Era uma noite escura e fria

 

Estamos em pleno inverno. O frio não dá tréguas. É de noite que ele atinge os limites do suportável. Mesmo com muitos cobertores na cama, não consigo aquecer.

 

O sono também não chega. Enquanto os meus pés não atingirem aquela doce dormência, o sono tardará a chegar.

 

Nem um único som se ouve. Tudo está silencioso, escuro e frio. A madrugada já vai alta. Daqui a pouco nasce um novo dia e cada vez está mais frio.

 

Tento não olhar para o relógio. O simples ato de olhar para o relógio ainda me faz sentir mais frio.

 

Pouco a pouco, vou-me sentindo aquecer. O silêncio e a escuridão potenciam a mente a vaguear por pensamentos estranhos e surpreendentes. Sinto-me prestes a adormecer. A tão ansiada dormência quente das mãos e dos pés finalmente é sentida. Já posso dormir.

 

Experimento aquele estádio delicioso entre o sono e a vigília. O real cruza-se com o fantástico, as sensações do corpo misturam-se.

 

Da escuridão total imagino o imergir de uma enorme fogueira quente e luminosa. Uma fogueira que aquece até a alma. Uma luz e um calor que transmite conforto.

 

Também o cheiro agradável de lenha a arder me invade as narinas. Imagino algumas brasas tiradas para o lado onde foi colocada uma velha cafeteira de alumínio com água a ferver para fazer uma deliciosa bebida quente.

 

Num lampejo de vigília que me resta, vejo-me a acrescentar duas colheres de café na água. O agradável aroma da bebida mistura-se com o aroma aconchegante da fogueira.

 

Viajo em pensamento até á minha janela. Imagino chuva e flocos de neve caindo na rua. Dentro a fogueira e o café vão aquecendo corpo e espírito.

 

Imagino-me a colocar o café numa caneca de barro. Levo-a aos lábios e imediatamente um calor gostoso me invade. Agora estou confortável.

 

Sinto antes de adormecer que o meu corpo já aqueceu. Estão reunidas as condições para um sono reparador que lentamente sinto chegar. Imagino-me a flutuar junto á fogueira. A cafeteira ainda descansa sobre o monte das brasas. A caneca de café repousa em cima da mesa.

 

A última sensação de frio abandona-me. É hora de saborear o conforto!