Thursday, October 26, 2006

O labirinto da Moita



Deitei-me um pouco mais cedo do que tem sido habitual ultimamente. Ainda ia dar um filme e o “Gato Fedorento” prometia dar a horas impróprias. Estão cada vez pior na RTP. Dão as coisas interessantes a horas que uma pessoa não pode ver e os filmes- muitas vezes de terror- é que dão em horário nobre. Felizmente criou-se o “Provedor dos Telespectadores” e eu tenciono escrever, mostrando a minha indignação por essas e mais coisas que acho que deviam mudar. Por exemplo, acho que nos telejornais deviam colocar alguém a traduzir as citações de pessoas não portuguesas em vez de se recorrer à legendagem. É que as pessoas deficientes visuais e as pessoas que não sabem ler perdem o essencial da notícia.

Planeei levantar-me cedo e ir até Anadia buscar os catálogos de futebol que me faltam. Depois esperaria o autocarro para Coimbra para ir a casa buscar um frasco de gotas. Como no último dia de aulas não levei chave, acabei por as deixar lá ficar.

Não estava a contar com a mudança brusca de tempo que se ia fazer sentir durante a madrugada. Acordei bruscamente ao som da chuva que caía impiedosamente na rua. Lembro-me que estava a sonhar que brincava com o gato Mong. Ele que tinha desaparecido temporariamente!

Com a chuva diluviana que estava, tornou-se impossível sair de casa. Desliguei o despertador e deixei-me ficar na cama. Estou de férias e agora deito-me e levanto-me mais tarde. Além disso, sabe bem estar na cama e ouvir a chuva a cair. Que bom!

Adormecia e acordava e a chuva não dava tréguas. Parecia que cada vez chovia mais. Esses planos de sair de casa talvez influenciaram o conteúdo dos meus sonhos. Eis um sonho que tive nessa manhã de Agosto que mais parecia uma manhã de Dezembro:

Apesar de ter sonhado algumas coisas antes que não me lembro bem do contexto, vou começar o sonho a partir do momento em que eu lhe acho uma sequência- se é que os sonhos têm alguma sequência lógica. Por acaso este não tem nenhuma. A minha mãe mandou-me ir à costureira buscar uma roupa da minha irmã. Começa bem! Eu nunca lá vou. Fui lá há uns anos e espetei uma valente queda porque existe lá um degrau muito enganador e bastante grande. Apanhei um medo terrível de lá ir.

Inicialmente ia à costureira que fica em Vale de Avim, mas aconteceu uma coisa que dificilmente acontecerá na realidade, apesar de não ser impossível de acontecer. Por mais que seja distraída, nunca me irei desleixar a ponto de ir parar alguns quilómetros à frente do meu destino inicial. Estava a anoitecer e eu ia caminhando em direcção à Moita. O trajecto era tal e qual como é realmente. Percorria aquele caminho com ar algo feliz. Até dava a sensação de ir a cantar. As imagens eram vagas e eu percorria o trajecto de forma ligeira. Escurecia cada vez mais e não sentia medo, apesar da pouca visibilidade que existe naquele local. Algo se tinha passado para estar assim tão feliz.

Foi incrível quando eu caí em mim e reparei que já ia quase ao fundo do lugar da Moita. Quem conhece as localidades que estou a referir admirar-se- á como foi enorme a distracção e pensará que enlouqueci ou algo mais. Tudo não passou de um sonho um pouco estranho. Imaginem onde eu ia? Ao pé do chafariz. Fiquei espantada com o meu comportamento e não tive outro remédio senão voltar para trás. Era noite. As luzes iluminavam aquela zona. Como foi possível fazer aquilo? O espanto era grande e ia sorrindo. A noite estava agradável e fazia agora o caminho inverso. Mais uma vez, ia distraída com os meus pensamentos que eram bons. Estava, de facto, em estado de graça.

A certa altura houve alguém que me perguntou pata onde é que eu ia. Assustei-me e estremeci. Era uma idosa que mal dava para distinguir as feições na escuridão. Daí a momentos estava no lugar que esta foto mostra. Apesar de a foto já ter mais de dez anos, este local está na mesma ou quase. Havia a estátua do Poeta Cavador e podemos seguir por aquela estrada. Passei lá a pé no outro dia e parece que tiraram de lá a estátua. Não faço ideia onde a puseram nem porque motivos a removeram dali. Isso também não interessa para esta história.

Centremo-nos no caminho. Na realidade, aquele atalho vai dar mais adiante. Eu conheço bem aquilo. É por ali acima que se estende a famosa Feira da Moita que se realiza a cada dia 25 de cada mês.

Porém, no sonho aquele espaço estava algo modificado. Não tinha mesmo nada a ver com o que é na realidade e isso fez com que eu me admirasse bastante. Nem sei como descrever o que havia ali. A cena já se passava de dia. Parece que era de manhã e o Sol já brilhava intensamente. Encontrava-me às voltas por ali sem saber que rumo tomar. Ouvia grande animação num local. Parece que o objectivo era chegar até lá. Só que havia tantos caminhos, tantas entradas que era fácil uma pessoa se perder. Como era possível estar perdida num local que eu conheço bem? Havia ali uma espécie de átrio comum a muitos prédios. As portas e as entradas eram muitas e de vários tipos. Por mais que andasse, ia sempre dar ao mesmo sítio. Apesar desta adversidade, até me estava a divertir ao mesmo tempo que pensava no que aquele espaço se havia transformado.

Resolvi perguntar a alguém por onde devia seguir. A pessoa indicou-me um dos atalhos. Segui por lá, mas não valeu a pena. Fui dar novamente ao local onde eu estava que parecia ser o centro do labirinto autêntico que era aquele espaço recentemente construído. De facto esse prédio existe na realidade, só que fica uns metros à frente. Não faço ideia nenhuma para que seja. Tenho um dia de perguntar. No sonho as suas paredes brancas e cinzentas com mármores e azulejos eram imponentes.

O barulho e a animação chamavam por mim, mas eu não encontrava a porta que dava para lá. Isso queria eu! Entrar, estar com aquele grupo animado que não conhecia. Continuava a experimentar atalhos, caminhos, seguia pela esquerda, pela direita, ia em frente e ia dar teimosamente ao mesmo sítio. Seria possível?!!

Mais incrível foi o desfecho do sonho. Numa das minhas voltas por aquele local em que fui dar invariavelmente à mesma porta, esta abriu-se. Constatei que afinal era lá dentro que era a festa ou lá o que era aquilo. Dois rapazes vieram à porta sorridentes e com ar de quem se estava a divertir imenso. Um deles era louro e vestia camisola amarela e calças pretas. O outro chamava-se Luís e vestia de ganga. Não os conhecia, mas ficámos ali sem entrarmos a rir não sei de quê.

Eu não sabia que havia Futebol de Praia! Era o “Mundialito”. Este ano não era na Figueira da Foz, era na Praia da Rocha em Portimão. E lá estavam todos os craques portugueses e brasileiros a mostrarem que são os favoritos.

A chuva não dava para mais. O remédio era ficar toda a tarde a escrever uns textos e a ouvir música.

Situação do dia:
Muito vagabundo é tal gato! Estou a falar do Mong. Aquela peste negra! Com o tempo mau como estava, ainda se atreveu a ir para as terras. A minha mãe veio trazê-lo a casa por duas vezes. Andava numa terra a que chamam a Bessada a estorvar quem trabalhava.

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