Wednesday, December 14, 2011

“LA Confidential” (impressões pessoais)




Quando a leitura me está a agradar verdadeiramente, e sempre que eu tenho tempo para isso, não largo o livro enquanto não o tiver lido. Foi o que aconteceu com este.

Trata-se de um verdadeiro romance policial à americana com muita acção, suspense, mistério, crime, morte, luta…tudo o que me fascina na leitura de uma obra. Pode-se mesmo dizer que este foi o verdadeiro livro que deu luta.

Esta história tem três protagonistas principais? Não concordo. Pelo modo como a acção se desenrolou, diria que tem apenas um como a maioria das histórias. Esse protagonista chama-se Ed Exley. Vilões para ombrear com ele é que tem muitos. Para além dos criminosos que devem ser os vilões de qualquer polícia, o principal oponente de Exley seria Bud White. No início da obra eles eram o oposto um do outro. Depois eu noto que ambos convergiram para uma linha intermédia das duas personalidades e as divergências que existiam entre eles desapareceram. Estiveram os dois do desmantelamento do crime principal e dos crimes acessórios a esse. No final, apesar de terem seguido linhas opostas, conseguiram chegar ao mesmo resultado também.

A história começa verdadeiramente quando se dá o massacre de seis pessoas num café chamado Mocho da Noite. Os três protagonistas- Bud, Ed e Jack- investigam o caso seguindo pontas soltas, cada uma com os seus interesses. Ed inteira-se somente deste massacre, Jack pega no caso de distribuição de pornografia que andava a seguir no seu departamento e Bud interessa-se por estranhos assassínios de prostitutas.

Todos estes crimes estão relacionados uns com os outros. Aliás, na origem do crime principal está precisamente a luta pela posse do negócio da pornografia.

Ao massacre seguiram-se mais alguns crimes violentos que estavam igualmente interligados. Digamos que eram réplicas do crime principal. A principal dessas mortes foi a do amigo de Jack que foi esquartejado e desmembrado. Jack logo associou esse crime com as obras pornográficas que havia confiscado por haver muitas semelhanças.

O caso do massacre das seis pessoas mortas no café é arquivado porque inicialmente se atribuiu a culpa a um grupo de negros que nessa noite também haviam violado uma mulher mexicana que acaba também por ser disputada por Ed e Bud. Os negros fogem da prisão mas Ed persegue-os e mata-os como forma de agradar à mexicana que fora violada por eles. O caso é arquivado. Eles não passaram de bodes expiatórios que os verdadeiros culpados forjaram para livrarem a sua pele.

Entretanto a investigação dos outros crimes prossegue com muitas pontas soltas e muitas histórias mal contadas e sem sentido.

Tudo se altera quando um cidadão negro que se encontrava detido afirmou que os quatro companheiros mortos por Ed estavam inocentes porque estiveram toda a noite com ele sem terem tempo para irem ao café cometer o crime.

Após grande pressão popular e uma agressiva campanha na imprensa contra Ed, o processo do massacre no café é reaberto agora com uma ténue ligação entre todos os crimes que aconteceram antes e depois desse. A pornografia que Jack confiscara foi o móbil do crime, um dos assassinos do massacre do café era simultaneamente o assassino em série de prostitutas e outras mortes estiveram ligadas também com esse mesmo caso.

Faltava saber quem havia morto o amigo de Jack. Quem o matou foi o filho ilegítimo do amigo inseparável do pai de Ed que ninguém sabia que existia, que fora modificado e escondido e desde criança que se transformou num temível psicopata. No final ele mata mesmo o próprio irmão sem dó nem piedade. É ele quem fabrica as obras que aparecem nos livros obscenos que estão na posse de Jack. Para desgosto de Ed, aquele jovem foi um dos que matou e esquartejou crianças num crime que deu a fama e a glória ao seu pai. Afinal ele foi escondido durante anos e o outro filho do amigo do pai de Ed foi morto pelo pai de Ed no lugar deste que quase ninguém sabia que existia mas que era extremamente parecido com o filho legítimo. Foi o pai de Ed e o próprio pai do jovem que o fizeram desaparecer por haver testemunhas de que ele havia raptado e morto uma criança no recreio da escola. Tinha sido aquele que no final acaba por ser encontrado por Ed e levado para a clínica psiquiatra do mesmo médico que lhe havia feito as operações plásticas.

Afinal quem esteve por detrás do crime do Mocho da Noite? Por incrível que pareça, o cabecilha do grupo é o chefe de Bud White- Dudley Smith- que escapa completamente impune ao caso. Os pistoleiros que perpetraram o massacre faziam parte do bando de um gangster que se encontrava na prisão e que faziam jogo duplo entre Polícia e gangsters. Só esses no final foram castigados e mortos novamente por Ed Exley.

Quem também passou impune foi o assassino dos irmãos donos da tipografia onde foram impressas as obras pornográficas e que acabariam por ligar o caso da pornografia ao massacre. Quando o pai de Ed e o amigo se suicidam depois de descoberto o seu segredo- a ocultação do verdadeiro culpado dos brutais crimes contra crianças e o sacrifício de um inocente- o antigo polícia Art De Spam herda parte da fortuna do pai de Ed. Fora ele quem matou os dois irmãos.

No final há um motim que seria organizado quando vários prisioneiros seguissem para outra prisão de comboio. Avisados, os três protagonistas vão até ao local. Jack acaba por morrer durante a troca de tiros. Bud fica gravemente ferido e incapacitado para o resto da vida no confronto directo com o seu rival que andou ao longo de toda a obra a perseguir- o assassino das prostitutas e um dos autores materiais do tiroteio no Mocho da Noite. Ed é condecorado pelo brilhante desempenho novamente no caso do massacre e dos crimes que estiveram interligados.

Ao longo desta obra esteve sempre presente o clima de corrupção e impunidade, especialmente envolvendo a classe policial que não sai muito valorizada.

O episódio que mais me marcou nesta obra ocorreu quando Jack foi procurar o seu amigo a sua casa e o encontrou todo retalhado aos bocados. Depois chamou a Polícia e apareceu lá depois já como polícia como se tivesse visto aquilo pela primeira vez.

Realce-se a violência das descrições dos crimes. Muitos deles, especialmente os perpetrados por Douglas Dietering/David Mertens, andam algures entre o hediondo e o terro puro. Serviram para apimentar a obra.

Como tive oportunidade de referir no início, foi um livro que me cativou. O enredo era um pouco complexo mas houve muita acção e suspense, o que é sempre do meu agrado.

Agora vamos acalmar um pouco. Para desanuviar irei ler “O Doente Inglês”.

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