Tuesday, June 11, 2013

Últimos momentos de uma tarde que fica gravada na memória

Sexta-feira, 7 de Junho de 2013. Um dia bastante chuvoso e com trovoada. Das janelas do meu gabinete conseguia ver que estava tão escuro como se fosse noite. Eram apenas cinco e meia da tarde.

Trabalhava freneticamente de modo a deixar tudo preparado para desfrutar de um fim-de-semana prolongado. A minha mochila estava encostada à estante dos dossiers à espera que a colocasse às costas e partisse rumo à Rodoviária.

Ainda houve tempo de atender mais um telefonema antes da hora de saída. Eram seis horas e chovia torrencialmente na rua. Não tinha guarda-chuva mas resolvi tirar da mochila uma camisola com capuz que vesti por debaixo do casaco. Assim segui para baixo. Seria mais uma ida de fim-de-semana sem história com as habituais saudações e despedidas a quem por mim passava.

Apesar de estar a chover bastante, notei que a loja estava cheia de gente, o que era muito bom. Estava, de facto, muito animada. Assim ficou quando meti pés ao caminho e enfiei o capuz vermelho na cabeça. Estava longe de imaginar que seria a última vez que veria assim a loja.

Fui descansada para casa. Na terça-feira retomaria o trabalho que começa a ser bastante nesta altura do ano. Teria todo o fim-de-semana e o feriado para descansar em casa.

No Sábado aproveitei para descansar e encontrava-me no meu quarto a terminar a leitura de um livro. O telefone tocou e o meu pai atendeu. Pensei que era a minha irmã mas o meu pai chamou-me, dizendo que era o meu chefe. Enquanto caminhava para a sala, imaginava o motivo do telefonema mas jamais imaginei o que ouvi do outro lado da linha.

É difícil descrever o que se sente quando é anunciada uma tragédia completamente imprevisível como esta. Estava em casa e ainda não sabia que o meu local de trabalho havia sofrido um incêndio naquela madrugada. Todas as televisões deram a notícia, todos os jornais informaram sobre esse fogo. Eu não tinha visto o noticiário. Tinha-me levantado bem tarde e ainda não tinha ligado o computador.

Tudo aquilo me parecia um pesadelo, um sonho daqueles que parecem bem reais, depois acordamos muito tranquilamente nas nossas camas e suspiramos de alivio quando descobrimos que tudo não passou de um sonho. Desta vez não era sonho. Não era mentira. Esta é a nossa forma de encarar as tragédias. Lembro-me que a sensação é a mesma quando se perde alguém que é importante nas nossas vidas ou algum animal de estimação.

Quando tive oportunidade de ligar o computador, as notícias ali estavam, tirando-me a ilusão de que nada daquilo fora um sonho.

Aquela tarde de sexta-feira, 7 de Junho de 2013, foi vista e revista na minha memória e de lá não sairá tão cedo. Como é cruel e impiedoso o fogo. Em poucos minutos, as cores dos produtos expostos e o colorido das vestes e acessórios das pessoas ficaram reduzidos a uma só cor – o negro.


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