
Ver também “A Viagem Do Elefante”
Algum tempo depois da última obra de José Saramago que li, eis que retomo a este grande escritor português que muito aprecio.
Eu já nem me lembrava que tinha este livro em casa mas, quando dele me lembrei, logo o procurei para o ler numa próxima oportunidade que agora finalmente chegou.
Aprecio a originalidade de Saramago que sempre nos surpreende com os temas que escolhe para as suas obras. Ora pega num personagem bíblico (Caim), ora imagina como seria a Humanidade se de repente todos cegassem, ora pega num episódio marginal da História de Portugal…Desta vez pega num dos heterónimos de Fernando Pessoa e faz dele o protagonista da sua obra.
Como toda a gente aprendeu no liceu, Ricardo Reis era um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Os outros eram Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Tenho ideia de que havia mais mas estes eram os mais conhecidos. Saramago lembrou-se então de dar vida a Ricardo Reis que regressa a Lisboa vindo do Brasil onde se exilou durante dezasseis anos. A instabilidade vivida do outro lado do Atlântico e…a morte de Fernando Pessoa precipitam o regresso deste médico de profissão e poeta nas horas vagas que encontra a Pátria muito diferente do que a deixou. Estamos em pleno Estado Novo.
Ao longo de toda a obra, vemos Ricardo Reis cultivando o ócio, lendo os jornais para se actualizar, envolvendo-se com a criada do hotel onde se foi hospedar e que se chama Lídia ( nome de uma das suas musas de poemas) e apaixonando-se por Macenda que não lhe corresponde no seu amor.
Ao longo deste tempo todo, Ricardo Reis é visitado por…Fernando Pessoa que se levanta directamente do seu túmulo no Cemitério dos Prazeres e lhe vem fazer companhia. Digamos que é o único confidente que Ricardo Reis tem, o único amigo, digamos assim.
A Europa vive dias de grande turbulência, especialmente a Espanha com a guerra civil e a ascensão de Franco ao poder. Em Portugal vive-se um clima de desconfiança e começam as perseguições a quem não é pelos ideais do Estado Novo.
Ricardo Reis acaba por ir para o outro mundo juntamente com Fernando Pessoa. Partem juntos talvez por nada mais terem que fazer nesta sua Pátria que se transformou ou se está a transformar num palco sangrento. Isto acontece depois do massacre dos marinheiros que tencionavam revoltar-se contra o Regime.
Eu gosto da forma como por vezes José Saramago divaga nas sua obras. Muitas vezes arrancou-me mesmo algumas gargalhadas. Lembro-me quando ele começou a imaginar o que diriam os empregados de restaurantes sobre o comportamento de Ricardo Reis à mesa. Depois também me lembro de outro episódio em que ele falou de um grupo de pessoas no Norte que viviam todas na mesma casa e começou a imaginar como era a sua vida lá, indo mesmo aos pormenores mais sórdidos.
Mas o grande episódio desta obra é aquele em que Ricardo Reis vai a Fátima ver se encontra Marcenda na multidão e acaba por pernoitar com um grupo de peregrinos. A descrição do comportamento dos peregrinos durante a noite está mesmo de ir às lágrimas.
Dou nota muito positiva a esta obra. José Saramago aqui esteve no seu melhor mesmo.
Já lemos “O Padre Negro”. Como a vida está preta mesmo com esta crise, nada melhor do que ler uma obra com um título muito a propósito. “Dinheiro Negro” é o nome do livro que já comecei a ler. Ainda tenho em casa um outro livro com a palavra “negro”. Vou tentar lê-lo também um dia destes. Não o tenho aqui.
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