Sunday, January 28, 2007

De autocarro até Dakar


Já se fazem os preparativos para mais um Lisboa- Dakar. Os pilotos treinam arduamente para aguentarem as agruras do implacável deserto africano, as máquinas são meticulosamente afinadas e uma vasta equipa trabalha com afinco para que tudo corra sobre rodas.

Este ano, o evento contará com uma novidade. Pela primeira vez na sua história, a mais prestigiada e mais dura prova de todo o terreno terá uma variante muito especial: a categoria autocarro. Se preferirem, a categoria choça velha que já não serve para nada a não ser para passar vergonha.

Segundo consegui apurar, a ideia partiu de dois holandeses que estão dispostos a atravessar o deserto africano de autocarro. Era o sonho de cada um deles participar numa prova dessa importância, por isso não desistiram e resolveram empenhar-se a fundo nos seus intentos.

O autocarro veio directamente da Transdev Centro. O veículo em questão costuma avariar e deixar ficar mal o motorista que o conduz e os passageiros que sofrem grandes transtornos por causa das constantes avarias daquela camioneta.

Numa sexta-feira já do longínquo ano de 2005, duas senhoras lamentavam-se ao condutor pelo facto de terem vindo naquela camioneta que deitava fumo pelo tejadilho e fazia com que os outros veículos parassem e buzinassem de forma estridente. As passageiras chegaram mesmo a sugerir que quando voltasse a acontecer a mesma coisa, nem deveriam de ser cobrados bilhetes para compensar a vergonha passada ao longo de todas as localidades por onde a camioneta passou. As senhoras foram mais longe e disseram que aquela cena era digna de noticiário televisivo.

Fartos de ouvir as queixas dos passageiros e sem saber que rumo dar ao autocarro, os responsáveis da Transdev Centro optaram por dar a viatura àqueles dois interessados em a fazer desaparecer algures pelo deserto.

Os responsáveis pela organização do Lisboa-Dakar ofereceram uma quantia simbólica que foi muito mais do que valia, realmente, aquele autocarro e empenharam-se a fundo para conseguirem que o veículo esteja pronto a partir juntamente com a caravana no dia 6 de Janeiro de 2007.

Patrocínios não faltam para ajudar os jovens nessa primeira participação numa prova com a envergadura do Lisboa-Dakar. Algumas empresas de fabrico de medicamentos e produtos que valorizam o bom funcionamento do sistema digestivo digladiam-se para obterem o seu nome inscrito no autocarro branco e verde que será pintado com outras cores.

Garantido está já o patrocínio daqueles comprimidinhos que, por acaso, também já patrocinaram o “Contra Informação” para acabar com a diarreia. A famosa marca irá fornecer aos participantes um stock de material que está armazenado desde há uma série de anos, do qual se pretende libertar. Também está prevista a entrega de um montante em dinheiro não especificado.

Um dos participantes nesta louca travessia do deserto afirmou mesmo estar ansioso que a prova comece. Questionado sobre os eventuais riscos daquela missão, o caramelo sempre foi dizendo que não era a primeira vez que estava em território africano e que vivia uma aventura.

O “Toupeira” irá acompanhar a par e passo as aventuras dos dois jovens pelos terrenos arenosos até Dakar. Isto se até lá me calhar o Euromilhões!

A manhã estava nublada. Iria chover outra vez? Para já só ameaçava.

Adormeci a sono solto na camioneta. Num instante já tinha chegado a Coimbra. E se eu me tivesse deixado ir até à Portagem? Azar!

Tive logo de me chatear de manhã. No passado Sábado tinha havido nas instalações da ACAPO uma Assembleia que foi uma vergonha, com pessoas a partirem para a ofensa pessoal em vez de discutirem o que realmente interessava. A técnica queria falar comigo, não sei já sobre que assunto. O que é certo é que me estragou o dia falando-me do pessoal de Lisboa.

E dizia ela para eu não lhes chamar nomes, nem os tratar mal. E eles trataram-me bem? Se não me tivessem feito o que fizeram eu não lhes chamava nomes. Eu não sou da laia deles que vêm aqui para Coimbra insultar os outros.

De lágrimas nos olhos fui para a rua com destino à Académica. Podia ser que o ambiente lá me ajudasse a esquecer as coisas de que me fizeram lembrar. Alunos do Ensino Secundária organizavam uma manifestação e queriam à força (e à custa de ameaças e palavrões) que os colegas aderissem.

Não havia ninguém no gabinete. Ainda bem que ninguém me viu assim! Não havia nada pendente. Como ia ter teste de Holandês nessa tarde, resolvi estudar um pouco e esquecer tudo o que me atormentava.

Depois de ter ainda adiantado umas perguntas para a parte da tarde, fui almoçar. Levei o guarda-chuva para a cantina, mas devia ter levado os óculos de Sol. Foi um erro de cálculo.

Na cantina havia uma discussão por causa de tigelas da sopa enquanto se partiam copos. Estranho, no mínimo!

Todos os bocadinhos de tempo que eu tinha livres eram aproveitados para estudar. Assim passei a tarde. Antes de fazer o teste voltei a ouvir uma conversa que me fez, novamente, recordar os problemas que tenho. Uma colega minha queria que eu fosse pedir à professora para ir com ela à Holanda. Eu sempre lhe fui dizendo que não tinha coragem para isso e que as pessoas que provocaram toda esta situação é que a deveriam emendar. As pessoas de fora não têm culpa das barbaridades cometidas por aquelas pessoas que não têm dignidade para com seres humanos. Depois admiram-se de eu lhes chamar nomes. Eles mereciam muito mais do que chamar-lhes nomes. Haviam de pagar por o que me estão a fazer sofrer.

O teste correu-me bem. Eu achei que era fácil.

Em casa a minha senhoria tinha uns frutos esquisitos que lhe tinham dado (ver foto). Pareciam ouriços e ninguém sabia como se comiam.

Estava cansada e adormeci com o debate sobre o aborto como pano de fundo.

Situação do dia:
Estava na casa de banho a fazer um strip enquanto pensava distraidamente nuns holandeses. Assustei-me porque não estava a contar que abrissem a porta. Bem, não estava propriamente a fazer strip. Apenas tirei uma camisola.

Bacorada do dia:
“Não sou propriamente um ex libris em matéria de treino.” (Um quê?!!!)

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