Thursday, January 20, 2022

Lua escura

 

Dizem que está luar mas somente a escuridão povoa os meus olhos. Um peso angustiante invade o meu peito. O peso da ausência, o peso da angústia. O peso da falta que fazes.

 

A noite está fria. O silêncio é quase total. Nem uma brisa se sente, nem uma planta se move. Tudo está tristemente quieto e sombrio. Apesar de me dizerem que a noite está luminosa, somente sombra e treva vislumbro. Algo ainda mais negro do que a noite mais escura. Cheira a promessa de desgraças, de lágrimas, de angústias. Sente-se no ar aquela opressão inexplicável, aquele silêncio obscuro que tudo diz sem nada falar. Uma tormenta anunciada que nos pode surpreender de tão nefasta que possa ser.

 

Aventuro-me pelas ruas desertas e escuras. Do luar não vejo sinais. Apenas vultos imaginários me perseguem e me olham para onde quer que eu me vire. Não temo as sombras, não temo as trevas, não temo a escuridão. Apenas a saudade, a tua ausência. Não sei quando voltas. O vazio que deixaste converteu-se em solidão, em treva, em tormento.

 

Apagou-se a luz da lua. A do sol pouco ilumina o meu coração. Quando passo o silêncio torna-se pesado, os meus passos são abafados pelo peso torturante da angústia, do desespero, deste torpor que me impede de reagir. Apenas sou mais uma sombra na noite escura que teimam em me dizer que está linda e luminosa. Para mim é a noite mais escura e tenebrosa que vivi. Quando é que a luz da lua se apagou? Quando é que a escuridão iniciou o seu reinado? Terá sido no dia em que partiste?

 

Regresso a casa. Nem o aconchego da lareira acesa me aquece a alma. Não acendo as luzes. Aprecio o negrume da noite, a escuridão é minha amiga e confidente. É pelas sombras que a minha alma obscura se move à vontade. A luz queima, a escuridão traz-me conforto. Para quê viver na luz? O mundo das sombras é o meu lugar. Como peixe na água, respiro melhor quando a escuridão chega.

 

Quando é que isso vai mudar? Para dizer a verdade, não quero que mude. Quanto mais escura for a lua, quanto mais sombria e tenebrosa for a noite, mais poderei saborear a minha solidão e esta ausência de ti, do teu calor, da tua luz.

 

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