Thursday, January 27, 2011

Acalmar os nervos

O meu dia não começou mais cedo do que o habitual, apesar de não ir trabalhar. Na verdade levantei-me exactamente à mesma hora e fiz exactamente as mesmas coisas. Apenas saí uns dez minutos mais tarde de casa.

Tinha a ideia de, caso me despachasse, ainda ir trabalhar. A consulta era de Hipovisão e não de Glaucoma. Normalmente essas consultas acabavam cedo. Só que as minhas contas saíram trocadas.

Quando me inscrevi na secretaria ninguém me disse que a consulta afinal era só da parte da tarde. Que me lembre, nunca na vida tive consultas à tarde, por isso nem questionava as horas da consulta deste dia.

Já estava comodamente sentada nos bancos junto ao consultório quando uma funcionária me informou que só a partir das duas da tarde seria consultada. Sugeriu que eu fosse dar uma volta e viesse. Dar uma volta? Mas estava fora de mão para ir trabalhar ou algo do género. Depois sairia ao meio dia? Resolvi ficar ali mesmo onde estava a ler o meu livro.

Era uma hora quando resolvi comer alguma coisa. Lembrava-me que ao pé da paragem havia um pequeno quiosque mas agora já não existe. Lembrei-me de ir tirar um pacote de batatas fritas de uma das máquinas da entrada. Houve uma senhora que me ajudou. Ela introduziu um euro dos meus na máquina e ela pura e simplesmente engoliu-me o dinheiro sem me dar o produto. E agora?

Uma das funcionarias da secretaria disse que há dias que a máquina engolia dinheiro dos funcionários. Ela levou-me a um pequeno bar dentro das consultas que eu não conhecia, pagou um euro da minha despesa com o seu dinheiro e eu coloquei o que restava. Quando viessem reparar a máquina ela ficaria com a moeda em falta.

Comendo batatas fritas, sentei-me na sala de espera a ver as notícias. O tema dominante era o assassinato de Carlos Castro. As opiniões dos presentes na sala divergiam bastante. Havia quem condenasse Renato Seabra e quem o desculpabilizasse dos sues actos.

Mal o relógio marcava as duas horas, a médica chamou-me para a consulta. Ela conseguiu enervar-me de tal forma que fiquei completamente transtornada. Queria que eu andasse na rua de bengala, que usasse os óculos- isso ela diz sempre a mim e à minha irmã mas os óculos no nosso caso não dão grande resultado a não ser para ler. Depois insistiu em me marcar uma consulta de Fisiatria.

Na minha cabeça comecei a cismar que talvez ela notasse que eu estaria a perder a visão. Foi por isso que me enervei. Ainda lhe perguntei mas ela negou.

Foi num estado de espírito deplorável que apanhei o primeiro autocarro que me apareceu. Pouco me importei com o facto de o autocarro ir dar uma volta enorme. Melhor assim. Era para ver se eu me acalmava um pouco. Há anos que não fazia isso. Lembro-me que era usual fazer isso há uns cinco ou seis anos atrás sempre que as coisas não corriam bem nas consultas. Era andar de autocarro até mais não poder e ir para a Baixa para aquelas ruelas onde os carros não passam.

Não satisfeita ainda apanhei um sete que também iria demorar até chegar ao Dolce Vita. Iria vaguear um pouco por ali. Já que ali estava tive a ideia de ir ver computadores. Precisava de comprar um e foi o que fiz.

Ainda o deixei ficar na loja. Passei por um restaurante que costumo frequentar para comer algo antes de regressar a casa. Com tudo isto acabei por estar em casa praticamente à hora que chegaria se acaso fosse trabalhar.

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