Monday, May 23, 2011

“A Balada Do Subúrbio” (impressões pessoais)



A nossa viagem literária leva-nos agora aos subúrbios de Lisboa com José Vegar. Trata-se de uma espécie de romance policial à portuguesa em que é fielmente relatada a criminalidade suburbana, a burocracia excessiva no nosso país e a promiscuidade dos autarcas nacionais.

Sanches é um antigo funcionário dos serviços secretos que ainda nutre uma paixão pela investigação. Para manter vivo esse bichinho, alugou um gabinete dos fundos numa pastelaria e é ali que trabalha. Um dia recebe a visita de um americano que o coloca a par do antiamericanismo que se tem vindo a verificar na periferia de Lisboa.

O americano contrata os serviços de Sanches, este coloca-se em campo para investigar o que se passa. Ao longo do seu périplo pelo bairro, Sanches vai esbarrando com o excesso de zelo e com questões burocráticas absurdas que são, no fundo, situações normais na realidade portuguesa. Há quem diga que não evoluímos por causa de todos estes pormenores absolutamente desnecessários.

No jornal Sanches depara-se com o estranho afastamento da jornalista Maria Oliveira da redacção do jornal local- ela que se debruçava sobre a criminalidade juvenil no bairro. O estranho encerramento da McDonald’s do bairro também deixou o nosso detective intrigado.

Usando um pretexto inventado pelo seu cliente americano que consistia na parceria entre uma instituição americana de recuperação de jovens delinquentes e a do bairro que apresentasse melhores resultados, o detective deslocou-se à autarquia e teve conhecimento do fiasco que era o projecto camarário e que consistia em desprogramar os jovens, tirar-lhes todas as suas referências sociais e culturais para que eles se libertem das más influências.

Quando Maria Oliveira contactou Sanches, deu-lhe a conhecer a história de um antigo delinquente de nome Kamikaze e depois deu a conhecer o projecto desenvolvido por este para dar aos jovens alternativas para o futuro. Era, portanto, um programa concorrente do da autarquia e era o eleito dos jovens. Ali eles podiam dar azo à sua veia artística, compor música, escrever, praticar Desporto e muito mais. O único contratempo prendia-se com o facto de o projecto ser financiado pela produção e venda de pastilhas de ecstazy.

Tal como aconteceu com a autarquia, Sanches apresentou a Kamikaze a sua instituição fictícia que estava disposta a financiar o projecto. Kamikaze aceitou mas foi assassinado algumas horas depois, alegadamente num ajuste de contas devido ao tráfico de droga.

Na verdade não foi isso que aconteceu. O jovem africano terá sido morto por polícias que já estavam de conluio com a autarquia por causa da concorrência dos projectos de integração dos jovens.

Sanches descobriu essas relações pouco éticas que a autarquia mantinha. Os mesmos polícias que eliminaram Kamikaze foram os mesmos que irromperam pelo McDonald’s e ordenaram o seu encerramento a mando da autarquia que enviou uma familiar de um dos autarcas para armar um escândalo sobre a qualidade da comida da cadeia de fast food americana.

Ainda falta muito a qualquer escritor português para conseguir um romance policial com acção e suspense como os escritos pelos autores internacionais. Muito fraquinho mesmo. Pode-se dizer que é o típico romance policial português.

O escritor português com algum potencial em matéria de acção, suspense e conquista do leitor do princípio ao fim de um livro é este que agora passo a ler de seguida. Será a primeira obra de José Rodrigues dos Santos que irei ler mas a crítica em relação a esta obra é muito positiva, o enquadramento histórico e político também serve para tornar esta obra interessante. A seguir vou ler o livro “Fúria Divina”.

No comments: