Tuesday, March 19, 2013

Poio ou poia





Num Domingo cinzento e com uma chuva fraca, saímos de Coimbra rumo ao local de mais uma caminhada que iríamos realizar em conjunto com os nossos companheiros de Tomar junto à Serra de Sicó.

Adivinhavam-se dificuldades inerentes ao traçado do percurso com algumas elevações e trilhos sinuosos. Já vinha preparada para enfrentar as adversidades. Em suma, é este espírito de aventura que dá o sal e a pimenta às caminhadas.

Reunimo-nos aos nossos companheiros e lá seguimos em amena cavaqueira pelos trilhos. Havia de tudo. Estrada, terra batida, pedras e vegetação densa onde só passava uma pessoa de cada vez e tínhamos de ir agachados. Ia eu tão curvada, que até perdi o meu bidão da água que ia num bolso da mochila. Seria uma grande perda, porque o fui despejando durante o percurso devido ao esforço que fazia sede.

Agora posso dizer que esta foi a caminhada mais puxadinha que fiz. As subidas eram autênticos muros para escalar. Depois passámos por caminhos onde praticamente só havia pedras. Com a ajuda dos companheiros, consegui vencer a parte mais perigosa.

Caí em duas ocasiões. Da primeira vez, escorreguei numa pedra que estava molhada e lustrosa e, para cúmulo, tinha um buraco cheio de água. Assentei mesmo o cu na água, que até me consolei. Um colega que ia atrás de mim também caiu no mesmo local.

Mais adiante havia lama escorregadia. Atrás de mim, seguia uma companheira que tinha a particularidade de trazer um guarda-chuva aberto. Ainda agora me estou a rir ao recordar a imagem dela a deslizar na lama com guarda-chuva e tudo. Parecia que tinha aterrado de pára-quedas. Poucos metros mais à frente, foi a minha vez de deslizar na lama.

Depois de muitos quilómetros nas pernas em percurso muito acidentado, os quilómetros finais foram um calvário. Toda a gente ia muito devagar, vergada ao cansaço que se fazia sentir. Vi gente a parar a abrir ou fechar guarda-chuvas, a dar um jeito ao vestuário, a esperar por companheiros…já nem se andava para trás, nem para a frente, as pernas não obedeciam.

Eu estava de rastos, mesmo assim ainda passava vários companheiros que deviam vir mais desgastados do que eu. Refira-se que a subida era feita em terra batida, logo não tinha ali dificuldade. As pernas é que não davam para grandes cavalgadas.

Quando cheguei à estrada, tive uma sensação que não experimentava desde os meus tempos de alta competição- a sensação de chegar à meta depois de uma corrida de quatrocentos metros. Aqui a meta vinha em forma de autocarro que estava estacionado ali, juntamente com os veículos que transportavam os nossos animados companheiros de tomar que passaram a caminhada toda a animar as hostes.

Estava lá o autocarro, pois estava, só que…saía dele uma fumarada imensa. Foram várias as tentativas para o colocar em marcha mas ele ia-se abaixo e do seu motor saía um fumo branco e nauseabundo que nos invadia as narinas. Ora essa agora!

Sentámo-nos nas pedras a descansar enquanto não vinha um autocarro para nos recolher num local chamado…Poios e que ficava ainda distante de tudo.

Tivemos de comer o que ainda restava nas nossas mochilas. Eu ainda tinha um pacote pequeno com umas três ou quatro bolachas. Tinha consumido apenas as barras energéticas que tinha levado.

Alguns de nós fomos ainda a pé até uma localidade chamada Anços ao encontro do autocarro para indicarmos o local onde estaria o resto do grupo. Por ali não passava vivalma.

Eu também fui com quem ainda tinha forças para mais uma caminhada extra. O piso agora era em estrada e quase sempre a descer. O Sol brilhava agora e o Céu estava azul. Não sabia que horas eram mas deviam ser aí umas três da tarde. Quando numa aldeia alguém nos deu as boas tardes, eu fiquei atarantada, tal é o hábito de caminhar de manhã.

No local onde estivemos de manhã, esperávamos agora o autocarro que entretanto tínhamos encontrado pelo caminha para explicar onde estava o outro autocarro- o que estava avariado- e o resto do grupo. À frente vinha uma carinha de assistência para tentar reparar a viatura.

O autocarro novo e limpo recolheu-nos. Cheirava agradavelmente bem e eu toda enlameada. Só levo roupa suplementar para as caminhadas quando vamos para sítios onde ficamos até tarde. Para Tomar, por exemplo, que é onde vamos dia 21 de Abril para mais uma caminhada das difíceis. Levamos mais uma história para contar aos nossos companheiros que entretanto se foram embora. Ah, íamos nós pela estrada, ao encontro do autocarro, quando passou por nós um dos carros que transportava alguns dos nossos colegas de Tomar. Também tinha havido um carro deles que ficou pelo caminho. Isto é que foi uma aventura! Uma história que será recordada por muitos e longos anos, até porque há fotos.

No comments: