Sunday, March 04, 2007

Pintainhos amarelinhos aos saltinhos, tão encharcadinhos

Eu mal via a hora de me dirigir ao Estádio Cidade de Coimbra para ser voluntária em mais um evento desportivo e (ainda mais curioso) num evento em que participam kazaques. Aliás, era esse último aspecto que me provocava um certo friozinho ansioso. Estava em pulgas!

Na véspera andaram a ligar para uma série de sítios a notificar-me para comparecer no local da realização do jogo. Como o meu telemóvel era aquele tijolo que se sabia…quando liguei o aparelhómetro à electricidade vi todas aquelas mensagens e transbordei de alegria. Voltar a ver kazaques (mesmo que não fosse aquele que eu queria) causava-me uma sensação estranha.

Até à hora do jogo tentei abstrair-me de tudo o que poderia encontrar. Não era uma tarefa fácil. Uma carrinha de uma empresa com as cores do Kazaquistão (azul e amarela) fez-me pensar que aquilo era o modesto autocarro deles. Estava a ver mal.

As condições climatéricas tornaram-se adversas. Lembrei-me dos dias em que decorreu o Mundial de Ginástica Acrobática em que os dias de chuva, trovoada e vento dominaram. Divertida, pensei que aquilo era obra e engenho dos kazaques, não me perguntem porquê.

Com a chuva a ameaçar estragar a noite, passei por casa antes de ir para o Estádio. O vento prometia destruir os guarda-chuvas e eu trazia um que me emprestaram. Fui comer qualquer coisa e trocar o guarda-chuva. Trazia uma camisola vermelha. Foi uma coincidência enorme!

Concentrámo-nos todos junto à porta VIP, tal como estava combinado. Poucos minutos depois, o “exército verde” já estava nos andares de cima a postos para a sua missão. Foram-nos entregues umas t-shirts verdes. A minha camisola de baixo era vermelha, como atrás referi. Sem querer já estava com as cores nacionais.

Antes ainda de sermos distribuídos pelos lugares onde iríamos ficar, foi tempo de reencontrar velhos conhecidos e de partilhar histórias de outras missões e já que se falava em kazaques…

Fomos divididos em pares e distribuídos pelas bancadas. O objectivo era ficar uma pessoa que já tinha participado em formação do Euro 2004 e uma pessoa que ali estava pela primeira vez. Fiquei com uma jovem que fazia a sua estreia e, para minha surpresa, dirigimo-nos a um dos sectores das bancadas. E agora?!! Eu pensava que ia prestar auxílio na parte da Comunicação Social. Nas bancadas não tinha experiência nenhuma. A minha companheira também não. Ia ser lindo! A sorte é que só tínhamos de lidar com portugueses. Kazaques só no relvado.

Não dava para ir para outro lado e senti um certo temor. A confusão e o receio de não ser capaz de desempenhar as minhas funções intimidavam-me. Previa-se a maior enchente de sempre no Estádio Cidade de Coimbra e a luta por lugares abrigados da chuva seria um problema para o qual nos alertaram.

Ainda faltava algum tempo para que o jogo se iniciasse. A música na instalação sonora era variada e fazia com que o tempo passasse ainda mais depressa. Pouco a pouco, o azul e amarelo das cadeiras (que estavam a favor dos visitantes) foi sendo substituído pelo verde e vermelho das bandeiras e cachecóis dos portugueses.

À medida que iam chegando os espectadores, fui tendo uma ideia para localizar as cadeiras onde as pessoas se sentariam. Para quem não sabe, os números em Braille escrevem-se com um símbolo específico a preceder as letras. Foi assim que localizei as cadeiras. Era o mesmo método. Bastava raciocinar e ligar o número à letra. Ficou resolvido o meu problema. A partir daí, tudo começou a correr bem.

Melhores ficaram as coisas quando a selecção do Kazaquistão entrou no relvado para os exercícios de aquecimento. Já não sei qual era a música que tocava, mas tenho ideia que era um qualquer tema brasileiro. Incrivelmente eles também começaram a dançar todos em conjunto e agarrados uns aos outros. Se a minha colega se mostrava surpreendida, eu sabia que eles eram assim. Estava era longe de imaginar que eles pudessem dançar durante o aquecimento.

Foi a histeria total quando a Selecção de Todos Nós pisou o relvado para aquecer. A música foi ofuscada pelos aplausos das pessoas que quase enchiam o Estádio, apesar de ainda haver muita gente para entrar. Nós continuávamos a encaminhar quem tinha mais dificuldade em encontrar o seu lugar.

Já com as equipas no balneário a prepararem-se para o desafio, passou uma música altamente dançável. Fiquei com pena de os kazaques já ali não estarem. O espectáculo ia ser bonito. A dança era talvez a única forma de os elementos do Kazaquistão darem espectáculo e arrancarem aplausos. O Hino Nacional foi entoado de forma arrepiante. O jogo ia começar.

Ficar nas bancadas até foi bom. Se tivesse ficado lá em baixo não assistia àquela cena e não teria oportunidade de ver o jogo, como aconteceu. Eu não estava a contar de ver o jpartida. A preocupação era com a instalação do público. Depois veríamos o encontro de forma tranquila.


Os “amarelinhos” eram inofensivos e Cristiano Ronaldo causava sensação de cada vez que a bola lhe chegava aos pés. Simão voltou a marcar aos desgraçados dos kazaques, depois de ter já marcado um golo num jogo particular contra o mesmo adversário realizado há uns anos atrás. Se bem me recordo, esse jogo foi em Chaves.

A equipa visitante quase nunca causava perigo. Um minuto com a bola em seu poder e já se viam bocejos nas bancadas. Cristiano Ronaldo era o despertador que soava alegremente para o público saltar das cadeiras.

A equipa kazaque, que vestia de amarelo, assemelhava-se a uma ninhada de inofensivos pintainhos que se deslocavam na relva à procura da protecção materna. Não sei o que é que eles me lembravam assim. Era engraçado!

Começou a chover e eu estava a observar o aquecimento de três jogadores que se exercitavam de uma forma original. Nunca vi nenhum jogador aquecer assim. Eram verdadeiros números circenses que eles faziam com a bola. Equilibravam-na em todo o lado, menos nos pés. Assim era aquele estranho aquecimento que a chuva interrompeu. E eu que me estava a divertir! É que eles foram para o banco. Até parece que naquela terra não chove! Da maneira que eles correram…

O jogo terminou com a vitória fácil de Portugal por 3-0. Simão marcou dois golos e Cristiano Ronaldo marcou o restante. Quanto ao Kazaquistão, foi macio demais para os nossos jogadores, A dançar e a fazer malabarismos podem ser superiores, mas a jogar Futebol... O treinador holandês Arno Pijpers tem um árduo trabalho pela frente.

Uma coisa é certa. Com eles por perto só há alegria e diversão. Dançam, fazem malabarismos e contagiam quem os vê…menos a jogar Futebol.

Quando toda a gente saiu de forma ordeira do lugar de onde assistiu à vitória portuguesa, voltámos novamente a reunirmos no andar de cima. Deram-me os parabéns porque soube dar a volta a um problema no meio daquela confusão toda e saí-me bem.

A chuva marcou presença no meu regresso a casa. Ia satisfeita. Tudo tinha corrido bem. Nada de anormal se passou. Digo isto por causa de um sonho que tive com um jogo da Selecção. Aquele do guarda-redes que comeu demais. E a comida era rancho naquele dia na cantina.

Aquele dia iria sempre ser marcado pelo jogo e pela ansiedade que isso me provocava. O tempo estava nublado mas ainda não chovia. Nada fazia prever que tudo fosse diferente à medida que ao dia avançava.

O autocarro chegou atrasado, como sempre. Começo já a ficar farta dos atrasos dos autocarros. E logo quando eu tenho mais pressa ainda se atrasam mais.

A chuva e o vento fizeram-se sentir com uma intensidade impressionante. E lá se ia o jogo! Por mais que nos protegêssemos, acabaríamos por apanhar uma molha monumental. Desprevenida, tive de pedir um guarda-chuva emprestado. O pior era o vento que ameaçava desfazê-lo. Na paragem do autocarro, um colega meu (também com um guarda-chuva emprestado) via-se e desejava-se para o segurar.

E assim se passou um dia aguardado com grande expectativa e que fez despertar em mim sentimentos e recordações não muito distantes.

Situação do dia:
Ia tão bem pelo passeio fora quando pisei daquelas coisas indesejáveis e mal cheirosas- dejectos de cão. Para seguir a sabedoria popular que diz que esse tipo de coisas traz dinheiro, fui jogar logo no Euromilhões.

Bacorada do dia:
“Vou fazer um auto-retrato com a cara do Filipe.” (Temos artista!)

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