Tuesday, January 08, 2013

Luzinhas por toda a parte

Era ainda noite cerrada quando coloquei os pés na rua em direcção à paragem onde apanharia o autocarro para os Covões. A vontade de ir até lá, como já sabeis, não era muita. Para dizer a verdade, até nem era nenhuma.

Não estava tanto frio como ontem. Menos mau. Naquele local costuma fazer um vento muito desagradável. Lembro – me de uma ocasião em que esperámos um autocarro para Mira ou não sei para onde e apanhámos com uma ventania bem fria. E mais era Verão.

Distinguir os autocarros da cidade de Coimbra dos autocarros que saíam da Rodoviária não era fácil. Estava-me a admirar e até me estava a fazer uma certa confusão ver tanto autocarro com o número dois e com tantas letras. Querem ver que mudaram as linhas dos autocarros e eu não sei de nada? A esta hora não é o catorze ou o vinte e dois que vai para os Covões.

Já ali estava há um bom bocado. O dia já estava a nascer e já dava para distinguir os autocarros melhor. Lá vinha a placa luminosa de um catorze. Não havia dúvidas. Finalmente ia para o quentinho. Já começava a sentir frio.

Sentei-me num banco da frente. Tinha de estar bem atenta. É que o autocarro trazia o dispositivo de informar as paragens desligado, o que era um problema para mim. Já tinha de estar mais atenta a referências. Vinha com uma soneira desgraçada. E se adormecesse?

Por acaso estive bem atenta e saí onde devia sair. Faltavam quatro minutos para as oito horas quando entrei no edifício das consultas externas. Ainda fui tirar uma senha quando vi que já chamavam números. Pensei que não era preciso tirar senha e realmente não era mesmo.

A Senhora Da Bata Laranja indicou-me que não precisava de me inscrever, bastava ir directamente ao bloco da Oftalmologia. Assim fiz. Mostrei o cartão e fui encaminhada para junto da porta habitual das consultas de Glaucoma.

Sentei-me nas cadeiras azuis que estavam quase vazias àquela hora. Somente ali estava uma outra senhora também para fazer campos visuais. Sentei-me ali e já estava a passar pelas brasas quando uma senhora de bata branca abriu uma porta de vidro perto de onde eu estava para ir a correr lá fora tirar o carro porque alguém queria estacionar por ali. Deixou a porta aberta e levei com um vento desagradavelmente frio na cara. Foi para acordar mas logo me deixei amolecer até o técnico dos campos visuais me chamar para fazer o exame.

Bem, agora temos de olhar para uma luzinha vermelha, dantes era um ponto negro. Agora a campainha que temos de tocar já não emite aquele som que faz lembrar uma corneta, emite um bip mais de acordo com as novas tecnologias.

O exame consiste então em ter o olhar fixo no pontinho vermelho sem o desviarmos e carregar na campainha sempre que virmos as luzinhas que vão surgindo. Devido ao meu problema, torna-se extremamente difícil manter o olho fixo em algo sem o mexer. Tentar manter o olho quieto causa um cansaço incrível e já o sentia pesado. Até me parecia que já via luzinhas a mais do que aquelas que estavam a ser colocadas. Até parecia mais do que uma.

Iria despachar-me bem cedo. Se tivesse a sorte de apanhar um autocarro imediatamente, ainda chegaria ao trabalho antes das dez.

Saía eu para a rua quando avistei um autocarro a arrancar. Ora bolas! Logo vi a minha vida a andar para trás. Iria ficar ali longo tempo na paragem à espera que passasse o próximo.

Por acaso vinha lá um catorze, o mesmo que me tinha trazido. Sentei-me por acaso no mesmo lugar e cheguei ao trabalho antes das dez horas, como eu queria.

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