Isso acontece na nossa vida de pessoas portadoras de deficiência visual. Por vezes as pessoas, amigas ou desconhecidas, oferecem ajuda e nós recusamos. Vemos ou sentimos que elas ficam magoadas. Não fazemos isso por mal, simplesmente temos já definido para onde vamos e não podemos afastar daquela rota. No caso de Clara, desenvolveu relações pessoais íntimas e não fazia sentido levar outra pessoa. Como também gostava dela, Sebastião ficoudestroçado.

 

Ao longo da obra, os museus e locais de interesse de Salvador da Bahia são descritos a Clara e aos restantes leitores com deficiência visual que estão a ler o livro. Através dos olhos de Sebastião e dos guias turísticos, é como se estivéssemos também lá e as explicações fossem não para a Clara mas para o seu grupo de deficientes visuais.

 

Clara acaba por ficar no Brasil, alegando o comportamento diferenciado dos brasileiros em relação aos portugueses quando se deparam com uma pessoa cega. No Brasil as pessoas são mais abertas e integram melhor a pessoa com cegueira. Um episódio elucidativo acontece neste livro quando Clara está numa festa e fica triste porque as pessoas falam de cinema e fotografia com ela, mesmo sabendo que ela não vê. Isso acontece porque as pessoas a consideram igual e não porque a estão a gozar. Tem a ver com a diferença de mentalidades que existe entre portugueses e brasileiros.

 

Sebastião regressa sozinho a Portugal e Clara encontrou no Brasil o seu porto de abrigo. Local de encontros e desencontros e de comunhão com o padre António Vieira.

 

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