Sunday, January 20, 2013

Diferentes maneiras de não estar

Conforme se pode depreender depois de ler este texto, a noite foi tudo, menos tranquila.

Já não é a primeira vez que o meu subconsciente me vem incomodar com esta temática. A última vez foi há alguns meses atrás, estávamos ainda no Verão.

Primeiro sonhei que era de noite e estava no meu quarto, não sei em qual. Tocava na rádio uma Ária daquelas interpretadas por Pavarotti. Eu acompanhava-a cantando ainda mais alto que o tenor. Na minha companhia estavam Teka e um outro gato- também ele preto e branco- que eu não conhecia. Daí até o sonho se transformar foi um pequeno passo.

Cheguei a casa numa noite de Inverno e vi apenas a Teka em casa juntamente com o tal gato que já a acompanhava há pouco quando eu cantava. A minha mãe, com lágrimas nos olhos, começou por contar que o resto dos animais tinham morrido todos e que Chalana, com um tumor na barriga ao qual tinha sido operado, tinha poucas hipóteses de sobreviver.

Os animais tiveram os seguintes destinos:

ADIE- Foi empurrada na brincadeira pela janela por um rapaz da minha terra, terá caído mal, partido a coluna e morrido instantaneamente.

FEIJOA- terá levado com um objecto de ferro e, desde então, nunca mais foi vista. Algo de mau lhe terá acontecido, visto ela nunca falhar em casa.

LAIKA- Foi simplesmente atropelada na estrada num momento de distracção dos meus pais que a deixaram precipitar-se para a rua.

Imediatamente, olhando para o chão onde estavam a Teka e o outro gato, irrompi num choro incontido. O ambiente era desolador.

O meu pai surgiu vindo da rua, trazendo algo que não consegui identificar. Vinha pelo lado da cozinha em direcção à rua pela porta da sala. Comecei a ouvir barulho de líquido a cair no chão de tijoleira e logo a minha mãe, com voz chorosa e assustada, o repreendeu. O que ele ali levava era o Chalana que tinha acabado de morrer. O tumor ou lá o que era tinha rebentado e deitava líquido e sangue.

Acordei com o coração perto da boca literalmente. Demorei algum tempo a adormecer e, quando isso aconteceu, a temática foi retomada do ponto onde tinha ficado. É um facto interessante: acordamos dos sonhos bons e não os retomamos, acordamos dos pesadelos, podemos estar duas horas acordados e, ao adormecer de novo, o pesadelo é retomado.

A cena desoladora é a mesma. Muitas lagrimas, muitos gritos, muita dor. A minha vizinha irrompe pela porta da sala dizendo para a minha mãe:
- “Dizias que não sabias do teu gato e ele apareceu em minha casa.”

Olhei para o chão. Era a Feijoa que ali vinha, aparentemente sem uma beliscadela. Agarrei-a e ela imediatamente cravou as unhas compridas no meu pescoço, como sempre faz. Acordei com o toque do despertador do telemóvel.


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