Monday, May 21, 2007

No meu tempo não era assim


Andar todos os dias em transportes públicos urbanos é cansativo. Porém é dentro dos autocarros amarelos que se vivem e presenciam histórias mirabolantes. E as conversas cruzadas? São do melhor e mais enriquecedor que há.

O incrível é que há determinadas conversas que começam numa ponta do veículo e percorrem-no até ao extremo oposto. Um fenómeno difícil de explicar à luz da Ciência.

As conversas mais frequentes nos autocarros são sobre a vida alheia. Falam dos vizinhos, dos filhos, dos conhecidos, dos familiares mais afastados...Tudo menos da sua vidinha que parece não padecer dos defeitos da vida dos outros.

Outro tema com muita saída nos autocarros é a desgraça. São as catástrofes, os acidentes e as tragédias. É raro o dia em que não ouça alguém a lamentar-se da sua pouca sorte ou da sorte que tem um familiar. Uma notícia que comova a sociedade também é espremida ao máximo por quem melhor sabe comentar- o povinho.

A actualidade também se discute dentro dos autocarros citadinos que percorrem as ruas de Coimbra. A crise, as novas regras e o estado do tempo têm assento em autocarros que costumam vir lotados.

Mas hoje venho falar do tema favorito das pessoas de uma certa faixa etária mais avançada- as recordações do passado e as comparações entre ele e os dias de hoje.

Tovim é um local que inspira as pessoas a dar à língua. O autocarro faz uma paragem de alguns minutos que parecem horas. Isso não tira minimamente a vontade de falar a algumas pessoas mais idosas que não estão sujeitas à correria da nossa vida.

Duas senhoras de uma certa idade trouxeram para cima da mesa, ou melhor, para cima dos assentos do autocarro, um tema deveras interessante: a indumentária usada nos dias de hoje e o vestuário usado no tempo em que aquelas duas criaturas eram jovens e tinham sonhos.

Com certo sarcasmo e com alguma ponta de inveja, as senhoras criticavam a forma arrojada como os jovens de hoje andam vestidos. Do rol das suas recordações constam as parcas peças de roupa de que dispunham e que não lhes davam alternativas para se apresentarem bonitas.

Os vestidos de chita bem prendados e em quantidade reduzida marcavam a indumentária feminina de há meio século atrás. Nem pensar em usar calças. Nem sonhar com ousadas mini-saias.

Para além de terem pouca roupa- normalmente tinham dois ou três vestidos, sendo um deles para levar à missa no domingo- as idosas lamentavam o controlo a que na altura eram sujeitas por parte dos pais que lhes impunham o que deveriam ou não vestir.

Depressa a conversa se estendeu a outros idosos que estavam sentados na parte de trás do veículo. Passados alguns minutos a conversa estendia-se e a mistura de vozes gastas pelo passar dos anos fazia-se ouvir. Os jovens olhavam sem tomar parte naquele desdobrar de memórias dos avozinhos.

Sentada ao lado das senhoras que deram o mote para a discussão, eu ia reflectindo sobre tudo o que ouvia. Concluí que não gostaria de ter vivido naquela altura. Tenho aversão a saias ou vestidos e gosto de vestir o que me apetece, de modo a ter uma aparência descontraída e desportiva.

Graças a Deus que tenho oportunidade de viver no século XXI. No meu tempo as coisas são assim e cada um veste da maneira que mais lhe agrada. Vestidos de chita só nos concursos para o efeito que todos os anos se realizam em Anadia.

Oh não! Que vida a minha! Todas as segundas-feiras a mesma coisa! Ameaça chover e eu ainda tenho de ir de motorizada apanhar a camioneta para Coimbra.

Ainda esperei longo tempo pela camioneta que se atrasou. Eu não me lembro se alguma vez ela chegou a horas decentes. Acho que nunca. Pelo menos sempre que eu tenho de a apanhar, ela nunca chega a horas.

Em Coimbra o autocarro que me transporta para Celas é o mesmo que transporta inúmeras pessoas para as unidades de Saúde mais importantes da cidade. Nem se consegue respirar dentro daquele autocarro. Se as pessoas estão doentes, mais doentes se apresentam no médico. São tantos os empurrões, puxões, apertões que dão cabo da pouca saúde que as pessoas já levam. Devia haver um desdobramento para evitar tal confusão. Mas há mais autocarros que vão para os HUC e as pessoas precipitam-se para dentro do que vem primeiro. Até se matam para entrar primeiro que a pobre velhinha apoiada em canadianas que vem lá atrás e já levou 5846155 encontrões.

Se reclamam que o autocarro vem cheio, a culpa é delas. Aposto em como o seguinte não encontra ninguém na paragem. Ainda os autocarros não chegaram e já há pessoas passadas na paragem porque a consulta estava marcada para as oito e meia e o autocarro já está atrasado. Depois é a selva nua e crua.

Dada a confusão que grassava num autocarro, que nem sei como consegue mover as rodas de tanto peso que leva, tive de sair numa paragem diferente e pela porta dianteira. Por esse facto me confundi um pouco no caminho. Mas tudo acabou por correr bem.

Do local onde me encontro a trabalhar é possível ver o que se passa na rua. Uma criatura passou por lá com um chapéu muito cómico. E se chovesse? Ia ser de morrer a rir!

A chuva caiu mesmo ao final da manhã quando eu ia a sair para almoçar depois de uma manhã normal de trabalho.

Depois do almoço apanhei um autocarro que também teve uma longa paragem junto do hospital. Reparei num cartaz que lá existia e que chamava a atenção para os problemas da Saúde em Portugal. Até tirei uma foto.

A tarde ficou marcada por uma pequena falha de luz de origem desconhecida. Depois fui para casa acabar de ver o jogo entre o Benfica e o Bayern de Munique a contar para o Torneio do Dobai.

No autocarro umas raparigas seguraram-me quando ele travou. Por falar nisso, quando fui almoçar ia para me enfiar noutro autocarro.

Para minha sorte o jogo foi para prolongamento e teve de ser decidido por penalties.
Moretto mostrou que é especialista neste tipo de lances e defendeu dois remates dos jogadores da equipa alemã.

O Desporto dominava mesmo a actualidade naquele fim de tarde. Confirma-se que o Beira-Mar vai receber forte investimento de uma empresa espanhola de agenciamento de jogadores. Isso trará profundas mudanças na estrutura do plantel profissional. Desde logo o comando técnico da equipa fica a cargo do espanhol Francisco Soler.

Também de Espanha chega a notícia de um exemplo de interdisciplinaridade no Desporto. De Futebol, os jogadores Luiz Fabiano (que teve uma ténue passagem pelo Porto) e um jogador uruguaio do Maiorca chamado Diogo passaram para um combate de boxe de fazer inveja a Mike Tyson. Os amantes das duas modalidades não deram por mal empregue o dinheiro dispendido nos ingressos. Ficaram satisfeitíssimos. Diz-se que um ferrenho adepto do Sevilha convidou um seu amigo que detesta Futebol, mas que adora lutas, para o acompanhar ao estádio. O indivíduo resistiu, mas acabou por experimentar. Ao ver o espectáculo oferecido por aqueles jogadores sul-americanos já diz que vai adquirir um bilhete de época para ele e para uns seus amigos que praticam Vale Tudo. Há muito que aprender com estes exímios desportistas vindos, precisamente, dos países onde não basta apenas saber jogar à bola, também é preciso ser bom na porrada.

Ao final da noite, questões relacionadas com a falta de água nas torneiras da casa de banho e o mau estado do autoclismo levaram a uma acesa discussão entre mim e a minha senhoria.

No Lisboa-Dakar cumpriu-se o terceiro dia de prova já em terras marroquinas. O nosso autocarro ficou retido numa pequena aldeia devido a uma avaria que não pôde ser resolvida em tempo útil. Os restantes veículos motorizados seguiram rumo a mas uma etapa.

Situação do dia:
Aquando da marcação da sua grande penalidade, Luisão chutou a bola com tanta força que deve ter feito um buraco na rede da baliza. Pelo menos a bola saiu por trás.

Bacorada do dia:
“Chupicao” (Chipicao, naturalmente.)

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