Friday, January 14, 2022

Isabel

 

A casa está sossegada. Através da janela fechada, sons abafados permitem adivinhar que um novo dia está  prestes a começar.

 

Passeando silenciosamente de pés descalços por cima do tapete, isabel abre a janela. Ainda não rompeu a manhã. Tudo está em sossego antes do reboliço de um novo dia. Novos sons, novos cheiros, novas tarefas, novas exigências.

 

Isabel saboreia estes poucos minutos que tem só para si antes de ir para o trabalho e antes que a sua família acorde.

 

A manhã de janeiro nem está assim muito fria. Ao longe, ouve-se o barulho de gaivotas. Um leve cheiro de mar entra pela janela aberta da sala. Invoca outros tempos, outros climas, verões passados á beira-mar no paredão. Era sempre ali que isabel se deslocava para estar a sós consigo mesma. Estivesse sol ou chuva, nevoeiro ou ventania. Aqueles passeios matinais à beira-mar eram um bálsamo para corpo e mente.

 

Mas agora as coisas mudaram. Os anos passaram. Outra vida. Outras responsabilidades. O tempo escasseava sempre. Os minutos de cada tarefa contados. Levantar cedo e deitar tarde. Pouco restaria a não ser saborear a primeira aragem de cada dia através de uma janela aberta para um mundo agora inacessível e que outrora fora tão prazeroso.

 

Meditando em frente à janela aberta, isabel pouco se dá conta dos seus pés descalços a arrefecerem. Muito menos ouve o crescente som do tráfego na rua. a vida começa a pulsar fora de casa. Em breve também ela saiu e se foi juntar aos reféns de uma vida em contrarrelógio em que pouco tempo resta para olhar o Céu e reparar naquela árvore frondosa que vemos todos os dias mas não observamos com olhos atentos.

 

Pouco a pouco, a manhã vai nascendo luminosa. Não tarda o Sol aparece. Tempo de fechar a janela dos sonhos, dos pensamentos e partir para uma realidade quotidiana de azáfama, de correria, de ordens de tempos para cumprir, de tarefas inadiáveis, de refeições preparadas a correr, de almoços engolidos ás pressas…

 

Fechando lentamente a janela, isabel retoma ao presente, à realidade, ao   mundo autêntico. Aquele que não espera. Em breve se vai juntar na rua a muitas outras pessoas que vivem sem viver, que passam apressadas, que nem sentem a cor dos dias. Que quando se apercebem já a noite e a escuridão tomou conta do horizonte.

 

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