Tuesday, November 17, 2020

Vou ter sorte

 

E eis-me chegada finalmente á Capital. Escrevendo assim, mais pareço o Eça de Queirós.

 

Dizia ele que a Capital é terra de grandes oportunidades…e grandes desafios. Acredito! Para já será grande ponto de passagem rumo a uma vida mais autónoma e mais normal depois de ter cegado.

 

O trajeto da estação de Santa Apolónia até ao centro de reabilitação é feito a pé. Trata-se de um passeio que por vezes até é bastante estreito. Apesar de, aparentemente ser fácil, este simples percurso afigura-se de muitos obstáculos, especialmente quando se transporta uma mala com os pertences.

 

Incrivelmente, os obstáculos que existem em tal passeio não são barreiras arquitetónica, apesar de haver algumas. As barreiras que existem são mais…do foro biológico canino. Em bom português, os obstáculos naquele passeio são…poias de cão que temos de fazer grande ginástica para não as pisar.

 

Estou mesmo a ver que raro será o dia em que não entre no comboio com os pés a tresandar a bosta de cão. Que falta de civismo, o dos lisboetas que levam os seus lulus a passear e não apanham os seus dejetos.

 

Agora percebo aquele episódio narrado por Henrique Portugal no seu livro. O de um cego que teve de atirar um casaco para o lixo porque escorregou em dejetos caninos e o passeio tinha poucas partes limpas. Seria neste passeio? A julgar pela amostra, parece que sim.

 

Íamos a subir as escadas e continuava-me a cheirar a poia de cão. Verificámos os nossos pés antes de entrar. Tínhamos os sapatos limpos. Se nos esforçámos para não pisar aquelas coisas que estavam no chão, o mesmo não se pode dizer das rodas da minha mala. Não escaparam ao batismo.

 

Com isto tudo, acho que vou ter sorte!

 

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