Tuesday, June 12, 2007

Alentejo 2057

Amareleja- 9 de Agosto de 2057.

São cerca de duas da tarde. Naquela paisagem amarelada pela intensa seca que se tem feito sentir não se sente um único ruído. As árvores já murchas de sede abanam as suas folhas secas através de uma brisa abafada que torna o calor ainda mais sufocante.

Nem um ser vivo passa por ali. Apenas as plantas testemunham o intenso inferno em que esta região se transformou, de há uns anos a esta parte, quando os termómetros foram estabelecendo diariamente novos recordes de temperaturas máximas.

Nesse dia, um novo recorde foi estabelecido. O termómetro registava uns incríveis 54.7 graus centígrados. Meu Deus! Onde será que isto vai parar?

O local onde, em tempos, existiu uma antiga fonte está agora transformado num buraco que os meninos desconhecem para que serve. Para eles serve para jogar ás escondidas nos poucos dias em que o calor dá tréguas.

São bem idosos, os habitantes da Amareleja dos anos 50 do século XXI. Os jovens emigraram ou deslocaram-se para oLlitoral á procura de uma vida melhor e, sobretudo, de melhores condições climatéricas.

Há muito que a terra não produz um único grão. Os animais morrem todos os anos de fome e de sede. A água chega do Norte (sobretudo do Douto Litoral) em enormes recipientes e é armazenada em divisões frescas e enormes arcas frigoríficas. Destina-se à Agricultura, á higiene e ao consumo diário de pessoas e animais.

Que dar a comer a bois, cabras e ovelhas? Chegam enormes carregamentos de cereais vindos de outras paragens. Há muito que foi decretado o estado de calamidade na região.

Não muito longe da vila alentejana, arde há seis dias um incêndio como não há memória em Portugal. O vento abafado e o calor sem tréguas alimentam aquele inferno vivo que já tirou a vida a 80 bombeiros e consumiu uma pequena aldeia. Dirige-se agora para outra e ninguém consegue fazer nada. Não existem recursos hídricos nas proximidades.

Dizem que o fogo foi provocado por uma trovoada seca que se abateu sobre a região. Tem sido normal nos últimos tempos este tipo de tempestade que tem uma curta duração, mas que destrói sem dó nem compaixão o que levou anos e trabalho a construir.

Um celeiro desapareceu sem deixar rasto naquele fatídico dia 3 de Agosto de 2057. António Estorninho era o seu proprietário e lá guardava tudo o que era necessário para fazer face à seca. Enormes recipientes com água, milho, trigo e aveia desapareceram num espaço muito curto de tempo.

Nem uma gota de chuva caiu durante o temporal. Apenas um calor abafado e um Céu anormalmente negro com um sol incrivelmente escarlate anunciavam a desgraça.

O Céu deixou de ser azul para as bandas do Alentejo. Ganhou um tom alaranjado. Um tom de fogo infernal.

A vila parece dormir a sesta naquele forno sem fim. As suas casas brancas, com as paredes comidas pela seca, albergam as poucas pessoas que ali resistem ao calor e que se procuram proteger como podem.

Dona Lurdes tenta descansar um pouco. Fazer o quê com quase cinquenta e cinco graus de temperatura? Uma ventoinha a grande velocidade irrompe no silêncio em que mergulhou a sua casa, há anos transformada num braseiro.

O telemóvel toca. É o seu filho que emigrou para a Holanda em 2021. Diz à mãe que os diques da cidade onde vive rebentaram com a força das inundações que há seis dias fustigam o País. Algumas vilas e mesmo cidades estão intransitáveis.

Acontece a mesma coisa na Hungria, Eslováquia, Polónia, Áustria e noutros mais países do Norte e Centro da Europa.

As autoridades austríacas classificaram mesmo esta inundação como sendo a pior de sempre. Não há registo de um fenómeno tão devastador no País. Contabilizam-se já 2100 mortos e milhares de pessoas continuam desaparecidas. Os prejuízos materiais são mais que muitos.

Dona Lurdes ouve estas coisas horrorizada. Se a água mata e destrói noutras paragens, ali a falta dela está a acabar com todos os seres vivos da região. A sua sementeira de trigo morreu de sede e os seus bois morreram desidratados um dia destes em que o calor não se podia aguentar. Que restava a Dona Lurdes?

Com lágrimas nos olhos, discou o número da filha que vivia em Caminha. Foi para lá porque não aguentava as altas temperaturas no Sul. Com voz de desespero implorou para que a filha a deixasse passar unis dias em sua casa, até que a temperatura baixasse,

Idalina, a filha de Dona Lurdes ouvia a mãe emocionada e imediatamente atendeu ao seu pedido. Por ela correria agora mesmo para a Amareleja e resgataria sua mãe das agruras do calor e da seca.

Imediatamente se pôs ao caminho para apanhar a temperatura mais baixa quando percorresse já as estradas do Sul, onde o alcatrão derretido pelo intenso calor dificulta a circulação. Pelas suas contas estaria de noite em pleno Alentejo.

Dona Lurdes enfiou vagarosamente os seus poucos pertences num enorme saco de viagem. Ia chorando por se ver obrigada a fugir da terra onde sempre viveu, devido ao enorme braseiro em que a incúria do Homem a transformou. Ela reflectia e ia pensando no futuro da sua terra, no futuro do Planeta inteiro. Meu Deus! O Homem está-se a destruir a si próprio e aos seus semelhantes.

Enquanto pensava, grossas e quentes lágrimas rolavam do seu rosto e caiam imóveis sobre os lençóis da cama que estava prestes a deixar feita até ao dia em que pudesse regressar. Se é que algum dia pudesse regressar à sua Amareleja do seu Alentejo amado.

Voltemos ao nosso presente. Estamos em Coimbra e é dia 19 de Janeiro de 2007. O termómetro da farmácia do centro comercial terá avariado? Andará passado da tola? Já marca quinze graus e pouco passa das oito da manhã.

O dia está agradável. O Céu até está azul e tudo. Mais uma vez, acordei a rir e não me lembro de quê. Já é a segunda vez esta semana que isto me acontece!

De manhã na Piscina fui a tirar a carteira de um aluno de um cacifo e caíram uma data de chaves com a força. A carteira estava trilhada. Lá tive eu o trabalho suplementar de arrumar todas aquelas chaves no sítio. O resto da manhã decorreu sem incidentes de monta considerável.

Tivemos sorte em Tovim. Mudámos para o autocarro que ia à frente do nosso e que estava prestes a seguir. Isso levou a que eu me despachasse. Era bom que isso acontecesse todos os dias!

Na cantina (que novidade!) voltou a haver um copo partido.

Os autocarros estavam com vontade de contribuir para que eu me despachasse. Depois de não ter demorado em Tovim, o autocarro ainda parou mais à frente de onde estava a paragem. Menos uns metros que eu tinha de andar, logo menos tempo dispendido, logo me despacharia ainda mais.

Cheguei cedo! A tarde iria ser tranquila.

De regresso a casa, outro autocarro fez questão de não parar na paragem. Se calhar porque ela não estava no sítio por causa das obras. Obras essas que eu, sem querer, boicotei. Passei por cima de um passeio acabadinho de arranjar. Os trabalhadores começaram a discutir comigo e eu segui como se nada fosse.

O treino, esse sim, foi repleto de situações rocambolescas. Para começar, esqueci-me dos calções. Apenas vesti as calças de treino sem eles por baixo. Vesti a camisola ao contrário também. Distracção a toda a prova.

Não acendem as luzes todas daqueles corredores. Umas raparigas que passavam ao mesmo tempo que eu pelo corredor escuro assustaram-se com a minha presença. Mas sou assim tão horrível?!!

O treino começou com quatro voltas de aquecimento concluídas em 11.52.10 minutos. Depois de alguns alongamentos fiz três acelerações de um minuto com cinco minutos de intervalo entre elas.

Depois de mais alguns alongamentos e de uma volta de descompressão, dei por terminado um apronto que durou uma hora e dez minutos, mais o tempo que andei á procura do cronómetro que ficou em cima do banco.

À saída avistei duas ambulâncias junto à Igreja de S. José. O que terá acontecido? Nem fiquei ali especada. Fui directamente para casa. Estava á porta mais um fim-de-semana.

Situação do dia:
Já tinha almoçado e preparava-me para arrumar o tabuleiro no carrinho. A certa altura senti o tabuleiro deslizar das minhas mãos. Era a empregada que o puxava pelo outro lado. Mais um valente susto!

Bacorada do dia.
Antes de antigamente era um ano…” (Alguém percebeu esta frase?!!!)

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