Tuesday, January 26, 2021

” Correr (Não) É Para Meninas” (impressões pessoais)

 

Trago hoje aqui um livro que despertou em mim sentimentos muito ambíguos. Trata-se de um livro da minha biblioteca que pedi que me digitalizassem para poder ler. Acho que não há livros que retratem tão bem a vida que deixei para trás como este.

 

Tenho ainda alguns livros sobre corrida e exercício. Quando os comprei, jamais imaginei que tão rápido deixaria de fazer aquilo que mais gostava e que era correr na rua.

 

Alexandra hemingsley, uma escritora e jornalista inglesa, traz-nos nesta obra o seu depoimento pessoal de como descobriu a corrida e como esta influenciou a sua vida. Conta as suas experiências em provas de longa distância e em treinos não se esquecendo de dar conselhos a quem começa a correr, sobretudo às mulheres- a quem o livro é destinado.

 

Comungo da ideia da autora, a corrida é um meio de libertar o espírito. Eu corria na rua de manhã cedo para recarregar energias para um dia de trabalho que se previa difícil. Era mais fácil encarar o quotidiano se levasse já alguns quilómetros nas pernas logo pela manhã.

 

É disso que tenho saudade. De sentir o ar gelado bater-me na cara, de ouvir o som dos meus pés a bater na calçada, de saltar a minha velha amiga mangueira com que lavavam o pavimento…

 

Correr era para mim um sentimento incrível de liberdade. Algo que não tinha com outra atividade. Sentia que me libertava das amarras de um corpo que não escolhi ter. De uns olhos que me amarravam a um mundo que certamente teria escolhido ver de outra forma, caso me tivesse sido dada oportunidade para tal. O Desporto, especialmente a corrida, sempre teve em mim este efeito libertador. Para continuar de certa forma a ter essa liberdade, há o futebol. Também não tenho amarras quando jogo, apesar da escuridão que me rodeia em campo.

 

Por váriasvezes, senti uma certa tristeza, uma certa nostalgia ao ler esta obra. Senti que me arrancaram um pedaço de mim. Até hoje, é daquelas coisas que fazia na minha anterior existência de que sinto mais falta.

 

A medida que ia lendo, ia recordando treinos que fiz. Antes de a minha situação nos olhos se ter agravado, andava a fazer treinos muito bons. Aí em finais de novembro de 2018, estava num bom momento de forma. Estava feliz com isso ao menos nesse capítulo da minha vida. Depois comecei a ver menos e a travar mais.

 

Ainda hoje me pergunto como era possível em pleno inverno eu deixar o quentinho da cama e ir para a rua, por vezes com temperaturas negativas. Era a recompensa final de felicidade que me movia. Era o sorriso aberto estampado na minha cara logo na chegada ao trabalho que me fazia mover. Era com esse espírito que encarava as coisas menos boas que podiam estar a acontecer na minha vida nesses tempos.

 

Corri até ao dia que me foi possível, tal como aconteceu com o trabalho. Em suma, era a corrida que permitia que fosse mais fácil viver uma existência que para mim nunca foi fácil, como devem compreender.

 

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