Tuesday, January 25, 2011

Os verdadeiros cães









Liguei para a minha irmã para lhe dar os parabéns e ela colocou-me ao corrente das cenas desagradáveis que se estavam a passar lá por casa. Era notória a preocupação dela pelo estado emocional da minha mãe que esteve alguns dias sem dormir e sem comer porque envenenaram uma cadela e um gato.

Há gente tão nojenta na minha terra que nem merece respeito nenhum. Tratá-los como seres humanos é uma ofensa para os animais ditos peçonhentos que num rasgo de consciência notam que há criaturas mais nojentas à face da Terra.

Apetece-me arrasar com a casa e com tudo o que pertença a essas pessoas que tratam um animal barbaramente, torturando-o de forma indolente até á morte depois de lhe envenenarem a comida que depois foi aproveitada por outro animal que perdeu a vida inadvertidamente. As marcas no corpo daquele animal eram horríveis e a revolta contra os animais que fizeram isso vai ao ponto de lhes desejar a mais horrível e sofrida das mortes. Envenenar um animal e ainda lhe dar vergastadas até ele cair morto é demais para a minha compreensão enquanto Ser Humano. Nem sei que castigo merece quem fez isto.

Já passaram alguns dias desde este episódio mas entretanto fui a casa e esclareci algumas dúvidas. Num dos atalhos por onde eu costumava passear durante o Verão jazia a cadela que nós dizíamos que era da minha vizinha, que neste momento tinha três crias já crescidas porque quatro foram atropeladas e outras duas conseguiram dono e que era alimentada pela minha mãe. Foi a minha vizinha de cima (a tal que acusávamos de ser a dona da cadela) que alertou a minha mãe para o facto de a cadela estar ali morta a ser velada pelos seus três filhos que se recusavam a abandonar o local para atenderem ao chamamento da minha mãe para virem comer. Só aí se vê que estes cães têm uns sentimentos mais nobres do que algumas pessoas da minha terra.

Como a cadela era de grande porte, a minha mãe sozinha não a podia enterrar e o meu pai revoltado com o que aconteceu também se recusava a enterra-la porque achava que quem a tinha matado deveria também dar sumiço ao cadáver. Entretanto quem passava pelo local não deixava de se emocionar com a presença dos três pequenos cães (dois machos e uma Fêmea) que velavam a sua mãe enquanto uivavam. A minha mãe nem os podia ouvir e ficava cada vez mais deprimida. Eles comiam um por cada vez e às vezes nem vinham quando a minha mãe os chamava.

A minha mãe ia pedindo ajuda para enterrar a cadela mas ninguém a ajudava, o que prolongava a sua angústia. Entretanto outro episódio abalou a minha mãe. Por essa altura um gatito de um vizinho a que a minha mãe também se afeiçoou apareceu morto dentro de uma manilha com sinais de morte por envenenamento. Depreendeu-se que o veneno para a cadela foi colocado perto de onde estava o gato e isso leva a minha mãe a desconfiar de alguém que já havia ameaçado pagar a quem matasse a cadela.

Apareceu finalmente alguém que tratou de enterrar a cadela. A minha mãe foi a contas com esse homem a quem um dia a cadela alegadamente terá roubado criação do pátio. Ele alegou que seria incapaz de matar assim um animal da forma como ele descreveu. Com a descrição das marcas de vergastadas e de tortura, a minha mãe ficou arrasada. Entretanto os cãezinhos continuavam no local onde estivera a mãe e só dali saíram quando os meus pais foram de propósito buscar ração para lhes dar. Até á data eles só comiam restos ou comida cozinhada ao lume de propósito para eles.

Esta cadela era mal-amada pelas pessoas da terra que a ameaçavam matar por alegadamente roubar galinhas dos pátios. Quando apareceu esta ninhada bem numerosa de cachorros ela roubava mas depois a minha mãe dava comida suficiente a todos. De momento os filhos dela raramente saem de lá de ao pé da porta. As queixas em relação a eles têm mais a ver com o facto de estragarem as terras cultivadas. Aí até o meu pai lhes dá dois berros.

Há mães em Portugal, inclusive na minha terra, mais negligentes com os filhos do que esta cadela que agora envenenaram e torturaram. A minha vizinha enterrou-lhe uma numerosa ninhada e ela ainda conseguiu seguir o rasto e retirar um com vida de dentro da cova. (ver texto “O cãozinho”). Num dia muito frio e chuvoso apareceu aquele cãozinho na rua e a minha mãe apanhou-o e nunca mais o deixou ir para a rua. Constatou-se que era filho dela mas a minha mãe ainda correu o lugar todo debaixo de chuva e frio a perguntar se alguém tinha perdido um cãozinho. Acabámos por arranjar dono para ele numa terra próxima.

Estes eram nove e só apareceram depois de grandes. Quando andavam dispersos a cadela fazia um enorme esforço por os reunir a todos. Era noite e ela procurava algum que faltava pelos pinhais. Certo dia um mesmo veículo cometeu a desagradável proeza de atropelar dois de uma só vez. Um teve morte imediata enquanto o outro estava quebrado pela coluna vertebral. A minha mãe chamou o veterinário para o abater. Quando o veterinário se aproximou do local onde ele estava, a cadela que estava ali a guardar a sua cria ameaçou o veterinário com os dentes arreganhados e uma meia dúzia de intimidantes rosnadelas. Ele que tem medo de cães deu uma corrida após aplicar a injecção letal na cria.

Quando a minha mãe os chamava para comer reparava com grande admiração que a cadela deixava primeiro comer as crias e depois comia ela em último lugar.

Foi este o animal que foi assassinado barbaramente por algumas pessoas que deviam ter vergonha na cara porque nem metade do respeito que merecia esta cadela merecem. Eles sim são uns verdadeiros cães, daqueles mesmo ferozes e nojentos. Disse e volto a repetir: deviam ter uma morte dolorosa e torturante, tal como infligem aos animais. Sinto vergonha de viver na mesma aldeia onde habitam pessoas tão nojentas como estas.

Entretanto aqui ficam algumas fotos tiradas à distância dos cães que entretanto ela deixou. São lindos, é pena não se deixarem apanhar. Se o veterinário os levasse, provavelmente arranjaria dono para eles.

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