Wednesday, May 02, 2007

Morte: esse imprevisto tão previsível

O dia mal tinha raiado e já ecoava o toque do telefone por toda a casa. Em condições normais a minha mãe ficava aflita e iria atender o telefone com o coração quase a sair-lhe pela boca. Desta vez todos sabíamos que o telefone a tocar a uma hora daquelas seria para dar a notícia de que já estávamos à espera- a morte do meu primo.

Desde há uns dias a esta parte que esperávamos o pior. A doença era implacável e mortal. Nem um milagre poderia salvar o meu primo do seu destino já traçado. Ele que tivera também uma existência bastante sofrida, cheia de problemas e inquietações. Perdeu a mãe muito cedo, vitima de uma doença horrível que lhe causou um sofrimento atroz. Um acidente rodoviário fez com que lhe fosse amputada a perna esquerda, ultimamente estava a ver cada vez menos devido, porventura, aos diabetes de que também padecia…

Apesar de ser a coisa mais certa que temos, como se costuma dizer, a morte acaba sempre por nos causar algum embaraço e faz com que os familiares da pessoa falecida se desdobrem em contactos para avisar os parentes e amigos e para preparar as cerimónias fúnebres. A morte de alguém vem sempre mexer com o quotidiano dos que cá ficam. Apesar de previsível desde a nossa vinda ao mundo, o nosso desaparecimento torna-se assim o maior imprevisto.

Naquele dia tudo se alterou. Nada do que estava combinado foi feito. Apesar da gravidade da doença do meu primo, ninguém fazia os devidos contactos ou preparava o seu funeral antes da hora. As coisas são assim!

Por minha parte, lá se foram as férias antes do estágio e os dias tranquilos. As cerimónias fúnebres e tudo o que envolve a perda de um familiar marcam a rotina lá de casa. Jamais imaginei passar assim estes dias, apesar de a morte conviver connosco a cada momento. É sempre o grande imprevisto!

Eu fiquei um pouco à margem dos preparativos para o funeral do meu primo. A minha mãe tratou de tudo com a ajuda dos meus primos. Foi chamado o irmão que os acompanhou até à Figueira da Foz para ir buscar todos os documentos. A minha irmã também foi e pediu um dia de licença de trabalho para assistir ás exéquias.

Eu fiquei por casa a receber quem nos vinha dar os sentimentos.

Como tinha de ficar por casa e não queria perder a forma física, até porque há prova já no próximo dia 6 de Janeiro, fiz um treino de bicicleta. O dia seguinte seria reservado para comparecer no funeral. Não havia tempo para treinos.

Parece que também escrevi uns textos para o blog que, como se sabe, anda desactualizadíssimo.

O serão foi passado a tratar da cama para o irmão do meu primo falecido pernoitar e para lhe preparar a comida. Houve também uma primeira vista de olhos passada aos documentos trazidos da Figueira da Foz. É que se esperam problemas por causa da casa que ele deixou. E que problemas!

Bacorada do dia:
“Nem morta ponho os pés numa casa mortuária!” (Pois não! Levam-na para lá.)

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