Monday, June 18, 2007

Em Tovim

Depois de ter saído da ACAPO, apanhei o autocarro para ainda ir para a Piscina da parte da manhã.

Assim que entrei, notei qualquer coisa no ar. O ambiente estava pesado dentro da viatura. O condutor falava com a Rapariga da Camisola Azul que parecia ir muito chateada. Fiquei atenta ao que se passava ali.

Ela não disfarçava o seu descontentamento. Tentei saber o que se passava. Parece que o nosso amigo Gregório ia num dos lugares perto dela e estava a ser indelicado para com aquela estudante que se ia matricular. Estava mesmo a ofender a moça. É demais aquela criatura! Só sabe ser indelicado, meter-se com as pessoas quando não deve e quando as pessoas não estão minimamente interessadas em lhe passar cartão.

E a Rapariga da Camisola Azul continuava a mostrar a sua indignação para com o comportamento sempre indevido de mister Gregório- que apanhou aquele autocarro porque sim, porque a sua mulher o chateou em casa e porque tinha de ir não sei onde chatear não sei quem. Não digo que ele tinha de ir fazer não sei o quê porque aquela criatura não faz nada de útil na vida. Só faz disparates atrás uns dos outros. É um ser do mais repugnante que há! Ninguém gosta dele. Nem a sua mulher que só casou com ele para não ficar solteira e porque tinha inveja de todas as suas amigas serem casadas e ela não.

O artista começa o dia a dar uma longa caminhada pela cidade. Bem cedo começa a apoquentar pessoal que vem de directas. Pergunta como correu a noite, se a seguir ainda vão para as aulas e por aí fora.

Depois toma um reforçado pequeno-almoço. Raramente bebe leitinho ou cafezinho com doces e bolachinhas. É logo uma refeição à homem mesmo.

Depois regressa à rua para fazer disparates e armar confusão. Certo dia abriu uma enorme cratera num passeio para ver se alguma gaja boa caía lá dentro. A vítima acabaria por ser uma pobre velhinha que ia a passar, movendo-se com o auxílio de uma canadiana e com extrema dificuldade.

É visto com frequência a entrar sem dizer “bom dia” e sem pedir licença na sala de espera para as consultas das grávidas. É o único homem na sala e a sua presença causa, naturalmente, grandes transtornos às futuras mamãs.

Já tem sabotado autocarros, automóveis ligeiros, motos e até bicicletas (é o que ele faz mais).

Foi ao Futebol um dia destes e, em vez de torcer por alguma das equipas ou de chamar nomes ao árbitro, insultava as pessoas que estavam nas imediações de onde ele estava. Deu-se uma confusão tão grande que foi necessária a presença do corpo de intervenção para sanar aquele burburinho.

Já tem rebentado pneus e depósitos de certas carrinhas de transporte escolar só para raptar a mesma funcionária. Parece que Gregório tem uma paixão assolapada por essa rapariga, de quem se diz que tem uns lindos olhos. Ele também acha e é por isso que não a deixa em paz. Quem não gosta é Dona Belarmina que tem sempre o rolo da massa e a colher de pau atrás da porta para cada vez que ouve dizer que o seu caríssimo marido anda pela rua a assediar as mulheres. Ora isso acontece todos os dias e a toda a hora.

Certo dia Gregório andava “à caça” pela rua. Viu duas estudantes bem produzidas e tratou de entrar em acção. Trancou a perna a uma delas e elas caíram as duas no passeio empedrado e lustroso. Como traziam saias curtíssimas, esfolaram os seus delicados joelhos. Gregório desculpou-se que ia a olhar para o ar e nem as tinha visto. Logo se ofereceu delicadamente para “lhes ir desinfectar as feridas”. As meninas não gostaram, até porque ele metia a mão em partes do corpo que nada tinham a ver com as zonas lesionadas. Quem ia a passar na rua era o seu cunhado (irmão de Belarmina) que logo foi bufar para a irmã o que Gregório tinha feito. Escusado será dizer que houve molho quando ele chegou a casa.

Hoje ele ia no autocarro a fazer a enésima vítima. Pobre Rapariga da Camisola Azul! Gregório continuava a assedia-la com conversas porcas mesmo. Inadequadas mesmo para um transporte público.

O condutor do autocarro disse à moça que, se o indivíduo a continuasse a chatear, que pararia o autocarro mesmo fora da paragem e que o punha na rua. A estudante sempre foi dizendo ao condutor que, por enquanto, ainda não havia necessidade de recorrer a esse método.

Rapidamente o autocarro chegou a Tovim (local de prolongada paragem). A rapariga saiu do autocarro para tomar um pouco de ar. Estava passada com a presença inadequada daquela criatura.

Gregório saiu imediatamente atrás dela e o condutor saiu em auxílio da nossa amiga que estava com medo do que ele pudesse fazer.

Foi nessa altura que um indivíduo, do outro lado da rua, o chamou. Vinha a sair do outro autocarro visivelmente etilizado. A Rapariga da Camisola Azul suspirou aliviada quando o viu atravessar para o outro lado. O condutor entrou novamente no autocarro.

Pouco depois o veículo amarelo e branco seguiu o seu curso sem mais incidentes.

Gregório e o seu amigo ficaram em Tovim observando o autocarro a afastar-se. Ficaram a combinar uma jantarada à base de feijoada para essa mesma noite. Belarmina não podia saber que depois iriam para locais pouco apropriados.

Regressei depois no mesmo autocarro. Reparei que a Rapariga da Camisola Azul ia novamente comigo. Que coincidência! Olhei-a. Ela parecia dormir num sono tranquilo, sem mais ninguém que a apoquentasse.

Eu também peguei no sono durante o tempo que o autocarro esteve parado em Tovim. Gregório e o seu camarada já lá não estavam. Ainda bem!

Reza aqui o meu apontamento que tive uma noite em que, não sei porque motivo, senti medo. Medo de quê? Do escuro? Não sei o que se passou. Não me lembro.

Amanheceu um radiante dia de Sol, mas com algum frio. Prometem que as temperaturas vão descer ainda mais. Como irão ver em textos seguintes, isso vai-se verificar.

Fui mais tarde para a Piscina. Logo se passou o tempo e a hora de ir almoçar chegou. Como referi, adormeci no autocarro e nem dei pela sua longa paragem em Tovim. De facto aquela história contada no início do texto foi uma adaptação minha de uma outra que eu presenciei no autocarro.

Foi uma tarde movimentada e com muito trabalho para mim. Graças a Deus! Havia de ser assim todos os dias!

Mal cheguei à Piscina, atendi um alemão louro, a puxar para o ruivo...muito bonito. Não entendia Português e pouco sabia de Inglês. Demorei a entendê-lo.

Recebi alguns recados para transmitir aos principais responsáveis da Piscina. Houve uma altura em que eu tive de tirar quatro senhas ao mesmo tempo. Era um teste ao meu desempenho. Tinha medo que algo falhasse, mas correu tudo bem. Exibi as quatro senhas como se de um valioso troféu se tratasse. Fiquei feliz por ter conseguido!

Nessa tarde concluí a leitura do livro “A Quarta Aliança” do escritor espanhol Gonzalo Giner. Foi um dos livros que me marcou. O primeiro capítulo desta obra é algo que me inspira a fazer um guião. Seria interessante passar a cena inicial desta obra para cinema ou novela. Aliás toda a obra seria interessante para esse efeito. Eu falo só da parte inicial porque estou a ler e estou a visualizar os passos daquele personagem que se prepara para atear fogo à sua comunidade, mata duas pessoas de forma brutal e depois foge enquanto olha para trás e vê a sua comunidade envolta em chamas. Tudo por causa de um medalhão herdado de um seu antepassado que o trouxe da Terra Santa e que pertenceu a uma descendente directa de Isaac.

O facto de a história alternar entre o passado e os nossos dias também é interessante. Sempre adorei histórias escritas assim. A forma como está escrita empolga. Ajuda aqui a perceber o que está em causa.

Foi o primeiro livro que li sobre Templários. Muitos outros se seguirão. Ainda bem que a revista “Sábado” nos proporciona estes livros para lermos de forma gratuita. De louvar esta atitude.

Ainda voltando ao livro, apenas há que fazer um reparo. Os dias do ano de 2004 não coincidem com os dias em que calharam na realidade. A seguir irão ver que o dia 25 de Janeiro, por exemplo, dia tragicamente marcado pela morte de Feher calhou a um domingo. Portanto o dia 23 de Janeiro não podia ter sido a uma quinta-feira, como o livro relata. Um mal menor numa excelente obra literária.

Comecei a ler o segundo livro desta colecção: “O Códice Secreto” de Lev Grossman.

Quando me dirigia para o treino vi nuvens negras no Céu, apesar de já estar a anoitecer. Alguns pingos de chuva caíram. Estava na recepção o funcionário da ACAPO e eu disse-lhe que estava, e passo a citar-me a mim própria “a chover torrencialmente”.

Afinal consegui treinar normalmente. Estava era bastante frio! O treino consistiu em trinta minutos de corrida com quinze minutos de aquecimento (aquecer era preciso naquela noite bem gelada) e os restantes quinze alternados de três em três minutos entre corrida rápida e corrida normal. A restante meia hora foi dedicada a alongamentos e alguma ginástica.

As minhas mãos estavam geladas e dormentes após a conclusão da corrida. Não acredito que tenha congelado! Foi isso que aconteceu mesmo. Não se podia andar na rua já.

Depois de ter terminado o treino é que constatei que tinha uma lesão num pé. Espero que não seja nada de grave.

Situação do dia:
A tarde na Piscina foi, até à data, a mais movimentada. Também foi a que proporcionou, até agora, o episódio mais divertido que se passou comigo. O Rapaz da Camisola Vermelha (infelizmente não é o original) entregou a chave e saiu apressadamente para a rua. deixando ficar o cartão. Eu então encetei uma furiosa perseguição para lhe devolver o documento. Só o fui apanhar quase junto aos centros comerciais. A missão foi cumprida. Regressei ao meu posto com um sorriso nos lábios pela minha atitude.

Bacorada do dia:
“Apareceu o Windsor ou lá o que é...Não gozem...Preciso que me dê umas aulas de Inglês.” (Não precisa. Para além de demonstrar os seus conhecimentos de Inglês, também sabe um pouco da cultura de Terras de Sua Majestade.)

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