Wednesday, March 13, 2013

“Crónica De Uma Morte Anunciada” (impressões pessoais)



De tanto ouvir falar maravilhas de Gabriel Garcia Marquez e da sua obra, fiquei tentada a ler algo dele quando surgisse a oportunidade. Sinceramente, já nem me lembrava que tinha este livro lá em casa. Tenho tantos…

Esta obra leva-nos a reflectir sobre a inevitabilidade da morte. Quando alguém morre, especialmente se essa morte não é consequência de causas naturais, ouvimos sempre alguém durante as cerimónias fúnebres ou mesmo depois a dizer que se a vítima fizesse diferente, a tragédia não se dava. Penso que nem é preciso ler esta obra para chegar à conclusão de que há algo superior que se conjuga para que termine uma vida que está destinada a terminar naquele momento e não mais tarde.

Aqui na obra, este fatalismo da Morte, a sua inevitabilidade, é aqui levada ao extremo. Quer-se dizer, os assassinos apregoaram aos sete ventos que iam matar Santiago para reporem a honra da sua irmã, algumas pessoas (muitas mesmo) têm intenção de avisar a vítima mas algo se interpõe nessa altura e acabam por nunca mais se lembrarem. Há quem venha determinado em o avisar mas eis que chega alguém, outros não se querem meter, uma vez que se trata de uma questão de honra. Houve quem tirasse as facas aos assassinos mas eles logo foram buscar outras…

Repare-se no dia em que este crime ocorre. Havia um alvoroço na localidade devido à espectativa de um bispo que passava de barco parar, saudar a comunidade e celebrar missa. O que aconteceu? O barco com o bispo simplesmente passou e seguiu viagem. As pessoas continuaram no mesmo local algo desiludidas. Foi nesse clima que se deu o crime.

Repare-se nos desencontros que se deram no momento fatal. O amigo procurava Santiago dentro de sua casa. Ele, que o tinha perdido na multidão e o queria proteger do seu destino. Ninguém o viu entrar em casa da namorada e muita gente estava na rua. A mãe de Santiago procurava-o no quarto quando ele estava na rua a ser atacado. Ainda a mãe, fechou a porta no trinco, impedindo o filho de escapar aos golpes dos irmãos Vicario, na tentativa de barrar a porta aos assassinos, ainda pensando que o filho estava dentro de casa. Enfim…tinha que ser. Como disse um personagem desta história: “era como se ele já estivesse morto”.

Os presságios, as crendices, a inevitabilidade da tragédia e da morte estão muito presentes na literatura dos escritores latinos. Igualmente presente nas suas obras está uma queda para o pormenor mais descarado. Já referi isso em outras obras de escritores latinos, mesmo em escritores portugueses. Aqui nesta obra, são enumeradas as vezes que cada um dos irmãos Vicário foram à casa de banho, é narrada a diarreia súbita de Pablo (é aqui usado o termo tão querido das gentes da aldeia cá em Portugal- a palavra “soltura” que muita gente ainda utiliza quando vai ao médico queixar-se de diarreia), a dificuldade em urinar de Pedro…

Os escritores da América Latina têm uma coisa que serve para prender o leitor até ao fim: têm um vocabulário muito rico e pouco formal. Contam as coisas como elas realmente são sem recorrerem a grandes floreados. Isso torna as obras fáceis de ler e mais atractivas para todos os tipos de leitores.

Adorei esta obra. Foi mais uma que li de um laureado com o Prémio Nobel da Literatura. Gabriel Garcia Marquez foi contemplado em 1982. Penso que este escritor colombiano ainda é vivo. Está muito velho e já deixou de escrever há uns anos por não estar na plena posse das suas faculdades. Não me lembro de ter ouvido dizer que ele tenha morrido.

E prosseguem as leituras agora com alguns pequenos livros que não me ocuparão muito tempo.

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