Friday, May 27, 2022

Foi há três anos

 

Parece que foi ontem que percorri pela última vez sem auxílio de bengala branca as ruas que sempre conheci.

 

Num instante, numa fração de segundo, tudo mudou. Tudo o que conhecia deixou de existir e o manto da incerteza e da escuridão envolveu-me.

 

Bastou um instante para a certeza se transformar em incerteza, para a segurança dar lugar à insegurança e para que as cores e formas se transformassem em névoa e escuridão.

 

São três anos de descobertas de uma nova vida que forçosamente teve de ser abraçada quando as trevas me envolveram de repente.

 

Uma vida com uma luz pouco luminosa, com insegurança e incerteza no lugar da confiança. Muito caminho incerto a percorrer. Muitos obstáculos que têm de ser ultrapassados com maior ou menor dificuldade.

 

Três anos que naturalmente não  foram fáceis. Nada é fácil quando apenas a escuridão toma conta da vida. Há que reinventar e afogar a mágoa da perda na medida do possível.

 

Têm sido três longos anos compostos de muitos intermináveis dias, uns mais fáceis de passar do que outros. A partir desse dia, 27 de maio de 2019, um mundo desconhecido iria ser a minha realidade, a luz dos meus olhos constantemente apagada iria ser substituída pela luz intermitente da minha alma. Mais dificuldades me esperavam lá fora porque o mundo é só um e não está preparado para acolher a diferença.

 

Apesar de tudo, tive de me reinventar á minha maneira e coisas que julgava impossíveis foram uma realidade.

 

Fica a tristeza e a mágoa por ter deixado muita coisa para trás e por já não conseguir fazer coisas que eram importantes para mim como correr na rua ou chegar a qualquer lado sem a ajuda de ninguém e sem apanhar transportes públicos.

 

Ver Futebol, especialmente golos bonitos e do meu ídolo também me  é impossível agora. Era algo que muito me agradava.

 

Apesar desta situação que, embora previsível, não deixou de me abalar profundamente, continuei e continuarei a seguir em frente, embora haja dias mais toleráveis que outros.

 

Nada a fazer. Apenas tentar prosseguir neste pedregoso caminho que é a estrada da vida e que eu tenho de percorrer quase ás apalpadelas e com medo do incerto.

 

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