Tuesday, January 03, 2012

Noite de surpresas

Não escondo que esperava qualquer coisa daquela noite em que decorreria o nosso jantar de Natal mas não estava mesmo nada à espera do que realmente sucedeu e me deixou sem palavras.

Para esta segunda-feira estava marcado um jantar de Natal do meu trabalho. Seria em Santarém e o meu chefe fazia muita questão em que eu fosse. Eu também disse que gostaria de ir mas, como sempre acontece, nunca sei como me deslocar seja onde for por não me ser possível ter transporte próprio. Se eu tivesse essa possibilidade, iria a todo o lado que me apetecesse e divertia-me mais. Inclusive iria visitar amigos que não vejo há anos e gostaria de reencontrar.

Disseram que me arranjariam boleia mas eu estive até poucas horas do jantar sem saber se ia. Mesmo assim alertei as pessoas na Residencial para a eventualidade de poder chegar mais tarde. Não haveria qualquer transtorno em saber se ia à última hora. Não tenho família em casa para esperar por mim. É a vantagem de ser solteira.

Sentia uma ansiedade inexplicável nesse dia que já me causava sintomas físicos. Não sabia por que a sentia. Pressentia algo especial mas não sabia precisar o que era.

A confirmação só chegou uma hora antes de partirmos. Fiquei contente por ir passar uma noite diferente e na companhia de muita gente. Era a oportunidade para conhecer alguns dos colegas com quem tenho apenas oportunidade de falar por telefone. Estaria ali a possibilidade de os conhecer e num ambiente mais descontraído.

A tarde estava agradável quando percorremos as ruas de Coimbra para apanharmos os restantes colegas. Era noite quando saímos da cidade rumo a Santarém, apesar de não ser tarde. Lá fomos muito divertidos rumo ao nosso destino.

Ao longo da viagem, fui imaginando como seriam algumas das pessoas com quem falava habitualmente e como reagiriam elas quando me vissem. Já há muito que eu não fazia esse exercício. Recordo-me que era habitual eu fazer isso nos tempos da rádio quando eu não conhecia pessoalmente esta ou aquela pessoa, com destaque para a minha grande amiga Cristina. Enquanto não a conheci, imaginava como ela era e não me afastei muito.

Destaquei, sem saber porquê, uma colega em concreto. Nessa noite ela viria a estar mesmo à minha frente e a ajudar-me.

Chegamos um pouco mais cedo. Eu estava estarrecida a olhar para a imponência daquela loja. Tinha estado até numa maior mas, com os enfeites de Natal, aquele edifício parecia tirado de um sonho colorido.

Fui-me aproximando dos colegas e foram-me apresentados alguns antes de seguirmos para os nossos lugares na mesa. Tinha pouca fome. À noite não estou habituada a comer e estava mais empenhada em aproveitar o momento.

Sentámo-nos e fomos conversando um pouco. À minha frente estava precisamente a colega de quem me lembrei nessa tarde com mais insistência à saída de Coimbra. Nem de propósito. Aproveitámos para conversar e ela também me ajudou.

Depois do jantar houve uma apresentação de vídeos da nossa empresa. O meu chefe estava a fazer uma pequena apresentação deles. Entretanto as luzes haviam-se apagado, sendo substituídas por velas que se encontravam em cima das mesas.

A certa altura, o meu chefe deu a conhecer a toda a gente que eu estava ali naquela sala e logo irrompeu um aplauso depois de ele me ter apresentado e ter mencionado o problema visual que tenho. Noventa e nove por cento dos presentes naquela sala desconheciam.

Fui aplaudida de pé mas não imaginava o que viria a seguir. Todos se votaram para o projector de vídeo onde era passado outro vídeo, salvo erro, com uma música da Mafalda Veiga como som de fundo. Eu não conhecia a música. Apenas a estava a ouvir. A certa altura, as colegas que estavam à minha frente alertaram-me para o que estava a ser projectado. Era eu! A minha voz irrompeu então pela sala através do projector e do sistema de som. Uma semana antes, o meu coordenador pediu-me para me preparar para fazer um vídeo. Não fazia ideia alguma de que aquele vídeo seria para passar ali.

Depois das minhas palavras, irrompeu uma estrondosa salva de palmas pela sala. Ainda mais intensa do que a primeira. As minhas colegas que estavam em frente davam-me os parabéns. Não sabia o que dizer. Estava sem palavras. Há anos que não sabia o que era isso. Da outra vez que isso aconteceu foi quando houve um almoço entre atelas deficientes visuais. Isto passou-se numa altura em que enfrentava uma época difícil com sucessivas operações aos olhos. Eles homenagearam-me e eu acabei por tecer ali um discurso bem emocionado de despedida. Nunca mais voltei a ver parte deles desde essa longínqua tarde quase há seis anos atrás. Essas imagens vieram-me novamente ao espírito mas desta vez o contexto era diferente, bem mais alegre. Acima de tudo estava muito feliz. Foi uma grande surpresa!

O evento prosseguiu com variedades e karaoke. Havia que regressar a Coimbra. No dia seguinte seria dia de trabalho. Um dia que iria enfrentar com uma injecção de alento bem nutrida.

Enquanto percorríamos a estrada que nos levava a Coimbra em amena cavaqueira, enquanto olhava em frente para o ponto indefinido de estrada que tinha na minha frente, ia absorvendo cada momento que me restava. Fora uma noite inesquecível e muito feliz.

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