Tuesday, June 04, 2013

“O Ano Da Morte De Ricardo Reis” (impressões pessoais)



Ver também “A Viagem Do Elefante”

Algum tempo depois da última obra de José Saramago que li, eis que retomo a este grande escritor português que muito aprecio.

Eu já nem me lembrava que tinha este livro em casa mas, quando dele me lembrei, logo o procurei para o ler numa próxima oportunidade que agora finalmente chegou.

Aprecio a originalidade de Saramago que sempre nos surpreende com os temas que escolhe para as suas obras. Ora pega num personagem bíblico (Caim), ora imagina como seria a Humanidade se de repente todos cegassem, ora pega num episódio marginal da História de Portugal…Desta vez pega num dos heterónimos de Fernando Pessoa e faz dele o protagonista da sua obra.

Como toda a gente aprendeu no liceu, Ricardo Reis era um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Os outros eram Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Tenho ideia de que havia mais mas estes eram os mais conhecidos. Saramago lembrou-se então de dar vida a Ricardo Reis que regressa a Lisboa vindo do Brasil onde se exilou durante dezasseis anos. A instabilidade vivida do outro lado do Atlântico e…a morte de Fernando Pessoa precipitam o regresso deste médico de profissão e poeta nas horas vagas que encontra a Pátria muito diferente do que a deixou. Estamos em pleno Estado Novo.

Ao longo de toda a obra, vemos Ricardo Reis cultivando o ócio, lendo os jornais para se actualizar, envolvendo-se com a criada do hotel onde se foi hospedar e que se chama Lídia ( nome de uma das suas musas de poemas) e apaixonando-se por Macenda que não lhe corresponde no seu amor.

Ao longo deste tempo todo, Ricardo Reis é visitado por…Fernando Pessoa que se levanta directamente do seu túmulo no Cemitério dos Prazeres e lhe vem fazer companhia. Digamos que é o único confidente que Ricardo Reis tem, o único amigo, digamos assim.

A Europa vive dias de grande turbulência, especialmente a Espanha com a guerra civil e a ascensão de Franco ao poder. Em Portugal vive-se um clima de desconfiança e começam as perseguições a quem não é pelos ideais do Estado Novo.

Ricardo Reis acaba por ir para o outro mundo juntamente com Fernando Pessoa. Partem juntos talvez por nada mais terem que fazer nesta sua Pátria que se transformou ou se está a transformar num palco sangrento. Isto acontece depois do massacre dos marinheiros que tencionavam revoltar-se contra o Regime.

Eu gosto da forma como por vezes José Saramago divaga nas sua obras. Muitas vezes arrancou-me mesmo algumas gargalhadas. Lembro-me quando ele começou a imaginar o que diriam os empregados de restaurantes sobre o comportamento de Ricardo Reis à mesa. Depois também me lembro de outro episódio em que ele falou de um grupo de pessoas no Norte que viviam todas na mesma casa e começou a imaginar como era a sua vida lá, indo mesmo aos pormenores mais sórdidos.

Mas o grande episódio desta obra é aquele em que Ricardo Reis vai a Fátima ver se encontra Marcenda na multidão e acaba por pernoitar com um grupo de peregrinos. A descrição do comportamento dos peregrinos durante a noite está mesmo de ir às lágrimas.

Dou nota muito positiva a esta obra. José Saramago aqui esteve no seu melhor mesmo.

Já lemos “O Padre Negro”. Como a vida está preta mesmo com esta crise, nada melhor do que ler uma obra com um título muito a propósito. “Dinheiro Negro” é o nome do livro que já comecei a ler. Ainda tenho em casa um outro livro com a palavra “negro”. Vou tentar lê-lo também um dia destes. Não o tenho aqui.

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