Saturday, May 19, 2007

Ano Novo velhos problemas


O ano de 2007 começava logo com uma sempre temível ida ao oftalmologista para mais uma consulta.

Ao contrário da última vez que lá fui e que deu um dos mais inspirados textos deste blog, o ambiente estava calmo. A época das festividades ainda se fazia sentir. As poucas pessoas que havia na sala de espera apenas teimavam em não fechar a porta quando entravam ou saíam. Nada do barulho de ocasiões anteriores.

A consulta era de Hipovisão, mas, mediam a tensão ocular na mesma. Esta estava novamente elevada para mal dos meus pecados. Apesar disso, a médica disse que não havia que me preocupar. O que é certo é que me preocupei. Não queria passar por todo aquele inferno outra vez. Realmente há que me preocupar. Não me digam que o Novo Ano trouxe de volta aquilo que é mais terrível para mim: a ameaça constante com que vivo.

A médica que dá a consulta de Hipovisão tem a particularidade de classificar os atletas deficientes visuais para as provas desportivas. Isso foi tema de conversa entre ela, eu e a técnica que trabalha com estudantes com visão reduzida.

O meu futuro também foi tema de conversa. Mas que futuro com esta terrível ameaça outra vez a pairar sobre mim? Ainda neste mesmo dia começava o meu estágio na Piscina. O meu futuro próximo agora passa por aí. Depois logo se verá. Isto partindo do princípio que o glaucoma me deixa em paz.

Obviamente que o Desporto marcou a conversa. Surgiu a ideia de se criar um clube ou uma escola de Atletismo para que os jovens que aparecem nas consultas sejam encaminhados. Eu iria ficar responsável por essa secção. O problema todo é que a ACAPO não tem meios nem iniciativa para recuperar o Desporto ou desenvolver quaisquer outras actividades.

As pessoas estão cheias de ideias e é confrangedor ver que não há solução para este problema. Vejo que a nossa associação não tem iniciativas e, o que é ainda mais grave, as coisas boas que tinha estão a perder-se pouco a pouco.

A boa-fé das pessoas em me quererem ajudar não chega. Nos Covões toda a gente me viu cair vergada pelo glaucoma e assiste a uma tentativa lenta de me voltar a levantar. Sabem que tudo o que eu quero é permanecer ligada ao Desporto e essa seria uma boa solução para mim e para todos aqueles que sonham ser desportistas e são impedidos de o ser devido aos preconceitos que ainda grassam em Portugal.

Sinto uma certa mágoa por haver ideias e comportamentos que impedem alguém de gozar os seus direitos de cidadão na sua plenitude. Para agravar as coisas, quem deveria ajudar é o primeiro a condenar as nossas ideias, por melhores que elas sejam. Faltam meios humanos e materiais e a mente dos portugueses ainda não compreendeu que somos cidadãos com direitos e deveres, tal como os outros.

E assim segui viagem depois da consulta, pensando nos meus velhos problemas no início de um Novo Ano que não começa da melhor maneira. Há que seguir em frente. A Piscina de Celas é o meu destino agora. Lá irei esquecer todos os problemas que me afectam e tentar fazer sempre o meu melhor.

Ficaram para trás as festividades e umas férias bem atribuladas. Havia que regressar a Coimbra para mais um patamar que tenho de ultrapassar na minha vida. Não escondia o nervosismo motivado por mais uma consulta. Que iria a acontecer?

O gato Mong apareceu bem cedo para chatear quem queria sossego. Havia que retomar a rotina de apanhar a camioneta. Esta nunca mais chegava e já estava mais nervosa só de pensar na eventualidade de ter avariado. Tinha consulta e não podia faltar.
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Coimbra ainda parecia mergulhada nas férias de Natal. Os autocarros eram menos a circular pela cidade e isso causava transtornos.

Na Piscina a nova funcionária deu-me as boas-vindas. Iria começar a trabalhar da parte da tarde. O almoço seria mesmo em Celas. Os autocarros eram poucos a circular e não vinham a horas.

A televisão exibia as notícias da hora do almoço. Retirei muitas coisas que merecem comentários da minha parte.

A melhor de todas as notícias (pelo menos é a que interessa mais para este espaço) é a que diz respeito ao pagamento de impostos por parte dos futebolistas. Os profissionais do sector já reagiram a essa medida e equacionam mesmo fazer greve. No entender destes privilegiados atletas, a sua profissão é altamente desgastante, pelo que o Governo se deve compadecer e voltar atrás. Assunto a desenvolver em próximos textos.

Parece que a Indonésia é um país martirizado. Todo o tipo de catástrofes naturais acontecem neste arquipélago asiático. Sismos acima dos seis graus na escala de Richter, inundações impiedosas, tsunamis…A zona mais afectada pela monumental catástrofe de finais de 2004 continua a ser fustigada pela Mãe Naturezas que parece estar a vingar-se do pobre povo daquela região que, já de si, é bastante pobre.

A execução de Saddam Hussein ainda continua na ordem do dia. Só depois de morto é que se ouve falar bem do ditador iraquiano. “Era uma jóia! Não fazia mal a ninguém coitado! Pobre homem!”Estes poderão ser os comentários ouvidos lá para as bandas do Iraque Dirão o mesmo de Bush, acaso ele morra com um AVC um dia destes? Veremos.

A temperatura atmosférica caía a pique. Chegava ao fim mais uma tarde normal de trabalho. Não apareceu nenhum autocarro. A solução foi meter-me ao caminho. Lá se foi o treino!

Em casa havia que fazer a cama. A Lua tinha um brilho intenso. Peguei no meu telemóvel e tirei a foto que aqui apresento. O Céu sem nuvens permitia que a noite fosse assim tão bonita. Pena o frio ser demais para podemos andar na rua e saborear o luar.

Para terminar o dia assisti a um emocionante duelo no “Um Contra Todos”.

Situação do dia:
A viagem de autocarro que fiz dos Covões até à Piscina revestiu-se de algumas peripécias. As máquinas de picar as senhas e os passes cantavam uma melodia cómica quando lhe punham uma senha mal. Dentro do autocarro cheirava a presente de cão. Passei toda a viagem a olhar para os meus pés e a tentar limpá-los no soalho do veículo. Afinal não eram!

Bacorada do dia:
“Há o dia de S. Silvestre que é o Dia dos Namorados.” (Ai o amor!)


2 comments:

Helena Mouro said...

Gosta de a conhecer. Vivo em Coimbra e partilho do mesmo drama.
Helena Mouro

toupeira said...

Xiii, um comentário num texto com mais de quatro anos! Logo o texto do meu primeiro dia de estágio na Piscina de Celas- local onde fui muito feliz e onde gostaria de estar.

Olhando assim de relance para isto alguns anitos depois, devo dizer que o ano de 2007 foi um dos que me correu melhor a seguir a tudo o que aconteceu. Foi nesse ano que realizei um dos meus sonhos- o de ir à Holanda. Para terminar em beleza, gostaria muito de ter continuado a trabalhar na Piscina mas tal não foi possível.

Obrigada pela paciência e atenção que teve a ler esta passagem. Espero que continue a ler o que eu vou postando por aqui e a dar a sua opinião.

Boa sorte!