Monday, June 18, 2007

Os verdadeiros tesourinhos deprimentes


Não havia nada para fazer em mais uma noite de domingo. Para cúmulo debatia-se o Aborto, ou melhor a IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) que é a forma politicamente correcta de designar aquilo a que (aqui na minha santa terrinha) popularmente chamam “desmancho”, “botadela de barriga” ou mais eufemisticamente “maneira mais rápida de criar um filho”.

Chamem o que chamarem ao acto de matar um Ser Humano em gestação, isso já me chateia e eu tento fugir para longe cada vez que esse circo nos é servido nos media.

Refugiei-me na escuridão do meu quarto, onde nada havia para fazer, enquanto esperava que aquele falatório acabasse e começasse o “Gato Fedorento”. O meu rádio não lê CD’s por estar com um problema. Foi então que decidi sacudir o pó a algumas cassetes áudio que tinha na estante e que continham coisas variadas. Era uma espécie de recordações de anos idos em que eu comentava algumas coisas e inventava histórias engraçadas das quais me ria profundamente. Hoje não entendo nada daquelas conversas da treta. Com os anos perderam o contexto e os protagonistas foram apagados da minha memória e substituídos por outros.

Ali estavam os instrumentais e separadores usados nesses projectos de programas cómicos que só tinham piada para mim. Desde Junho de 1995 e até Janeiro de 2000 fazia dessas gravações em que lia “Os Maias” em homenagem à minha professora de Português (criatura por quem eu não morria de amores).

Um velho tema de Leandro & Leonardo estava entre as minhas piadas acerca de um episódio passado anos antes e que conduziu à detenção do Presidente do Marselha Bernard Tapie. Esse episódio veio à baila por causa de um jogador russo que alinhava no Alverca à data da gravação. Jogou contra o Marselha naquele jogo em que Tapie ordenou que se desse um chá com efeito tranquilizante aos jogadores do CSKA de Moscovo.

Tirei outra cassete à sorte. Esta continha um debate feito entre os alunos da nossa turma sobre a co-incineração. Um assunto mais sério. Outra ainda continha uma gravação completa de 6 de Julho de 1997. Uma gravação em que eu mostrei os meus horríveis dotes musicais ao tocar uma flauta daquelas que se levam para as aulas de Educação Musical no Preparatório. Parece que a tinha encontrado e resolvi tirar-lhe o pó de dentro.

Outra cassete ainda continha, apenas e só, alguns temas musicais para um pequeno filme que fiz para o Atelier de Televisão. Tinha vários temas. Um deles era uma excelente música da espanhola Rosana intitulada “Contigo”. Não foi usada nesse filme mas é uma das minhas favoritas. Convém referir que quando entreguei o trabalho final ao professor troquei as cassetes vídeo e entreguei-lhe o filme sem músicas. Foi pena porque ele estava um espectáculo. Lembro-me que começava com o tema “Everyday I Love You” dos Boyzone e terminava com um tema do alemão Sasha cujo título não me recordo. Tinha ainda o tema da Fafá de Belém “Entre A Luz E A Escuridão” e um outro tema mais ritmado que eu não sei quem canta e que se chama “My Heart Goes Boom”. Este último tema era a banda sonora de uma cena já gravada ao anoitecer ao pé do Pingo Doce, naquela rua. Eu percorria a rua entre as luzes dos carros que já estavam acesas e ia colocar uma carta (que na vida real não passava de apontamentos) ao marco do correio que lá existe. Estava demais o filme que foi completamente idealizado e protagonizado por mim. Apenas contou com a ajuda de uma colega e do técnico de montagem da escola. Um dia ainda o passo para formato digital. Adoro aquilo!

Eu não sei ao certo quantas cassetes áudio tenho. Apenas passei algumas. O debate sobre o aborto terminava e o “Gato Fedorento” ia começar. Se eles vissem ou ouvissem os “Tesourinhos Deprimentes” que eu para aqui tenho...

Terminado o “Gato Fedorento” tratei de arranjar as coisas para rumar a Coimbra no dia seguinte. E se os meus “Tesourinhos Deprimentes” estão em cima de uma estante e não dentro de uma arca como os deles, esperem que ainda não viram nada. Nem eu!

Foi também de dentro de uma arca- de onde julgava que nada de extraordinário pudesse sair, para além de confortáveis camisolas de lã- que saíram aquilo a que eu chamo, não “Tesourinhos Deprimentes”, mas sim “Tesourinhos Lamentáveis”. Revolvi o fundo da minha arca da roupa e retirei de lá uma camisola branca. Qual não foi o meu espanto ao verificar que a camisola só tinha uma manga e vinha cheia de lã de outras cores! A outra manga estava feita em pedaços à conta dos dentes pequenos, mas destrutivos, dos ratos. Nem imaginam o quanto eu fiquei nervosa!

Dei um berro pela minha mãe que acordou sobressaltada e assustada a pensar que era outra coisa. Afinal já não era cedo e a minha vontade de ir dormir desapareceu naquele instante. Toda uma arca de camisolas quentes estava danificada.

Retirei tudo de lá de dentro a um ritmo possesso. Estava furiosa e maldizia o criador de tão prejudiciais seres como os ratos.

Como tenho estado desempregada e tenho estado em casa ao longo de dois anos e o ano de 2004 foi passado, em parte, em Miranda do Corvo (para onde não levei muita roupa porque ia comprando alguma e existia lavandaria) e no hospital onde só o pijama era preciso, não remexia no fundo daquela mala. Em casa vestia a roupa do armário que é a que já não serve para sair.

Vivo em pleno campo e os ratos são frequentes ali. Além disso, o meu quarto fica fechado durante a semana e eles fazem o que bem lhes apetece. Se eu lá estivesse todos os dias eles seriam menos ali porque se assustariam com luzes acesas até de madrugada e rádios ligados, nalgumas vezes com o volume bem elevado. Os melhores gatos que tínhamos para caçar morreram e hoje são apenas três que não fazem mais nada senão comer ração e andar à bulha.

O resultado de tudo isto é um monte de camisolas esburacadas atiradas para o chão com alguma mágoa. Como são horríveis os ratos!

Já me deitei bastante tarde por causa dessa brincadeira e tinha de me levantar bastante cedo para ir até Coimbra. Pouco dormi. A cena da roupa roída não me saía da cabeça.

O Céu estava bastante nublado. Ia na camioneta, achei as nuvens tão engraçadas e tirei a foto que acompanha este texto.

Depois de ter saído daquela selva que é o autocarro 29 à segunda-feira de manhã, submeti-me às agruras da chuva gelada que caía na rua sem dó nem piedade das pessoas que foram surpreendidas e não traziam chapéu.

Cheguei à Piscina. Ia para me sentar numa cadeira daquelas que deslizam e ela fugia-me. Ia caindo. Começava bem a semana de trabalho para a minha pessoa! E continuou sob o signo do disparate.

Enganei-me no código de uma escola. À segunda-feira as escolas que têm aulas têm nomes parecidos e que suscitam bastante confusão. Uma coincidência. Também o computador andava demais a registar os cartões. Em vez de ler os códigos de barras, escrevia uns caracteres estranhíssimos. E assim se passou mais uma manhã de segunda-feira.

Na escola havia uma circulação anormal de gente. Haveria certamente algum evento.

O Céu ameaçava desabar sobre quem andava na rua, mas escapei de molha certa.

Ao contrário do que aconteceu da parte da manhã, a tarde decorreu dentro da normalidade. Nada a dizer sobre o assunto.

Foi ainda sob a ameaça de chuva que decorreu o primeiro treino desta semana. Rolei durante meia hora. Os primeiros quinze minutos foram para aquecer e os segundos repartiram-se entre cinco minutos rápidos, cinco de corrida normal e outros cinco de corrida mais rápida. Dez voltas dadas a uma pista de fora.

Não chovia e eu pude concluir o apronto com os já indispensáveis alongamentos. Ao fim de uma hora fui tomar banho.

À porta do Pingo Doce estava um cão. Iria fazer compras? Que tipo de produtos compraria? Alimento para cães?

Quem sabe se o animal não teria mais civismo que certas pessoas que lá estavam à mesma hora e que discutiam e mandavam vir, prejudicando as pessoas que estavam atrás (ver próximo texto sobre esse assunto).

Por falar em discutir. Parece que nas imediações da minha casa havia também uma acesa discussão em que o uso frequente do vernáculo atroava os ares daquela noite fria de Janeiro. Noite em que me sentia completamente exausta e fui dormir mais cedo. O frio era muito também.

Situação do dia:
Mais uma história daquele autocarro em que eu não tenho outro remédio senão apanhá-lo para Celas. A certa altura nem conseguimos mover sequer um braço. Tive o azar de me calhar em sorte como companheiro de viagem um velhote que ia, certamente, para o hospital. O velho nada fez. Eu é que saía primeiro que ele e ele não se conseguia arredar, até porque estava muita gente encostada à porta da frente. Eu também iria sair pela frente. Impossível sair por trás. Com a minha tralha às costas, era impossível mexer-me ali. Ia então a sair, desequilibrei-me, caí para cima do velhote e agarrei-me a ele com toda a força. Vejam lá! Agarrar-me a um velhote aí de uns oitenta anos. Ainda se fosse um homem todo bonzão!C

Bacorada do dia:
“Eu gosto é quando é Alf 4.” (Eu também adorava ver o Alf. O Alf 4 já não vi.)

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