Sunday, January 09, 2022

“Braille Porquê?” (impressões pessoais)

 

Comemorou-se no passado dia 4 de janeiro mais um dia mundial do Braille.

 

Para comemorar esta efeméride foi lançado este pequeno livro com testemunhos de deficientes visuais e pessoas que com eles trabalham sobre a importância deste sistema de escrita e de leitura no quotidiano dos deficientes visuais.

 

Com o crescente domínio da tecnologia no  quotidiano de quem não vê ou tem baixa visão, importa aferir do futuro do Braille na alfabetização destas pessoas.

 

Chega-se á conclusão que, tal como as crianças normais ainda precisam do lápis como primeiro instrumento para aprenderem a escrever antes de terem contacto com o mundo atual da tecnologia, também as crianças cegas necessitam do Braille para manterem contacto físico com as letras e com as palavras. Só assim serão capazes de as vir a escrever corretamente e a ter um contacto mais privilegiado com o seu sentido.

 

Sabe-se que os livros Braille ocupam muito espaço físico e por isso são um transtorno manuseá-los. Agora, aliando Braille com tecnologia, é possível ter o livro num suporte digital e continuar a ler com os dedos através de linhas Braille ou outros dispositivos mais modernos.

 

Apesar da muita tecnologia oferecida aos deficientes visuais, muitos ainda sentem necessidade de ter um livro físico nas mãos, de o cheirar, de o tocar, de o sentir no seu colo.

 

Eu falo por mim nessa parte. Leio muito, leio ainda mais do que lia quando tinha a capacidade de ler a tinta mas falta-me sentir o livro. Já não concordo que um livro lido com a voz sintetizada do leitor de ecrã destrua a imaginação do leitor. Por acaso eu sinto o inverso. Quando lia a tinta, focava-me mais nas letras que estavam impressas no papel. Agora tenho a  imaginação livre para idealizar as envolvências da história, os espaços, os personagens, as ações de cada um.

 

Também eu não sou a pessoa mais indicada para falar sobre isso porque ceguei muito recentemente e vi por mais de quarenta anos.  Não sei como imaginam a história pessoas que nunca viram.

 

Também por esse facto, o meu uso do Braille é muito residual. Foi aconselhado que lêssemos a tinta enquanto a nossa acuidade visual permitisse. Assim teríamos acesso a livros normais. Eu pelo menos não tinha qualquer dificuldade  até finais de 2018 em ler livros normais. Depois acabei por continuar o meu gosto pela leitura com os leitores de ecrã. Os livros estão todos guardados no telemóvel, cabem na palma da mão, por assim dizer. É muito mais prático. Se tivesse cegado há quinze anos talvez tivesse mais dificuldade. Nessa altura ainda aprendi Braille mas depressa o esqueci porque continuei a ler a tinta.

 

Acho que Braille e tecnologia se podem complementar e o futuro caminha para isso mesmo.

 

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