Sunday, April 11, 2021

“A Morrer” (impressões pessoais)

 

Passando agora para a não ficção, leio agora um testemunho de uma doente terminal na Austrália.

 

No país desta escritora a quem foi diagnosticado um melanoma que se espalhou por todo o corpo, a eutanásia e o suicídio assistido são crime. Ela mandou vir da China um fármaco que guarda para pôr termo á vida quando sentir que está a viver sem dignidade.

 

Ela reflete sobre o que leva á proibição de dar a cada um escolher se deve sofrer para morrer ou se deve morrer com dignidade.

 

Para além destas reflexões, a autora viaja pela sua juventude e, sobretudo, pelas suas memórias de perda de entes queridos. Na nossa sociedade, a Morte continua a ser tabu. Nos hospitais, ela vê na morte uma lembrança de insucesso aos profissionais de saúde que lutam diariamente para salvar vidas, mesmo que para isso prolonguem vidas sem qualquer dignidade.

 

Estes temas estão constantemente em debate em todos os países. Na Holanda, por exemplo, a eutanásia é legal. Quando lá estive em 2007 a fazer o curso de verão, o meu trabalho final foi sobre esse tema.

 

Colocam-se várias questões éticas, como o caso de familiares de doentes porem termo á vida de familiares por questões materiais. Para isso, a legislação sobre este tema deve ser bastante cuidadosa e inequívoca. Para se ter acesso á eutanásia, terá de ser o doente, no pleno uso de todas as suas faculdades, a indicar esse desejo. Jamais poderá ser um familiar.

 

Eu sou a favor da eutanásia somente nos moldes que acima referi e quando o doente está a sofrer cada vez mais a cada dia com uma doença terminal. Eu já tive conhecimento de formas horríveis de cancro em que o corpo das pessoas se decompõe em vida. No meu entender, caso alguma destas pessoas assim o deseje, não se devia negar o pedido de ajuda para terminar com aquele sofrimento. É isso que acontece na Holanda. Um grupo de médicos dá o aval para a prática ou não da eutanásia. Há critérios que têm de ser preenchidos para o aval ser favorável. Penso eu que deixam de parte as doenças psicológicas e aplicam mais a cancros bastante agressivos e a doenças neurológicas degenerativas que, no final da vida, vão causar asfixia aos doentes.

 

Esta questão é, sem dúvida, muito fraturante. Aqui em Portugal, a lei vai andando de um lado para o outro, por mais alterações que lhe façam. Num país ainda com uma forte componente religiosa, duvido que algum dia a eutanásia e o suicídio assistido possam ser permitidos.

 

De referir que a autora deste livro veio mesmo a falecer. Pelo que me deu a entender, penso que ela não precisou de tomar o fármaco. O cancro estava a afetar o cérebro e ela terá morrido de forma tranquila por causa disso.

 

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