Sunday, January 14, 2007

Afinal era Sexta-feira 13

Ainda hoje tenho dificuldade em descrever o que senti naquele momento. Tinha de agir forçosamente e qualquer deslize alteraria o desfecho daquela embrulhada que começara dias antes por causa de um texto e de uma frase da qual não gostei.

Tive mesmo muito azar! E ainda dizem que a Sexta-feira 13 é um dia como os outros. Eu também pensava assim até que aconteceu algo que eu não estava a contar e que me deixou sem pinga de sangue. Não é todos os dias (e ainda bem) que aparece a pessoa errada na hora errada. Ou será que apareceu na hora certa?

Tirem as vossas conclusões ao lerem o relato deste incrível episódio que eu julgava só acontecer em filmes ou novelas em que a intriga dita leis.

Bastante perturbada por tudo o que se vinha a passar nos últimos dias entre mim e a formadora, decidi recorrer ao gabinete do psicólogo para desabafar um pouco. Estava mesmo a precisar de falar com ele antes de me ir embora. Para ter um pouco de paz interior.

Depois de ter regressado do reconhecimento do local da experimentação, fui ter com ele e disse que precisava muito de falar sobre algumas coisas que se andavam a passar comigo.

Fomos para o pequeno gabinete onde ele passa todo o dia. Antes de começar a relatar o que se passava, ordenei que fechasse bem a porta. Parece que já estava a adivinhar o que se iria passar ali a seguir.

Estava eu a começar quando se ouviram pancadas na porta. Nem quis acreditar quando ouvi a voz, justamente, da última pessoa que eu desejava que aparecesse ali naquele momento. Oh não! Vinha à minha procura! Estaria a ter um pesadelo? Ainda me belisquei. Ela não vinha de muito bom humor. E agora?!

Assim que a professora entrou no gabinete, senti o chão fugir-me dos pés, gelei e fiquei sem reacção. Nem sei explicar o que senti naquele momento em que a sua cabeça assomou à porta. Estava feita!

O que ali estava a acontecer era algo que só julgava ser possível em novelas. Numa daquelas cenas que fica de um episódio para o outro, de modo a causar o suspense nos seus espectadores que não vão querer perder de maneira alguma o que aquelas duas pessoas irão dizer uma à outra. A banda sonora ali seria medonha. Parecida com a dos filmes de terror. De facto estava aterrorizada!

A formadora queria conversar comigo. Ouvira dizer que eu disse aquilo que escrevi no texto anterior. Meu Deus! Que situação! Que fazer? Já que tinha de ser...

O psicólogo alegou que talvez fosse melhor ficarmos a sós. Eu implorei-lhe que ficasse. Tinha medo. A presença dele ali acalmava-me e transmitia-me maior segurança para encarar aquela situação tão embaraçosa.

Havia que ter cabeça fria e medir bem as palavras. Falámos de mulher para mulher, abertamente, como duas pessoas adultas e civilizadas que somos. Não tive qualquer tipo de receio em lhe confirmar que, de facto, proferi aquelas declarações. Mais: fiz questão de referir o contexto em que disse tais coisas. Alertei-a para o facto de não ser só eu a única a pensar assim. Sou a única que assume e se responsabiliza pelos seus actos e palavras. Abri-lhe os olhos!

Disse frontalmente o que pensava sobre ela. Admiro ainda hoje a coragem que tive. Estava sob intensa pressão e isso obrigou-me a libertar um outro eu que tenho dentro de mim e que desconhecia. A pessoa capaz de resolver uma contenda através da diplomacia, com calma, com frieza, deixando a impulsividade de lado. Apenas lhe disse o que me estava a importunar.

Provavelmente ela também viu em mim outra pessoa que desconhecia. Poderei tê- la surpreendido. Não sei. Não visitei o interior dos seus pensamentos. Sei que essa conversa teve um desfecho feliz. Após termos apresentado uma à outra os nossos pontos de vistas e aquilo que nos separava, acabámos por dar as mãos e caímos nos braços uma da outra com muita emoção á mistura. Tudo ali tinha morrido! Uma nova era se abria a partir dali.

Tenho a sensação que algo mudou em mim naquele conturbado fim de tarde que teve de acontecer para que me descobrisse a mim própria. Fui colocada à prova ali e consegui reconciliar-me com a pessoa com quem entrara em conflito uns dias antes.

A partir daquele dia nunca mais houve problemas entre nós duas. Os meus colegas terão achado estranha a ausência de problemas. Ninguém chegou a saber o que se passou naquele final de tarde daquela Sexta-feira 13, no interior daquele pequeno gabinete.

Foi uma derrota para quem resolveu ir “bufar” para a formadora o que eu disse naquela sala. Presumivelmente, o objectivo deles era contribuir ainda mais para o clima de paz podre que se tem vivido na ACAPO nos últimos dias. Lamentavelmente para eles, o seu acto teve o efeito contrário. Eles não o sabem.

Para tentar descontrair fui um pouco para o computador. Já não eram horas de ir treinar. Fui para casa. A noite iria ser difícil. Sentia-me magoada, traída, apunhalada pelas costas por alguém sem rosto e sem nome que frequenta a mesma sala de aulas que eu. Eram seis os presumíveis suspeitos de me terem traído daquela maneira.

Por um lado fiquei feliz por me ter reconciliado com a formadora, por outro lado fiquei triste porque descobri que não posso confiar nos meus colegas.

O meu problema com a formadora era apenas uma gota de água no imenso oceano de problemas e situações desagradáveis que se foram passando ao longo dos últimos dias. O epicentro desses problemas era mesmo a outra turma.

Foi por essa razão que aquele dia iria ser dedicado a alguma coisa que não sabíamos bem o que era. Reunimos todos no salão. Em primeiro lugar falou-se das actividades para a festa de Natal. Só depois se passou às questões que marcavam a actualidade.

Para a tarde estava marcada uma espécie de Terapia de Grupo, de modo a que os membros das duas turmas se conhecessem melhor e interagissem entre si.

Tive de interromper esses exercícios para ir fazer o reconhecimento do local onde iria fazer a experimentação a partir do dia 16. Juntamente com a técnica de inserção, fui para a rua. Estava um belo dia de Sol.

O Pavilhão da Académica fica mesmo perto de todos os locais que eu frequento. Ainda não estou a acreditar que vou para lá.

Bacorada do dia:
“Dá-se um murro no volante pelo lado de fora.” (Não tentem isto em casa!)

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