Friday, February 24, 2012

“Psicopata Americano” (impressões pessoais)



Apresento-vos uma obra desconcertante que me foi emprestada por um amigo e que aproveitei para ler. O escritor é americano e chama-se Bret Easton Ellis. Até à data nunca tinha ouvido falar dele.

Esta obra é uma sátira a uma classe social que dominou a América nos anos oitenta. Eles eram jovens bem sucedidos e ricos que levavam uma vida de luxos e excessos e eram conhecidos como yuppies. Eram de tal forma estilizados que era difícil distingui-los. Vestiam-se da mesma maneira, não se afastando muito das suas normas e costumes, usavam o mesmo penteado, frequentavam os mesmos restaurantes e discotecas (quase sempre as mais chiques ou que tinham acabado de abrir) e consumiam os mesmos produtos de luxo.

Neste livro é ridicularizado esse comportamento a ponto de o escritor partir da ideia de que, se acaso um deles fosse um assassino em série, facilmente sairia impune porque não haveria como o identificar para o condenar. E dessa ideia nasce esta obra que combina a comédia dos usos e costumes de uma classe social com o terror puro através dos crimes hediondos que o personagem comete.

Patrick é um jovem bem sucedido nos negócios e na exigente vida de Wall Street. À partida, nada o distingue dos outros yuppies com quem se relaciona, no entanto, Patrick é um tipo muito estranho que vê morte e terror em tudo, até na comida. Os seus instintos assassinos levam-no muitas vezes a deixar os seus amigos para ir procurar alguém para matar. Os seus alvos preferenciais são mulheres que leva para casa, se envolve com elas e depois as mata de forma hedionda durante ou depois do acto sexual. Digamos que ele tem um fetiche pela morte e pela mutilação. Acaba com a vida de prostitutas e também com a de raparigas da sua classe que encontra nos lugares chiques que frequenta.

Muitas vezes nota-se que o protagonista tenta proteger as raparigas que lhe são mais chegadas dos seus próprios instintos assassinos. Ele nunca chega a assassinar a Evelyn, a Courtney ou a Jean. Foge sempre delas quando o seu instinto de morte se apodera dele.

Tirando os crimes em série que comete, as mutilações, o espectáculo de morte a que gosta de assistir, Patrick gosta de treinar no ginásio e de ver o programa da Paty Winters que deve ser uma espécie de programa da Fátima Lopes. Digamos que nessa altura já havia esse formato de programas nos Estados Unidos e só em finais dos anos noventa, com a chegada da SIC e da TVI é que chegou ao nosso País.

Nesta obra ressalvo a forma como a história nos é contada que nos permite ter uma ideia bem aprofundada do mundo de Patrick, dos seus instintos, dos seus sentimentos (ou da falta deles) e das suas aspirações. Esta história é-nos contada sob a forma de um diário narrado pelo próprio protagonista que vai ao minucioso ponto de descrever o que cada uma das pessoas com quem se encontra está a usar (refere as marcas todas) e não deixa ficar para trás o que de mais sombrio lhe passa pela cabeça. Estou seriamente a pensar fazer um diário do mesmo género quando tiver o blog actualizado. Seria engraçado. Ao ler este livro, lembrei-me muito desta música por causa das referências às marcas.



De referir que houve um capítulo neste livro em que o protagonista fazia uma reflecção e tecia as suas impressões pessoais sobre a carreira de Whitney Houston. Curiosamente a leitura desse capítulo coincidiu com a data da sua morte. Eu não sabia o nome deste tema e, graças a esta obra, fiquei a saber.



O que eu achei mais engraçado neste livro? O facto de, mesmo entre eles próprios se confundirem uns com os outros, tal é o padrão de comportamento entre os yuppies. Marcavam mesas em restaurantes de luxo no nome uns dos outros e isso permitiu muitas vezes a Patrick levar as suas vítimas a jantar em restaurantes chiques com mesa marcada no nome de outro companheiro que ficaria com as culpas do crime mas que se viria a provar estar noutro local naquele dia.

Esta leitura alimentou em mim uma certa inspiração. Parto do mesmo pressuposto do autor. Alguém imaginaria um homem com um emprego sério em Wall Street a esquartejar e a mutilar pessoas depois de as torturar até à morte? Eu diverti-me a imaginar, por exemplo uma avozinha, dona de casa, que mal consegue arrastar as pernas a sair pela calada da noite e a semear o horror pelas ruas empunhando objectos do quotidiano usados com a finalidade de cortar, mutilar, torturar, matar. Fui mais longe. Imaginei gente conhecida com uma vida normal, um emprego, uma família, pessoas pacatas, algumas até um pouco desajeitadas a cometerem crimes do mais hediondo que há. Imaginei uma dessas pessoas com uma faca na mão e imaginei-a a usar essa faca a matar a primeira pessoa que encontrasse. Com um bocado de sorte, ainda usaria o lado errado da faca para degolar a vítima. Não deixei de me rir com a ideia.


Vamos mudar um pouco de género literário mas o personagem da obra que vou ler não será muito diferente do Patrick em termos de gosto pelo que é caro e luxuoso, pelos prazeres da vida. Tirando o facto de ter um instinto assassino, em tudo se parece com este personagem. Aliás, como reagiria a comunidade internacional se acaso se lançasse o boato de que Cristiano Ronaldo se levantava pela calada da noite e saía por aí a espalhar o terror? Acho que haveria gente que não se importava mesmo nada de ser morta por ele, digo eu. Penso nisto. Imediatamente me começo a rir. Terror só nas imediações das balizas adversárias.

No comments: