Tuesday, March 27, 2007

A noite que não deveria ter acontecido

E eis que o Desporto surge na sua mais profunda crueldade, aliado a um destino imutável e sinistro.

E assim acontecem certos episódios lamentáveis em noites negras, tenebrosas, que pura e simplesmente deveriam ter sido saltadas no calendário para que o Destino não as marcasse como datas funestas, inesquecíveis pelas piores razões.

Como em tudo na vida, também o Desporto é feito de sorte, azar, destino, casualidade…sei lá. Como em tudo, também o Desporto vive da tristeza e da alegria, da vida e da morte. Infelizmente falamos em morte quando nos referimos a acontecimentos desportivos. Mas porquê?! Porque é que um local onde se realiza um evento desportivo e onde tudo deveria ser alegre se tem de vestir de luto e chorar a morte de um atleta vergado a um fim que o atraiçoou quando estava, precisamente a celebrar a vida através daquilo que ele mais gostava: a prática desportiva.

Na Bélgica, provavelmente ninguém teria dado conta que aquela noite de 25 de Novembro escureceu triste, mais negra que o habitual. O frio cortava de uma forma arrepiante. Não eram só de frio os arrepios que se faziam sentir. Algo de sinistro iria acontecer.

O velódromo enchia-se de gente. Era naquele palco que iria decorrer mais uma jornada dos “6 Dias de Gent” em Ciclismo de Pista. Aparentemente o clima era de festa, tudo estava normal, mas o Destino manobrava na escuridão daquela noite e conspirava para que a morte fosse a atracção principal daquela jornada desportiva. Com as suas vestes negras e tenebrosas, os seus chifres pontiagudos e o seu odor extenuante, ela apareceria para arrasar com mais uma festa de celebração do Desporto na sua plenitude.

Será impossível fugir da morte? Não haverá qualquer indico, qualquer sinal de alarme que impeça o Ser Humano de ir ao encontro dela? Há pessoas que pressentem que o seu fim está a chegar, mas pouca importância dão a isso. É toda a crueldade da morte a fazer das suas. Se indícios houvessem de que algo trágico iria acontecer naquela noite, o que levaria Isaac Galvez a fazer a sua prova como se nada se iria passar? Como é sedutora a morte! Como é pérfida!

O espanhol Isaac Galvez- conceituado atleta com vários títulos no seu palmarés- preparava-se “normalmente” para mais uma prova de muitas que fez ao longo da sua gloriosa carreira de ciclista. Com ele seguia um outro atleta - o belga Dmitri de Fauw. Entre eles, algures na pista, seguia uma sombra negra e ameaçadora que trabalhava clandestinamente para fazer funcionar toda a sua máquina destruidora da vida humana.

Foi essa criatura horrenda, diabólica, venenosa que juntou aqueles dois atletas na mesma trajectória e provocou a colisão frontal entre ambos. Depois de terem chocado um com o outro, os atletas caíram cada um para seu lado. A sombra mortífera que seguia Isaac destinou para ele um embate violento com o tórax numa das barreiras que protegem a pista, precisamente contra consequências graves das quedas. Maldito Destino!

Também foram as forças obscuras que pairavam sobre o velódromo naquela noite que empurraram todas as equipas de socorro para o local onde se encontrava caído o outro atleta envolvido naquela terrível queda e que pareciam impotentes aos apelos deste para que rapidamente se dirigissem para o ciclista espanhol que se encontrava em estado grave.

Mas nada havia a fazer. Uma grave hemorragia proveniente de qualquer fractura torácica acabou com a vida de Isaac Galvez e encheu de lágrimas e gritos de horror toda a assistência que ali estava para desanuviar de uma semana de trabalho ou, pura e simplesmente, celebrar a paixão que cultiva pelo Ciclismo.

O atleta partiu de forma inglória. Todos os títulos e medalhas que conseguiu na sua grande devoção pelo Desporto não valem a vida que lhe foi arrancada de forma tão abrupta enquanto praticava Ciclismo. A Espanha e todo o mundo do Desporto choram agora a perda de um homem e de um atleta que no velódromo da vida não conseguiu vencer a morte.

Todas as notícias que tirei naquela madrugada deixaram de ser relevantes. Como atleta não me conformo como é que o Desporto pode ser tão cruel ao ponto de ser um dos veículos privilegiados para roubar vidas de forma tão prematura.

Era um domingo de chuva e de Futebol. A Académica deslocou-se ao sempre difícil terreno do Sporting de Braga e perdeu por quatro bolas a duas. Um jogo com seis golos é sempre um espectáculo de louvar. Naturalmente que eu preferia que a Briosa marcasse mais que o adversário. Paciência!

Na outra actualidade, o sanguinário Augusto Pinochet encontra-se à beira da morte. Ele que foi a causa da morte e da desgraça de muita gente. O ex-ditador já passou dos noventa anos. É caso para dizer: vaso ruim nunca quebra.

Situação do dia:
Dois jogadores do Olhanense entraram em campo com o mesmo número. A equipa algarvia tinha dois números 26 em campo.

Bacorada do dia:
“Ele pode morrer quando quiser.” (Como se viu neste texto, não é quando se quer que se morre.)

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